A Era do Marfim – Parte 1

 A paz foi restaurada no Império Esmeralda de Rokugan, mas quanto tempo ela irá durar?

Nas distantes Colônias, a expansão de terra criada nas cinzas de uma nação extinta, as forças da ambição e ganância permanecem muito poderosas, e podem levar mesmo o mais nobre dos samurais para um caminho de perversão.

O reino da Diviníssima Imperatriz sobre o Império Esmeralda não durará para sempre, e apenas um de seus dois filhos – Seiken ou Shibatsu – poderá lhe suceder.

A honra dos Grandes Clãs será forte o suficiente para suprimir as tentações da política imperial quando chegar o momento em que seu herdeiro for declarado, ou a guerra civil é o único futuro possível?

Você é o herói. A escolha é sua!

Foi lançada recentemente a nova expansão do cardgame de Legendsofthe Five Rings, The IvoryEdition (ou A Edição de Marfim). Essa edição irá compor o Kotei 2014, a série de torneios do cardgame que irá definir os rumos da história do Império Esmeralda. Os rumos escolhidos pelos vencedores dos torneiros influenciam os materiais da linha de RPG. Para ambientar os jogadores, foi lançado um conto em três páginas sobre a Era do Marfim. Abaixo segue o primeiro capítulo traduzido.

A Era do Marfim, Parte 1

Por ShawnCarman
Editado por Fred Wan

O jovem Mirumoto nunca tinha estado mais dolorosamente ciente da localização precisa de cada item em sua posse. Ele se questionava sobre cada dobra de sua roupa, cada costura de seu quimono e os mons[1] que os adornavam. Roupas nunca tinha sido sua preocupação, nem mesmo quando ele morava no interior das montanhas geladas que eram o lar do Clã Dragão. Esperava desesperadamente que sua ansiedade não fosse imediatamente óbvia para aqueles ao seu entorno, mas suspeitava que era uma esperança perdida. O sorriso no rosto do outro homem, muito mais velho, que compartilhava seu dever era suficiente para consolidar essa suspeita em um fato inegável. Higaruachou inadequado que desconforto de alguém servisse como divertimento para outra pessoa, e ele ignorou o homem. Ele se reconfortou no fato de suas lâminas estarem perfeitamente posicionadas, como sempre deveriam estar. Havia muitas coisas que MirumotoHigaru ainda não sabia sobre a vida e o mundo, mas uma coisa que ele compreendia muito bem era a arte da espada.

O KitsukiqueHigaruaguardava surgiu a partir da câmara de corte. Ele fez um gesto para que os dois Mirumotoo seguissem, e Higarucomeçou a andar atrás dele, assim como seu colega mais velho andavadiante dele. Os três caminharam dessa forma desde os cômodos no primeiro andar da Mansão do Governador até as ruas daSegunda Cidade, através do Bairro Imperial e, finalmente, até a residência oficial do Clã Dragão.Higaru estava na cidade há alguns meses, e apesar de ser um membro com uma boa posição no Clã Dragão, um guerreiro de uma linhagem impressionante e com muitos grandes antepassados, ele não possuía uma patente alta o suficiente para requerer um quartonaresidência oficial. Ele se acomodou em uma modesta, mas agradável,residência menor há algumas ruas de distância, e ele não queria por nada além disso. Afinal de contas, ele estava acostumado a um estilo de vida ascético, e a Segunda Cidadetendia a ambientes mais extravagantes do que qualquer outra coisa.

Dentro da residência oficial, os três homens seguiram paraum escritório, onde Higaruse posicionou ao lado da porta, imitando os movimentos de seu superior imediato, enquanto o dignitário que ele acompanhou prosseguiu até o centro da sala e aguardou. O dignitário olhou por cima do ombro para Higaru. “Esta é a sua primeira vez aqui”, ele observou. “Eu preciso me preocupar em explicar questões de decoro para você?”

“Não, meu senhor”, respondeu Higaru.

O homem acenou com a cabeça. “Você já serviu dignitários da corte antes, então?”

“Sim, meu senhor”, continuou Higaru.

