Arquivo REDERPG: Como transformar números em um personagem (parte II)

Como transformar números em um personagem foi um artigo em três partes de Scott Holden-Jones, que Claudio Pozas conseguiu para a REDERPG a autorização da Fiery Dragon para traduzirmos. Confiram a seguir a segunda parte do artigo (1.153 leituras), traduzido pelo Tzimisce e publicado no antigo portal em 10 de setembro de 2003.


 

Claudio Pozas conseguiu para a REDE RPG a autorização da Fiery Dragon para traduzirmos o artigo em três partes de Scott Holden-Jones, “Como transformar números em um personagem”. Leia agora a segunda parte do artigo, traduzido pelo Tzimisce.

Como transformar números em um personagem II

De Dados e Diálogos

Então, seu anão paladino tem Força 14, Destreza 10, Constituição 14, Inteligência 8, Sabedoria 13 e Carisma 13. Agora, devem todos os anões ser simplesmente criados usando Gimli como modelo, e vamos abandonar esta idéia? ( Está foi uma pergunta retórica.)

Para se criar um personagem único e interessante em cima desses números, por onde começamos? Os números acima são bem típicos para um anão paladino, dado que o padrão é 15, 14, 13, 12, 10, 8, mais os modificadores raciais do anão. Como faremos para tornar esse anão paladino em especial diferente? Bem, como vocês podem ter notado na primeira parte deste artigo, eu gosto de aproximar a criação de personagens em jogo assim como eu faria com a construção de um personagem em uma peça de teatro.

Como eu mencionei na Parte I desta série, eu descobri que o melhor lugar para se começar, uma vez que se tenha um conceito básico, background, e personalidade delimitados, seria desenvolvendo algumas frases que o personagem normalmente usa. Na vida real, todos temos “frases de estimação” próprias; nós não as usamos em todas as circunstâncias, obviamente, mas as que falamos ocasionalmente tendem a dizer muito a respeito de nós mesmos. Nessa etapa de criação do personagem, não se preocupe como as estatísticas do personagem podem afetar essas coisas – apenas junte algumas idéias para citações comuns e coloque no papel, não importando o quanto complexas ou simples. Ter alguma idéia do background do personagem ajuda nesse ponto, mas não se preocupe se algumas coisas estiverem ainda vagas.

Aqui esta como nosso personagem-exemplo pode começar a criar forma. Primeiro, sendo um paladino de Clangeddin, Lorde da Batalha, ele é um anão extremamente devoto, mas, não sendo muito esperto, ele é exageradamente dogmático. Ele firmemente acredita em crenças populares acima de objetivos mentais e elevação intelectual, e acha que o lado afiado de seu machado é sempre a resposta para muitos dos problemas da vida – apesar de sua considerável semelhança (para um anão), ele não é um advogado da diplomacia indevida. Vamos então assumir que nosso relativamente calado, pronto para ação, mas conservador anão teria as seguintes expressões comuns:

  • i. “Pelas barbas de Clanggedin! ” (Um bom juramento ou maldição é sempre o melhor lugar para começar, a não ser, claro, que nós consideremos que nosso personagem é sempre controlado e não usa maldição.)
  • ii. “Onde há uma vontade, há um caminho. ” (Não tenha medo de começar com clichês ou provérbios que nós usamos no dia-a-dia. Nós iremos adaptá-los para o personagem no próximo passo desse exercício.)
  • iii. “Você vai, eu vou.” (Tirar citações de filmes e outras fontes pode ser também um ótimo truque; no entanto, você pode querer evitar as onipresentes referências a Star Wars, Monte Python e Simpsons, entre outros. Procure citações pelo menos relativamente obscuras.)
  • iv. “Abençoai-me.” (Simples, mas direta.)

Agora, o próximo passo é dar uma olhada nessas citações e ver se encontramos uma maneira de deixá-las mais personalizadas, devido ao background do personagem. Nesse ponto, pode ser útil ver como os atributos mentais podem influenciar nossas escolhas, mas somente nos mínimos termos – i.e., ele é esperto? Ele é sábio? É carismático? Também devemos ter em mente qualquer característica ou tendências que decidimos estabelecer nos estágios iniciais da criação do personagem. Com esses detalhes em conta, e talvez devido aos atributos mentais de nosso paladino (Int 8, Sab 13, Car 13), vamos ver como podemos alterar as quatro citações básicas acima.

