D&D 40 Anos: A História do AD&D

Continuando a série de matérias sobre o D&D, chegou a hora de contar a história do AD&D, esse RPG que fez com que a minha geração se apaixonasse pelo jogo. A 2ª Edição Revisada do AD&D foi publicada pela Editora Abril em 1995 e criou muitos adeptos do RPG no Brasil. Antes da Editora Abril abandonar o RPG, ela ainda lançou Forgotten Realms, As Ruinas de Undermountain, Karameikos, uma revista mensal chamada Dragon Magazine e um kit introdutório chamado First Quest. Nessa mesma época houve uma explosão de lançamentos dos mais variados RPGs. Acho que joguei quase todos, mas como o aniversário é do D&D, vamos nos concentrar nele. Boa leitura!

AD&D: Uma Visão Geral das Diferentes Versões

 

Em 1977, a TSR criou o primeiro elemento de uma estratégia com duas vertentes que iria dividir o jogo D&D por mais de duas décadas:

  1. A linha Dungeons and Dragons
  2. A linha Advanced Dungeons & Dragons

A linha Advanced Dungeons & Dragons foi desenvolvida para criar um sistema de jogo mais robusto e estruturado do que a estrutura meio vaga do jogo original. Embora seja visto por muitos como uma revisão do D&D original, naquela época o AD&D foi declarado como “nem uma expansão, nem uma revisão do jogo antigo, é um novo jogo”. O AD&D não pretendia ser diretamente compatível com D&D e requeria alguma conversão entre os dois conjuntos de regras para jogar. O termo Advanced (avançado) se referia as regras mais complexas e não insinuava “para jogadores experientes”.

(1977-1979) Advanced Dungeons & Dragons 1ª Edição

Os livros de regras do AD&D foram publicados pela primeira vez entre 1977 e 1979. Eles não foram batizados como “1ª Edição” até o lançamento da 2ª Edição no final da década de 1980.

O Advanced Dungeons & Dragons (abreviado como AD&D) foi publicado como um conjunto de três livros de regras, compilados por Gary Gygax, entre 1977 e 1979, com suplementos sendo lançados ao longo dos dez anos seguintes. As regras do AD&D eram apresentadas de maneira mais organizada do que as regras do D&D original e também incorporaram tantas extensões, adições e revisões as regras originais que o tornaram um jogo novo. O termo “Advanced” não implicava um maior nível de habilidade necessária para jogar, nem exatamente um maior ou melhor nível de jogabilidade, apenas que as próprias regras o tornavam um jogo novo e avançado. Em certo sentido, este nome serviu para separá-lo da versão original. Além dos três livros básicos, dentre os suplementos posteriores incluíram-se: Deities & Demigods, Fiend Folio (outro livro de monstros produzidos de maneira semi- autônoma no Reino Unido), Manual of Monsters II e Arcana Unearthed (que pegou grande parte de suas informações adicionais de jogo da revista The Dragon). Estes foram seguidos por uma adição relativamente constante de suplementos mais específicos para cenários de campanha e de regra opcionais.

Algumas das principais diferenças entre as linhas do D&D eram:

  • As regras do jogo foram reorganizadas em três livros de regras de capa dura (Livro do Jogador, Guia do Mestre e Manual dos Monstros) ao invés de uma caixa (com três livros: Men & Magic, Monsters & Treasure e The Underworld & Wilderness Adventures) e uma série de livretos suplementares.
  • Dentre as regras complementares excluídas, incluiu-se a de dano localizado.
  • O sistema de combate baseado em Chainmail foi completamente abandonado.
  • Muitos detalhes sobre as habilidades de classe foram alteradas e esclarecidas.
  • As classes de personagens (Bardo, Ilusionista e Ranger), que só tinham aparecido em artigos de revista foram adicionadas ao jogo.
  • O alinhamento foi dividido em duas polaridades: “ética” sendo leal, neutro ou caótico e “moral” sendo bom, mau ou neutro, por isso havia então nove possibilidades de alinhamento: Leal e Bom, Neutro e Bom, Caótico e Bom, Leal e Neutro, Neutro, Caótico e Neutro, Leal e Mau, Neutro e Mau e Caótico e Mau.
  • As classes de personagens dos suplementos do Original Dungeons & Dragons (Paladino, Ladrão, Assassino, Monge e Druida) foram adicionados às regras básicas.
  • O Homem de Armas foi renomado como Guerreiro.
  • A relação entre raça e classe é alterada. Nos Original Dungeons & Dragons, elfo, anão e hobbit são considerados como classes, mas no Advanced Dungeons & Dragons os jogadores passaram a selecionar as raças e as classes de forma independente.