“Muito bem, então”. Parecia que ele iriacontinuar, mas foi interrompido com a entrada de outro homem na sala, e por mais que tentasse,Higaru não conseguia deixar de olhar. O recém-chegado era alto, mais alto do que o próprio Higaru por, pelo menos, uma cabeça, o que fazia o Kitsuki parecer ainda menor. Sua cabeça estava raspada e tatuagens serpenteavampela maior parte de sua peledescoberta; sua cabeça, braços e as partes superiores do seu peito que eram visíveis pareciam estar tatuados na maneiracaracterística da ordem de monges Togashi. Isto era apropriado, afinal ele eraTogashiNoboru, o líder da ordem Togashi e, como tal, um dos senhores do Clã Dragão.

“Kira-san”, disse Noboru, cumprimentando o dignitário Kitsuki com um aceno de sua mão. “Eu acredito em você tenha notícias do império?”

“O relatório que solicitaste, meu senhor”,Kira respondeu com uma reverência acentuada. “Ele é um pouco extenso. Eu o revisei e posso abordar pontos específicos, se tiveresdúvidas, é claro”. Ele segurava uma série de pergaminhos amarrados com cordão de seda e os colocou na mesa de Noboru.

Noboru levantou um único dedo,e em seguida fez um gesto para Higaru. O estômago de Higaruse revirou com o gesto. “Este não é um dos seus yojimboshabituais”, o daimyoobservou. Ele nem tinha sequer olhado diretamente para Higaru.

“Não, meu senhor”, Kira concordou. “Taimaro está se recuperando da febre verde. Ele não estará disponível por pelo menos mais uma semana”.

“Entendo”, Noboruanuiu com um tom de desinteresse. “Desagradável, a febre verde”. Ele olhou para Kira. “Quais são as notícias do Império?”

“A Imperatriz escolheu um novo conselheiro imperial,”Kira começou. “Um Caranguejo,ao que parece. YasukiMakoto é o seunome, e ela é conhecida por seus inúmeros contatos mercantis com diversos vários clãs, incluindo o nosso.”

“É lamentável ter uma pessoa manchada pelo comércio em tal proximidade com a Imperatriz, mas as escolhas da Diviníssimatêm suas razões.” Ele pensou por um momento. “Você consegueantever se essa nomeação terá algum impacto significativo na posição do Clã Caranguejo aqui na corteda Segunda Cidade?”

Kira balançou a cabeça. “Não, meu senhor, é difícil dizer com certeza. Parece mais seguro afirmar que,no futuro próximo, Makotoestará ocupada se ambientando a sua nova posição na Corte Imperial e firmando as alianças que julgar apropriadas. Se, e quando, ela quiserlançar seu olhar para as Colônias, levará pelo menos um mês, ou talvez dois, para que seus emissários nos alcancem aqui. Eu acredito que não devamosnos preocupar com isso nomomento.”

“Então, tudo o que me preocupa no momento é a posição do Caranguejo na corte do Governador. Esse bufão,Renyu, e seus truques devem ser contidos, se quisermos manter a nossa posição aqui.” A inimizade entre o senhor Togashi e o senhor da família Kuni, outro residente da Segunda Cidade, era bem conhecida, mesmo para quem presta o mínimo de atenção aos acontecimentos da corte. “O que mais eu devo saber?”

Kira pareceu pensar por um momento. “O informação mais relevantedescobertapor parte dos nossos representantes na Corte Imperial é a grande possibilidade de que a Diviníssima Imperatriz envie o Xógum e seus exércitos para as Colônias em um futuro muito próximo.”

Essa afirmação conquistou a atenção deNoboru. “Todo o xogunato?”

“Isso não está claro”, Kira admitiu. “No entanto, a informação que recebi deixa claro que nossos conterrâneosestão absolutamente convencidos de que isso vai acontecer, se é que já não aconteceu.” Ele pareceu tentar se desculpar. “Demora algum tempo para que a correspondência da Cidade imperial chegue até as Colônias, como você bem sabe.”

Noborureclinou, unindo as pontas de seus dedos na sua frente enquanto ele refletia. “A presença do Xógumpodependera balança do poder em todas as Colônias”, disse ele. “Isso pode ser tanto uma oportunidade como uma ameaça.”

