D&D Next: Análise da Ficha do Clérigo do Starter Set (O clérigo-retrô)

Na minha coluna de estreia, procurei não analisar diretamente o primeiro personagem – um guerreiro – na ficha divulgada pela Wizards. A ideia foi estudar o esqueleto da ficha: como estão distribuídos os atributos, modificadores, antecedentes e características da raça/classe do personagem.

Neste artigo, entretanto, vou deixar de lado a estrutura e lidar com o conteúdo. Esquecer embalagem e provar do recheio. Mas não espere aqui alguma tradução literal nem mesmo um texto isento de paixões, preferências e pontos de vista – ou vistas de um ponto – de quem está empolgado com a futura edição e desanimado com a atual, embora assine o D&D Insider e jogue com seus amigos mensalmente. Também não escreve aqui alguém que acompanha pari passu cada tweet do pessoal da Wizards ou de seus managers. Este espaço é de alguém apaixonado pelo RPG e que consome a indústria, sem se viciar nela.

Vamos lá… O D&D Next é um retrô, uma espécie de Festa Ploc: se antes éramos mais jovens e quase sempre tínhamos algumas dúvidas quanto às regras do AD&D e do D&D vermelho (assim como alguns rocks internacionais), hoje a gente tira de letra e se gaba por ter vivido aquele momento, podendo ressignificá-lo e novamente curti-lo.

O clérigo do Starter é o retorno daquele clérigo-raiz, clérigo-arte, clérigo-moleque que andava meio escondido por essas bandas há alguns anos. A 4ª edição transformou o personagem numa espécie de Santa Casa da Misericórdia ambulante, minorando elementos que nunca deveriam ser desvinculados: uma relação mais madura, espiritual e visceral com sua divindade e o ódio santificado diante de mortos-vivos.

Com o retorno das magias (dos cantrips às de nível superior), e a ênfase na Sabedoria, o clérigo de D&D Next ajuda a retomar ótimas possibilidades de narrativa e interpretação. Sempre gostei de personagens que simplesmente não invocasse magias, mas tivesse uma relação intrínseca com elas, que soubesse o motivo de tê-las estudado e escolhido. Aliado a isso, com o destaque dos Traços de Personalidade, Ideais e Defeitos, podemos encontrar bons personagens atrelados aos seus deuses e cientes de suas limitações. Este, aliás, sempre foi o dilema do clérigo: enxergar o mundo através da perspectiva de sua fé, o que não é fácil.

Quando o clérigo surgiu na edição de 1974, ele oscilava entre o guerreiro o mago. Por não haver a figura do paladino, era uma espécie de templário, de soldado devotado, de inquisidor demoníaco (no caso dos malignos).

Foi no cenário de Greyhawk que os clérigos ganharam seu espaço, mais parecidos com os padres lutadores da Idade Média. Lembro-me de uma vez, há muito tempo, ter dito a um jogador que ele poderia se inspirar no Frei Tuck (Robin Hood) para interpretar seu clérigo, desde que não seguisse a vida sedentária e engordativa do religioso.

O clérigo-raiz de Gygax não usava armas cortantes (porque derramava sangue). O clérigo-retrô do Starter ainda escorrega no uso dos machados, mas ao menos ressalta as armas de concussão. Outra bola dentro do novo-velho clérigo é a descrição do afastamento de mortos-vivos: uma evidência ao comportamento deles (se afastar do clérigo).

Mas eu gostei na descrição da evolução do clérigo ao longo dos níveis. No segundo nível, o clérigo dá um salto de qualidade e incorpora habilidades essenciais: canalizar divindade, expulsar mortos-vivos e o novo preservar vida. Aliás, excelente tacada: em vez de privilegiar apenas um jogador, a habilidade distribui a cura com base na origem, os pontos de vida, não no alvo. E no quarto e quinto níveis, as habilidades de magia melhoram gradualmente, junto com os testes de resistência e bônus de proficiência (odeio essa palavra).

Agora, vocês repararam que a evolução de xp no intervalo 1-3º nível é bem rápida? Mas isso é outra história. Até lá, vamos glorificar o novo-velho clérigo.

Autor: Felipe Barreto
Equipe REDERPG

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1 Comment
  1. Vc quis dizer que o clerigo voltou a ser o band-aind, a 4th tinha disvinculado isso e tinha feito isso muito bem, agora o clerigo volta a ser apenas o cara q te cura no grupo.

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