(1983) Advanced Dungeons & Dragons 1ª Edição – Reimpressão

 

O AD&D teve diversas impressões, após a 10 ª impressão os livros ganharam novas capas. Mas o conteúdo era exatamente o mesmo.

(1989) Advanced Dungeons & Dragons 2ª Edição

Em 1987, uma pequena equipe de desenvolvedores começou a trabalhar na segunda edição do AD&D, dando inicio ao maior trabalho coordenado já realizado pela TSR até então, e que levaria cerca de dois anos para ser concluído.

Em 1989, a segunda edição do Advanced Dungeons & Dragons foi publicada, apresentando novas regras e personagens. Ao final de sua primeira década, o Advanced Dungeons & Dragons havia se expandido por diversos livros de regras, incluindo três manuais de monstros e dois livros que regiam as perícias dos personagens em cenários de regiões selvagens e subterrâneos. Inicialmente, a segunda edição iria consolidar o jogo em três livros essenciais para guiar Mestres e jogadores. Periodicamente, a TSR publicava livros de regras opcionais para classes de personagens e raças para melhorar o jogo.

O sistema de combate foi alterado. O número mínimo necessário para atingir um alvo agora usa uma fórmula matemática em que a CA (classe de armadura) do defensor é subtraída do THAC0 do atacante (para acertar classe de armadura zero) em vez das Tabelas de Matriz de Ataque da 1ª edição. As distâncias passam a ser baseadas em torno da unidade do mundo do jogo (pés) em vez das dos tabuleiros de miniaturas (polegadas). As raças semi-humanas recebem níveis máximos maiores para aumentar o seu tempo de jogabilidade, embora elas ainda fiquem restritas em termos de flexibilidade de classe de personagem. Acertos críticos são apresentados como regras opcionais.

Além disso, o lançamento do AD&D 2ª Edição correspondeu com uma mudança da política da TSR. Foi feito um esforço para remover os aspectos do jogo que atraiam publicidade negativa, principalmente a remoção de qualquer menção a demônios e diabos (embora monstros equivalentes fossem adicionados mais tarde, agora renomeados como tanar’ri e baatezu respectivamente). Afastando-se da ambiguidade moral do AD&D 1ª Edição, o pessoal TSR eliminou classes de personagens e raças, como o assassino e o meio-orc, e salientou o RPG heroico e o jogo de equipe. A idade do público-alvo do jogo também foi reduzida, com a maioria dos produtos da 2ª edição sendo destinados principalmente a adolescentes. A arte e a comercialização da 2ª Edição também foram modificadas para ter maior apelo com jogadores do sexo feminino.

O jogo foi mais uma vez publicado em três livros básicos que incorporaram as expansões e revisões que haviam sido publicados em vários suplementos ao longo da década anterior. No entanto, o Manual dos Monstros foi substituído pelo Monstrous Compendium, um fichário de folhas soltas com todos os monstros recebendo uma página inteira de informações, com a justificativa de que pacotes com novos monstros (geralmente específicos de cenários) poderiam ser comprados e adicionados ao fichário sem a despesa ou a inconveniência de um livro separado. O conceito por trás do fichário de folhas soltas era permitir a atualização do livro. Originalmente isto estava sendo considerado para todos os livros básicos, com base no conceito de que tinha sido usado pela Avalon Hill para o Advanced Squad Leader. Embora tenha sido eventualmente adotado apenas para o Monstrous Compendium, o formato foi abandonado por causa dos problemas de desgaste e na dificuldade de se manter a ordem alfabética quando muitas páginas foram impressas com mais de um monstro. Além do formato, a grande mudança no conteúdo do Monstrous Compendium foi o enorme aumento de poder dos dragões. Isso foi feito para combater a percepção da relativa fraqueza do monstro que dá “nome” ao jogo.

Para ver as principais diferenças com a linha D&D, ver o tópico “(1995) Advanced Dungeons & Dragons 2ª Edição Revisada” abaixo, já que as mesmas diferenças se aplicam.

(1993) Advanced Dungeons & Dragons 2ª Edição – Manual dos Monstros

O Monstrous Compendium e a ideia de um fichário de folhas soltas foram abandonados e substituídos pelo Manual dos Monstros de capa dura em 1993.

 

(1995) Advanced Dungeons & Dragons 2ª Edição Revisada

 

 

Em 1995, os livros básicos foram ligeiramente revisto e uma série de livros chamada Player’s Option foram lançados como “livros básicos opcionais”. Apesar de ainda serem referidos pela TSR (e posteriormente pela Wizards of the Coast) como a 2ª Edição, esta revisão é vista por alguns fãs como uma edição diferente do jogo e é por vezes referida como AD&D 2.5.

Em 1997, a TSR considerou declarar falência, mas foi comprada pela antiga concorrente Wizards of the Coast.