Essetipo de conversa parecia deixarKira um pouco desconfortável, o que certamente agradavaHigaru. Ele não acreditava que o Dragão tivesseum lugar na teia de intrigas políticas que permeia a Segunda Cidade, que era a província dos Clãs Garça e Escorpião. “O Clã Unicórnio está tendo uma grande consideração por parte do Governador. O Xógum, no meu entendimento, é o tipo de homem que iria…se importar pouco com as tendências mais excêntricas do governador”. Foi uma resposta extremamente diplomática, condizente com um homem da corte.

“Eu preciso refletir sobre essas notícias”, disse Noboru. “Vamos deixar o restante de seu relatório paraamanhã de manhã, mas deixe os pergaminhos. Eu posso querer revê-los”.

Kira fez uma reverência. “Como quiser, meu senhor.”

Assim queHigarupartiu com os outros membros da comitiva diplomática, ele se deu conta de que estava estranhamente aliviado por estar longe da presença do senhor Togashi. O homem encheu toda a câmara com uma energia que ele não poderia descrever com precisão. Era como se ele estivesse na presença de uma força da natureza, uma tempestade que estava se reunindo, mas ainda não tinha desabado.

Higaru não queria estar presente quando a tempestade desabasse.

*****

A Cidade Imperial, capital do Império Esmeralda

Todo mundo sempre comentou como era impressionantemente belo o nascer do sol na Cidade Imperial, e DaigotsuAtsushi certamente concordava, pelo menos durante os primeiros mesesvivendona cidade. Entretanto, após esse período ele começou a ficar cansado da vista. Nada era interessante ou divertido depois de ser visto pela quinquagésima vez. Em sua opinião, aqueles que discordavam apenas não tinham imaginação. Não que ele fosse manifestar sua opinião, é claro. Isso iria contra o seu propósito na Cidade Imperial.

Seu propósito aqui era assassinato.

Naturalmente, isso não écomo a maioria o chama. Ele geralmente se referiam a ele comoum “enviado diplomático” das colônias, ou às vezes simplesmente como um “Yojimbo”. Ele preferia o primeiro, uma vez que soava muito mais formal e deixava suas funções um pouco abertas à interpretação. No entanto, independentemente do como se referiam a ele, o propósito de Atsushi era servir como um campeão para os membros da família do Susumu,que representavam o Clã Aranha na corte. Uma vez que o Clã Aranha era tão odiado, desafios parecem surgir com bastante frequência. Em quatro meses desde a sua chegada na cidade, Atsushijá havia matado três homens. Ele esperava que essa estação oferecesse mais homens e mais desafios, porque, até agora, aqueles que ele havia matado foram bastante decepcionantes em termos do talento que eles pareciam possuir.

Susumu Takada apareceu no corredor e olhou para ele.“Ah,Atsushi-san”, disse ele com um suspiro. “Eu esperava que eles encontrassem um trabalho mais condizente a um homem com suas… habilidades”.

“Podemos apenas sonhar”, disse Atsushi com um suspiro teatral. “Até o dia em que as fortunas me favorecerem de tal maneira, ficarei preso aqui, matando os imbecis que ousarem ofender seus delicados sentimentos”.

“Sim, porque isso está a uma grande distância da criação de conexõesna corte”, disse Takada.“Ainda assim, os desafios são um modo de vida. Alguns acham um insulto a nossa própria existência, então qualquer coisa que dissermos ou fizermos, certamente darão motivo paraque certos indivíduos nos desafiem. Nós precisamos mantê-lo por perto para resolver essas questões”.

“Se me permite tal ousadia, por favor, tente ofender alguém que tenha um duelista mais talentoso como seu campeão”, disse Atsushi, arrancando umalinha de seu quimono. “Eu me sinto subutilizado matando fracotes chorões como aquele último. Ele era patético”.

“O Clã Boi não é reconhecido por sua habilidade com a espada”, Takada reconheceu. “Mas eu não tenho tempo para essas coisas agora. Nós podemos estar à beira de uma nova crise e eu preciso tomar algumas medidas para garantir que nós não sejamos afetados”.

Atsushi levantou uma sobrancelha. “Alguma coisa interessante, eu espero?”

