Física e HQs (VII)

Francisco Assis, no blog Física Pop, nos leva a analisar Brainiac, um vilão recorrente criado em 1958 por Otto Binder e Al Plastino para os quadrinhos da DC Comics.  Com inúmeras versões (inclusive uma em que é super-herói) e muitas vezes sub-utilizado, seu ponto em comum é o de trazer a tona a discussão da Inteligência Artificial e da convivência entre homem e tecnologia. Uma discussão que é, cada vez mais, atual e relevante.

640 kb de memória não são suficientes para Brainiac!

Enquanto a idéia por traz da maioria dos vilões da “Legião do Mal”  no desenho animado dos “Superamigos” fosse baseada em seres humanos que sofreram algum tipo de acidente terrível em um laboratório, mais comumente envolvendo radiação ou reações químicas (como em uma espécie de vingança ideológica dos roteiristas contra seus antigos professores de ciências), Brainiac partia de uma idéia totalmente diferente e inovadora para a época: tratava-se de um “computador vivo”, uma espécie de organismo cibernético dedicado a exterminar a humanidade.

Como qualquer outro personagem da DC Comics, o vilão teve sua história, papel e origem várias vezes reformulada: de alienígena que veio a Terra em uma missão específica de conquista e destruição, passou a robô  assassino de civilizações, passando por impressões mentais de um falecido cientista do planeta Colu e chegou até mesmo ao papel de vírus tecnológico como ” Brainiac Y2K”. Mas vamos falar aqui da nem-tão-assustadora figura careca, de pele verde e eletrodos na cabeça, vestindo camisas roxas e sunguinha…

Brainiac representava o desconforto inicial da humanidade com os computadores nas décadas de 1940 e 50 – um tempo em que muitas pessoas se preocupavam com o perigo de uma guerra entre máquinas e seres humanos (isso mais de 30 anos antes do filme ” O exterminador do Futuro” ser rodado!). Havia também o receio de que softwares passassem a ser um dia instalados nos cérebros das pessoas, que passariam então a agir como autômatos controlados (uma idéia que até hoje é ainda recorrente na ficção científica).

O medo de uma guerra entre homens e máquinas é bem anterior aos clássicos do cinema de Ficção Científica, como Terminator com Arnold Schwarzenegger

Criado pelos malignos genios do planeta Colu, Brainiac foi projetado para se assemelhar a um humanoide de olhos verdes e pele verde-clara, a semelhança dos habitantes daquele planeta, com os padrões mentais de um cientista local chamado Vril Dox. O objetivo inicial seria utiliza-lo como apoio em sua conquista planetária, mas os vilões foram destruidos por uma revolução local e apenas Brainiac sobreviveu.

Na série televisiva Smallville, Brainiac (o malvado e também Braniac 5, o bonzinho) é interpretado por James Marsters.

Indiferente a qual versão do vilão estejamos nos referindo, uma coisa é certa: Brainiac é essencialmente uma forma de vida baseada em software (uma espécie de Inteligência Artificial). Brainiac é mal. E, claro, Brainiac deseja conquistar nosso planeta… mas vamos dar uma boa olhada na ciência por trás da idéia deste vilão?

Por definição, Inteligência Artificial (I.A.) é a habilidade de um computador de pensar de forma independente. Claro que esse conceito vai esbarrar em como inteligência pode ou não ser definida, mas esta não é a idéia principal a ser explorada aqui, vamos partir do princípio beeeem básico em que todo software se basearia numa rotina de sim-ou-não, verdadeiro-ou-falso, o que daria a Brainiac um comportamento de teste e falseamento de possibilidades antes de tomar uma atitude, buscando prever o comportamento de seus inimigos e se adaptar a mudanças no ambiente em que se encontra: Quando os tiranos de Colu morreram, Brainiac escapou  pelo Cosmo e aterrisou na Terra, onde deu continuidade a sua programação de conquista, aproveitando-se de sua forma humanóide para imitar o comportamento (como a fala, por exemplo) dos seres humanos – o que levanta a pergunta: o quão próximo de um computador é o cérebro de uma pessoa? Seria possível rodar um software usando um cérebro humano como hardware e desenvolver assim uma estratégia de dominação global?

E o principal: como qualquer máquina, Brainiac precisa de uma fonte de energia… como ele se alimenta?

São perguntas inocentes mas que podem tornar divertida a discussão a respeito da fantasia envolvida no desenho animado – não se trata de bancar o chato e apontar o fantástico dizendo ” isso não existe e aquilo ali é impossível”, mas de sentar e falar “ok, o que seria necessário para que aquilo ali pudesse, em teoria, ser verdade?”

Dessa forma, o simples ato de assistir a um desenho animado pode despertar em uma criança em idade escolar a vontade de saber mais a respeito de robôs e computadores, como funcionam, como montá-los, como controlá-los…e se divertir no processo!

Por Francisco de Assis Nascimento Júnior
Publicado anteriormente no blog Física Pop
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Não perca na próxima semana um
novo artigo, e tire sua armadura do
armário: você vai precisar dela!

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