Abaixo segue algumas das principais diferenças para a linha D&D:

  • Os meio-orcs são retirados do Livro do Jogador.
  • As classes de personagens são organizadas em quatro grupos: Homens de Armas (Guerreiro, Paladino e Ranger), Arcanos (Magos e Magos Especialistas), Sacerdotes (Clérigo e Druida) e Ladinos (Ladrão e Bardo).
  • Assassinos e Monges são removidos do jogo como classes de personagens.
  • “Usuários de Magia” são renomeados como “magos”.
  • Ilusionistas são transformados em um subtipo da classe Mago, juntamente com novas classes especializadas nas outras sete escolas de magia (que apareceram pela primeira vez Dragonlance Adventures).
  • Bardos são transformados em uma classe de personagem normal, ao invés do personagem de múltiplas classes da 1ª Edição, embora eles ainda possuam elementos de guerreiros, ladrões e magos.
  • (Nota do Tradutor: no AD&D 1ª Edição, os Bardos começavam o jogo como guerreiros até chegarem ao 5º nível. A qualquer momento depois disso, e antes de chegarem ao 8º nível de guerreiro, eles deviam mudar de classe para ladrão. Novamente, em algum momento entre o 5º e o 9º nível de ladrão, os bardos deviam deixar a classe de ladrão e iniciar os estudos clericais como druidas; mas dessa vez, de fato, eles se tornavam bardos sob a tutela druídica).
  • Rangers mudam drasticamente, tanto tematicamente como mecanicamente, passando de um soldado sobrevivente estilo comando fortemente blindado e caçador de monstros da classe Gigante, para uma classe muito mais orientada a natureza, levemente blindado, empunhando duas armas, um guerreiro da natureza influenciado pelos Druidas.
  • Proficiência são oficialmente tratadas no Livro do Jogador e em muitos suplementos, ao invés de ser um opcional extra.
  • As matrizes de ataque são substituídas por uma fórmula matemática que envolve uma característica de personagem chamada “THAC0” (To Hit Armor Class 0 – Acertar Classe de Armadura 0, em uma tradução literal), e a tabela impressa somente no Guia do Mestre é reproduzida no Livro do Jogador e no Livro do Mestre da 2ª Edição.
  • As referências a “segmentos” (unidades individuais de tempo representando uma fase da iniciativa ou 6 segundos em tempo de jogo [tempo simulado]) são removidas do jogo; em vez disso, as ações recebem um “Modificador de Iniciativa”. “Rodadas de combate” se mantiveram inalteradas, representando um minuto de tempo de jogo, com o “turno” representando dez rodadas (dez minutos). Uma alternativa opcional, onde a “rodada de combate” representa 12-15 segundos de tempo de jogo, é apresentada no livro Player’s Option: Combat & Tactics, o primeiro da então chamada Edição 2.5.
  • Outras mudanças foram feitas no combate, incluindo a função da velocidade da arma, a iniciativa e as regras de surpresa.
  • As magias de Clérigo e Druida foram organizadas em “esferas” temáticas que são semelhantes às escolas de magia do mago introduzidas em Dragonlance Adventures, com o acesso as esferas sendo determinado pela classe do sacerdote e a sua divindade.
  • A descrição dos artefatos (itens mágicos único) foram removidas do Guia do Mestre.
  • Muitas conveniências, incluindo tabelas para geração aleatória de masmorras, foram removidas do Guia do Mestre.
  • Taxas de câmbio para as moedas de baixo valor foram dobrados, agora apenas 100 peças de cobre ou 10 peças de prata equivalem a uma peça de ouro. O peso das moedas mudou de 10/lb, equivalente a 453g, (1ª edição) para 50/lb (2ª edição).
  • Criaturas demoníacas e angelicais (demônios, diabos, devas, solars, etc) foram removidos do jogo, assim como os feitiços que permitiram tais criaturas serem convocadas ou controladas. Mais tarde, essas criaturas foram renomeadas e modificadas no suplemento do Monstrous Compendium para os Planos Exteriores.
  • Personagens psiônicos não foram mais incluídos no Livro do Jogador, embora mais tarde tenham recebido seu próprio suplemento.
  • O nível máximo é padronizado em 20, em vez de ser variável ​​por classe.
  • Resistência mágica é alterada para que um mago acima do 11º nível não mais imponha uma penalidade de 5% por nível de mago acima do 11º ao lançar um feitiço sobre em um alvo relutante.

(2000) Advanced Dungeons and Dragons é retirado do portfolio de produtos

O Advanced Dungeons & Dragons é descontinuado e incorporado à linha Dungeons & Dragons.

O resultado disto é o D&D 3ª Edição.

Link para o artigo original:

http://orkerhulen.dk/ADnD-History1.html

 Traduzido e adaptado por Rafael Silva

 

Share This Post

Leave a Reply