“Isso depende inteiramente da sua definição de interessante”, disse Takada. “O apoio da Irmandade ao novo Conselheiro Imperial poderia ser o primeiro passo para um novo patamar de aliança entre os monges e o Clã Caranguejo. Tendo em vista que o Caranguejo é o nosso detrator mais inflamado…”.

“O que foi que o emissário do clã disse na última estação?” Interrompeu Atsushi. “Algo como ‘devemos todos ser abatidos como animais e os nossos corpos queimados até só sobrarem cinzas, e em seguida espalhadas no mar’.”

“OsYasuki tendem a trilharo caminho da linguagem criativa”, disse Takada. “Temos sorte por faltar os palavrões. Independentemente disso, se o Caranguejo e a Irmandade ficarem mais próximos, então os laços do nosso clã com a Irmandade estarão definitivamente em perigo.”

Atsushi assentiu.As forças do Clã Aranha dentro do Império eram extremamente limitadas,contando apenas com a pequena família Susumu, a monástica Ordem da Aranha, e talvez uma meia dúzia de pessoas como ele, membros da família Daigotsulivres da Mácula da Terra das Sombras. Com a Ordem da Aranha compreendendo a maior parte de suas fileiras, o relacionamento da Aranha com a Irmandade de Shinseiera extremamente importante. Se os monges estavam por virar as costas para a Aranha, não haveria literalmente ninguém com quem eles poderiam contar em tempos de crise. “Isso… seria desafortunado.”

Takada fingiu surpresa. “Algo que você leva a sério? Certamente o reino mortal deve estar em grande perigo por acontecer esse fenômeno tão terrível.”

“É verdade. Eu certamente deveria tentar relaxar e levar as coisas menos a sério.”Atsushi acenou para Takada.” Você vai, naturalmente,tentar ofender alguém para que eu possa matá-lo? ”

Takada cobriu o rosto com a mão por um momento. “Por favor, só… só não fale mais comigo até chegarmos a corte.”

Atsushi riu, mas conforme solicitado, não disse mais nada.

*****

Ao contrário de suas expectativas, MirumotoHigaru se viu ligado permanentemente à comitiva de KitsukiKira. Seu antecessor, MirumotoTaimaro, não havia se recuperado totalmente de uma febre que tinhao afligido, e acreditava-se que ele havia perdido grande parteda visão do seu olho direito. Não era uma lesão que pudesse encerrar sua carreira, mas era uma que não poderia ser tolerada emumacomitiva de corte. É discutível se, na verdade, isso era uma fraqueza deTaimaroou não, mas o que não é discutível, é que era uma fraqueza percebível, e isso era tudo o que importava nas cortes do Império e suas Colônias.

As semanas que seguiram a nomeação improvisada deHigaruforam angustiantes, para dizer o mínimo. Agora, depois de vários encontros, Higaru sentia que estava quase acostumado à enormidade da presença de TogashiNoboru. Quase. Mesmo agora, enquanto o homem repassava minuciosamenteos detalhes das correspondências com o Império com Kira, o yojimbo não conseguia deixar de se maravilhar com a aura de pura vontade e indistinto desdém que Noboru irradiava. Era como estar perto de uma lareira, onde se podia sentir o calor em sua face. Verdade seja dita, isso faziaHigaruse sentirum pouco desconfortável, mas que era seu dever suportar, e era isso que ele faria. O fato de que isso seria seu dever durante um tempoera algo em que ele não pensava. Um dia de cada vez, como seu sensei havia lhe dito.

Houve um som fraco no cômodo ao lado daquele onde Higaru e seu protegido estavam reunidos com Noboru. Para o samurai, soou como se fosse algum tipo de protesto, dado apenas à meia voz antes de ser pensado melhor, ou talvez tenha parado a força. O som colocouHigaruimediatamente em guarda, e sua mão escorregou para o punho de sua arma enquanto ele se posicionava para ficar mais alerta para a porta.Ele viu seu companheiro yojimbo, o homem mais velho cujo respeito Higaru sentiu que estava finalmente ganhando, responder da mesma forma, e ele também notou um lampejo de atenção do próprio Noboru.

