Malditos! (resenha)

Malditos! é o verdadeiro RPG alternativo brasileiro, indie, underground ou qualquer outra nomenclatura que você pensar. Como adquiri-lo? Somente direto com o seu autor, Camilo Oliveira Prado, que eu espero que após esta resenha tenha que fazer uma nova tiragem por conta das pessoas que passarem a ficar interessadas em comprá-lo. Ele custa apenas R$ 10,00 reais mais o frete (para a cidade onde moro, o custo total saiu por R$ 15,00 reais), e de uma coisa você pode ter a mais absoluta certeza: ele é um trabalho precioso e vale infinitamente mais que o seu preço, praticamente simbólico.

Malditos! vem no formato de um pequeno livreto de capa preta em papel cartão e com 72 páginas em preto & branco. Na primeira tiragem o papel da capa pegava fácil a gordura dos dedos, mas isso foi corrigido na tiragem seguinte. A diagramação é bem feita e os eventuais erros de revisão estão na mesma medida dos melhores produtos de RPG lançados aqui no Brasil. Detalhe: o texto ainda usa as normas gramaticais antigas.

O texto em si é fluido, claro, bem escrito, agradável de ler, e recheado de citações literárias relacionadas ao tema e à proposta do jogo. As ilustrações são retiradas da internet, de copyright livre, feitas ou relacionadas aos artistas do Romantismo, e assim perfeitas para transmitir o clima desejado pelo autor. Não há nenhum grande projeto gráfico: ele é um livro caseiro, autoral, realmente independente, feito praticamente de forma “artesanal”. Mas acabou funcionando de forma minimamente eficiente para o que se propõe.

O jogo em si é positivamente surpreendente. Ele é muito mais do que um jogo de época, do que um jogo de determinado cenário ou até mesmo de um tipo de cenário. E também não é apenas um sistema de jogo para um determinado gênero.

Malditos! é um guia para se jogar aventuras e campanhas trágicas, com personagens sombrios, fadados a morrer, no melhor estilo da literatura do Romantismo do século XIX. Sua principal fonte de inspiração é a obra do poeta romântico Álvares de Azevedo, mas vocês podem usá-lo em qualquer gênero e em qualquer cenário: ele é uma maneira de se jogar RPG. E quando dizemos que os personagens dos jogadores estão fadados a morrer, não é força de expressão, nem a ameaça comum em outros jogos por conta de oponentes poderosos: os personagens vão morrer, em breve, no decorrer ou de preferência no final da aventura/campanha, e é o próprio jogador que vai levá-lo ao fim e descrever a cena da morte de seu personagem. Há uma mecânica de jogo para se chegar a isso quando o personagem é construído.

Obviamente este é um RPG para jogadores maduros, que querem ter uma experiência totalmente diferente de jogo.

O sistema em si é simplório – me lembra a primeira versão em .doc do meu Conspiração do Amanhecer –, pois Malditos! é um RPG focado na interpretação e o sistema é basicamente uma referência. Ainda assim, eu faria algumas pequenas mudanças, especialmente criando uma tabela de referência para dano de armas, em vez de apenas ter o dano fixo de cada personagem independente do que ele estiver usando.

Os personagens dos jogadores, chamados de Boêmios, são construídos com Pontos de Personagem, com os quais são definidos os dois Aspectos e as quinze Perícias. O Taverneiro (Mestre/Narrador no jogo) estabelece com quantos Pontos de Personagem os Boêmios serão construídos, de acordo com aventura que ele irá conduzir. Os Aspectos são QDVA (“Quanto Dano Você Aguenta”, os pontos de vida do personagem) e QDVI (“Quanto Dano Você Inflige”, o dano que o personagem pode fazer). E as quinze Perícias são genéricas, possíveis de cobrir todas as situações imagináveis em qualquer cenário ou ambientação.

Mas o diferencial do jogo são o Galanteio e a Desventura. A Desventura é a maldição do personagem, o limite entre ele e a morte derradeira, que é definido com uma jogada de dados. O Galanteio é o modo de agir do personagem, aquilo que domina a sua existência (Amor Impossível, Banimento, Conhecimento, Devassidão, Usher e Vampirismo) e que o jogador escolhe ao construí-lo. Cada vez que o personagem concretiza o seu Galanteio, ele recebe 1 ponto de Desventura e, quando atinge o seu limite de Desventura, o personagem morre, com a descrição da morte dele feita por seu próprio jogador. Ele também recebe 1 ponto de Desventura quando tem um Desempenho 10 em uma perícia, e cada ponto de Desventura concede (muitos) pontos de experiência extras.

Ou seja, quanto mais você interpreta o seu personagem, quanto melhor você se sai numa sessão de Malditos!, mais perto de morrer o seu personagem estará. A lógica do jogo é simplesmente o oposto dos demais jogos de RPG que vocês conhecem e se o jogador não captou o espírito e a proposta deste RPG, a própria mecânica de jogo irá fazer com ele leve o seu personagem a seu destino final.

Se você quer uma experiência de RPG diferente de tudo que você já jogou, entre em contato com o Camilo Oliveira Prado e garanta o seu exemplar deste excelente jogo!

Onde adquirir o Malditos!: http://camilorpg.wordpress.com/malditos-3/

Notas (de 1 a 6)
Texto:
5
Conteúdo: 4
Arte/layout: 3
Nota Final: 4

 

Por Marcelo Telles
Coordenador do REDERPG

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6 Comments
  1. Parece ser muito interessante, principalmente para players que nao aguentam mais o modo overpower de algums rpgs, e que curtem muito mais uma interpretação; acho até que vou comprar um, pra mim!

  2. Só uma pergunta… como eu faço para entrar em contato com o Camilo Prado? Não vi o contato dele no artigo.

    E sim… espero que ele tenha feito uma nova tiragem, pq vou (com a manutenção da origem da informação) espalhar esta otima resenha.

  3. @Marcelo,

    Eu achei a resenha honesta e bem cuidada. Muito obrigado.

    @ Guzzon,

    Para entrar em contato comigo, basta visitar meu blog http://camilorpg.wordpress.com ou enviar um e-mail para camilorpg@hotmail.com

    Outras informações sobre o Malditos! são encontradas no meu blog, principalmente na página do jogo, http://camilorpg.wordpress.com/malditos-3/

    @ Todos,

    Muito obrigado!

  4. Mil perdões, Guzzon, na pressa de terminar a resenha, esqueci de colocar o link. Acrescentei o link que o Camilo colocou no final da resenha.

    Obrigado, Camilo, e sucesso para você e o Malditos!. :-)

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