  • i. “Pelas barbas de Clanggedin! ” Este aqui parecer perfeito do jeito que está. Vamos deixá-lo assim.
  • ii. “Onde há uma vontade, há um caminho. ” Na sua essência, essa citação funciona, especialmente se levarmos em conta a queda de nosso personagem pela sabedoria popular. Para torná-la mais apropriada ao cenário e mais distante do vernáculo contemporâneo, nós podemos tentar reordenar a sentença e talvez mudar uma ou duas palavras para dar um novo ângulo à frase. Que tal “Há um caminho quando há uma vontade” ou “Uma vontade forte faz um caminho curto.” Se este ainda não for suficiente, tente pensar em alguma metáfora ou analogia apropriada para o personagem em termos de raça, classes, cenário, etc. – por exemplo, um anão poderia dizer “Vontade sólida, rocha macia” ou um provérbio anão poderia ser “A vontade das eras trás abaixo mesmo as grandes montanhas. ” Tente várias versões diferentes até que você consiga algo que goste, e se isso falhar, simplesmente volte para o passo um e comece com uma nova frase para adaptar.
  • iii. “Você vai, eu vou.” A grande frase do filme Backdraft, está aqui pode servir bem à integridade não-cerebral de um relativamente simples anão paladino. Ela pode ser usada como está, mas nesse caso seria aplicável em apenas algumas poucas situações (mesmo que essa frase em particular seja ambígua o suficiente para ser usada em um grande número de contextos – imagine o ladino do grupo tentando convencer o paladino a deixá-lo ir na frente “checar” o cofre de jóias “com armadilhas”: “Há! Você vai, eu vou.” ). Ainda, se a frase parecer muito limitada em sua utilidade, faça uma pequena mudança ou duas. Por enquanto, simples inversões podem funcionar: “Eu vou, você vai. ” Na verdade, a forma básica da citação (duas simples sentenças paralelas, cada um com um pequeno verbo intransitivo) pode se tornar um modelo qualquer número de situações ou conceitos: “Você move, você morre”; “Eles saem, nós atacamos”; “Você fica, eu vou.” Lembre-se, um anão com Inteligência 8 não vai usar grandes palavras ou jogos de frases. Geralmente, uma vez que você se acostume a habitar a cabeça do seu personagem, essas frases vão começar a sair naturalmente.
  • iv. “Abençoai-me.” Novamente, essa é uma frase elegante em sua simplicidade, e totalmente apropriada para o personagem. Mas talvez você queira complicá-la um pouquinho, já que ela poderia se aplicar a praticamente qualquer personagem — é tão simples que não tem nenhuma “personalidade”. Então vamos personalizá-la. Tente “Khalzad, Pai, abençoai-me” ; ou talvez, “Que as bênçãos de preencham meu ” — por exemplo, “Que as bênçãos de Domni preencham estas mãos,” onde Domni foi um famoso clérigo anão reverenciado por seus grandes poderes de cura. Faça questão se você pegar esse caminho de reservar um pouco de tempo para criar alguns nomes para santos e marcar qual a suas devidas áreas de influência para que você possa usá-los de novo e manter a consistência. A consistência é importante no estabelecimento e manutenção de um personagem.

Você pode ainda desejar ajustar algumas citações nesse ponto, possivelmente com referência a algumas habilidades e perícias do seu personagem. Tudo bem. Apenas lembre-se: nenhum autor senta-se para escrever e pergunta a si mesmo: “Hmm . . . Eu imagino o quanto esse cara pode levantar? Oh, e ele é ágil? Qual a altura que pode saltar? Quantas pessoas ele pode derrubar de uma vez só, eu penso? Talvez eu deveria desenvolver um sistema de números relativos, para quantificar essas coisas . . .“ Força, Destreza e Constituição simplesmente não são coisas terrivelmente importantes para construir um personagem “real”. Isso não quer dizer que atributos físicos podem não ter importância na personalidade ou comportamento do personagem – uma vez que você tenha os aspectos internos mais importantes detalhados, é claro. Por exemplo, uma pessoa que é muito forte ou ágil pode sempre ter se dado bem em esportes e demais atividades físicas, e pode assim ter um certo nível de autoconfiança como resultado. Mas aptidão atlética e autoconfiança são apenas duas pequenas porções do que compõe uma pessoa.

Se há uma coisa importante na vida que nós podemos usar para nos ajudar a criar personagens únicos, é isto: nunca duas pessoas são iguais, e nenhum aspecto do ambiente ou atributo físico ira afetar a percepção de duas pessoas de si mesmos da mesma maneira.

Por Scott Holden-Jones
Tradução: Tzimisce

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