A porta se abriu de repente e com força significativa. No início, parecia que havia subitamente anoitecido fora docômodo, apesar de estarem no meio do dia. Entretanto, após uma fração de segundo, a mente de Higaru reconheceu que o que ele estava vendo era um único homem, uma forma enorme vestida de preto e azul escuro e que cobriu todo o vão da porta. O outro yojimbo soltou um som fraco de tosse e deu um passo hesitante para trás. Apesar de estar tomandopor uma sensação de medo, Higaru ficou chocado e envergonhado com a reação. Ele não iria envergonhar a sua família e seu dever da mesma maneira. Ele sacou a espada e colocou-se entre o homem de preto e seu protegido. “Identifique-se!” ele exigiu com uma força que elenão sabia que tinha.

O homem estava usando uma máscara com chifres, e quando ele se virou para encarar Higaru, o jovem samurai sentiu subitamente como se estivesse olhando para o rosto da própria morte. Se Noboru era como o fogo, esse homem era como o próprio inferno. O desprezo e a violência mal controlada que irradiava dele era tão grande que Higaruprecisou de toda sua força de vontade para não recuar diante do seu rosto. “Saia da minha frente”, o homem ordenou. “Eu não vou falarnovamente.”

Higaru não conseguia falar. Sua voz se foi. Ele reuniu toda a energia que tinha e forçou-se a sacudir a cabeça levemente. Ele não faria isso.

“Kira”, disse Noborucalmamente. “Peça que seu yojimbosaia do caminho e permita o Senhor Kanpeki entrar.”

“Ah… sim”, disse Kira. “Por favor, faça isso Higaru. Obrigado.”

Higaru embainhou suas espadas e respirou fundo.“Como quiser, meu senhor.”

DaigotsuKanpeki, o Senhor do Clã Aranha, entrouaté chegar ao centro do cômodo, observando tudo ao seu redor como se fosse o seu senhor e mestre. “Que filhote corajoso você tem”, ele observou ameaçadoramente. “No entanto, precisa de um pouco mais de treinamento.”

“Eu apreciaria se você não se referisse aos meus vassalos como se não fossem mais do que animais de estimação”, disse Noboru friamente. “Especialmente quando você entrou em um dos meus escritórios pessoais sem permissão. Realmente, Senhor Kanpeki, agir de tal maneira é baixo, mesmo para você.”

“Não é o seu lugar de questionar minhas ações”, disse Kanpeki,com um estridente aumento de voz evidente.“Estou ciente de que você tem algo que gostaria de discutir comigo. Estou prestes a deixar aSegunda Cidade por um período de várias semanas. Estou lhe fazendo uma cortesia ao dar-lhe a oportunidade de falar comigo antes que eu parta. Você gostaria de questionar a minha boa vontade? Porque há outros assuntos que também precisam da minha atenção hoje.”

Apesar da aura de ameaça opressiva que o Campeão da Aranha irradiada,Higaru sentiu um surto de indignação dentro dele. Ele nunca tinha ouvido ninguém falar com um dos senhores do Clã Dragão de tal maneira, e ele estava furioso por isso. No entanto, ele se conteve, não por ter pleno conhecimento de que o Campeão da Aranha poderia esmagá-lo facilmente, mas porque seu protegido tinha lhe dado uma ordem para ficar de lado e ainda não a tinha retirado.

“Uma cortesia, você diz,” Noborurespondeu. Se ele estava de alguma forma inquieto pela presença de Kanpeki, Higaru não conseguia perceber. “É uma escolha estranha de palavras, se assim posso dizer, mas bastante apropriada. Eu realmente tenho um favor para pedir a você, e eu acho que você é o único,tanto no Império como nasColônias, que pode ser capaz de cumpri-lo para mim.” Ele retirou uma pequena caixa de madeira para documentos por baixo da mesa. “Eu me pergunto se você pode olhar para este documento para mim? Eu preciso do conselho de um especialista”.

A expressão de Kanpeki estava indiferente, mas Higaru sentiu algo como hesitação, ou talvez fosse apenas desconfiança, que emanava do senhor da Aranha. “Eu sou muitas coisas, mas estou longe de ser um estudioso.”

“Isto não é uma questão de pesquisas acadêmicas”, explicou Noboru. “Eu preciso do conselho de uma Aranha, e você é o mais poderoso de todo o clã. É uma coisa pequena, e talvez abaixo de você, mas uma vez que o Dragão tem lhe servido comoguias dispostos e aliados mesmo com tudo o que você sofreu ao longo das últimas décadas, certamente este é um pedido menor, não é?”

“Bah”, disse Kanpeki, gesticulando como se enviasse o comentário para longe. “Mostre-me”.

“É claro.”Noborucolocou a caixa sobre a mesa entre os dois homens e abriu o trinco, levantando a tampa de madeira laqueada para revelar o que estava lá dentro. Higaru não conseguia ver do lugar onde estava, mas parecia ser uma página de um pergaminho antigo, com centenas de anos pela sua aparência. “Este é o item em questão.”

Kanpeki inclinou-se para olhar. “O que é isso?”

“Nada de mais”, respondeu Noboru. “Uma página do diário de um homem chamado KitsukiKaagi”.

Kanpekifechou a tampa com uma pancada. “O que você está tramando?”ele exigiu.

“Alguma coisa errada, meu senhor?”, Perguntou Noboru, com um tom inocente. “Você sabe tão bem quanto eu que a Escuridão Traiçoeira foi destruída após a Batalha no Portão do Limbo, não é? Você não tem absolutamente nada com que se preocupar.” Ele parou e colocou um dedo no queixo, pensativo. “A não ser, é claro,que reste algum vestígio de seu poder. Mas se esse fosse o caso, então poderíamos esperar que seus asseclas tivessem permanecido no mundo mortal como fizeram outrora. Os Goju e Ninube, como que eles eram chamados?”

Os olhos de Kanpekise estreitaram perigosamente, e Higaruse viu cuidadosamente deslocando seu peso e equilíbrio nas pontas dos seus pés. Ele teria que se mover incrivelmente rápido se a situação ficasse drástica.

Quando Kanpeki falou, a sua voz de estava estranhamente calculada. “Eu acho que não me importo com suas conjecturas, monge.”

“Nem eu”, respondeu Noboruda mesma forma. “Se, e isto é apenas uma reflexão, é claro, mas se restassemGoju e Ninube, eu me pergunto… a quem eles serviriam? E se a resposta a essa pergunta for, novamente apenas uma reflexão, ‘o Clã Aranha’, então qual responsabilidade o Dragão teria por suas ações, dada a relação entre nossos clãs?”

Houve uma longa pausa. “Um exercício acadêmico interessante”, disse Kanpekifinalmente. “Mas nadaalém disso. Especulações de tal natureza parece um mau uso do tempo para um homem com tantos deveres como você possui, Noboru”.

“Talvez sim, Kanpeki -sama”, disse Noboru com um suspiro. “Eu só me preocupo com que tipo de sombra pode cair em cima de meu clã se tais coisas se provarem verdadeiras, por mais impossível que possam parecer.” Seu olhar era firme, e ele encarou Kanpeki sem vacilar. “Eu peço desculpas, claramente eu desperdicei o seu tempo. Eu espero que você possa me perdoar.”

NovamenteKanpekipermaneceu em silêncio por um momento. Então, finalmente, ele se endireitou até atingir sua altura máxima. “Talvez um dia falaremos sobre isso novamente” foi tudo que ele disse, e então se virou e saiu tão subitamente quanto havia aparecido.

Assim que o Campeão da Aranha foi embora, Higarudeixou escapara respiração que ele nem tinha percebido que estava segurando. Todas as suas forças haviam deixado suas pernas, e isso foi tudo o que ele podia fazer para evitar desabar no cômodo.

“Bem”, disse Noboru, colocando a caixa de madeira novamente debaixo de sua mesa. “Eu acho que tudo correu relativamente bem, considerando tudo.”

Link para o artigo original:

http://www.l5r.com/2014/01/19/age-ivory-part-1/

 Traduzido por Rafael Silva



[1]Mon: são emblemas japoneses usados para decorar e identificar um indivíduo e sua família ou clã.

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2 Comments
  1. Excelente, pena que o rpg não vingou por aqui.

  2. Bom, aqui em Florianópolis ele vingou. Existem vários grupos de L5R na cidade e vários jogadores do cardgame. É um dos meus jogos favoritos.

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