D&D: Salve Meu Jogo: Reconstrução de Personagens

Problema: Variações na Preparação do Jogador

Como lidar com um grupo de personagens bem estabelecidos quando alguns deles foram bem planejados e desenvolvidos e os outros – bem – não foram? A preparação do jogador costuma aparecer no combate e geralmente pode significar a diferença entre a vida e a morte do personagem. O que o Mestre deveria fazer quando três jogadores fizeram seu dever de casa muito bem para ter certeza que seus personagens atinjam os resultados desejados, e o quarto não o fez? – Adaptado da mensagem de Icewraith, do fórum de D&D na página da Wizards of the Coast.

Os resultados da preparação costumam ser óbvios no jogo D&D assim como são na vida real. Como no caso indicado, Eu uma vez adicionei uma grande quantidade de material suplementar – especialmente magias – a uma campanha de AD&D 2ª edição que eu mestrava. Um dos meus jogadores pegou o material e o estudou cuidadosamente e aprendeu exatamente o que esse material poderia fazer por seu personagem. Como resultado, seu clérigo freqüentemente lançava algum tipo novo de magia que o resto do grupo nunca tinha visto, evocando gritos de “Como você fez isso?” dos outros jogadores. Os outros que jogavam com clérigos (ou que tinham seguidores clérigos) não usaram tanto tempo e esforço para explorar o que seus personagens poderiam fazer com o material adicional disponível para eles, então eles não ganharam as vantagens que teriam sido fornecidas.

Do ponto de vista do jogo, a vantagem que um jogador bem preparado ganha é como uma recompensa. É perfeitamente justo que um jogador que gastou tempo estudando deva receber algum benefício com isso. Mas olhando na lógica dentro do jogo, contudo, parece estranho que um personagem seja tão mais eficaz do que outro da mesma classe e nível apenas porque um jogador teve mais tempo para gastar no desenvolvimento do personagem do que outro. Da mesma forma, por quê um seguidor deveria ser menos capaz no que ele fez do que um PdJ só porque o jogador escolheu gastar mais tempo trabalhando em seu próprio personagem?

De maneira geral, estes são os tipos de argumentos que os jogadores costumam ter quando estão infelizes sobre as vantagens que um personagem bem preparado ganha. Alguns podem acusar o Mestre de favoritismo, outros podem clamar que é injusto quando certos personagens se dão bem constantemente. Tais jogadores costumam ser prepotentes ao compartilhar as recompensas igualmente, e muitos apenas não ficam muito felizes de aproveitar os benefícios adquiridos por um jogador melhor preparado.

É verdade que os personagens não são reais e então possuem tanta vida e brilho quanto os jogadores dão a eles. Mais o que o Mestre deve fazer quando, por qualquer motivo, o brilho não é dividido igualmente?

Solução 1: Não tente consertar

Está certo – deixe a situação como está e deixe que tudo aconteça como se deve. Os jogadores são os responsáveis por seus personagens, e se eles não gostam das decisões que tomaram, isto é mau. Eles têm uma gama de escolhas disponíveis quando criam os personagens, e é responsabilidade deles escolher com sabedoria. Você não pode criar ou jogar os personagens no lugar deles, e eles provavelmente não vão querer isto. Então, assegure-se que você está disponível para dar conselhos quando os jogadores precisarem, mas fora isso, deixe seus jogadores desenvolverem um grau de autoconfiança.

Solução 2: Não castigue os jogadores que cometerem erros

Por outro lado, D&D é um jogo, e deveria ser divertido para todos. Se um jogador não esta se divertindo, não o obrigue a jogar com a confusão que ele criou apenas para provar seu ponto de vista. Às vezes é melhor deixá-lo mudar ou até mesmo reconstruir o personagem – talvez com algum aconselhamento mais ativo por sua parte ou de jogadores mais experientes.

Os jogadores que dedicaram tempo e esforço para desenvolver seus personagens de maneira apropriada podem ficar aborrecidos se alguém que não fez seu dever antes tenha a chance de reconstruir ao invés de colher seus resultados justos. Este argumento é válido, uma vez que você está de fato dando um tratamento especial para um jogador despreparado. Mas antes que você caia ante a pressão, analise a situação e tente discernir a fonte verdadeira das objeções do personagem que está reclamando. Talvez ele goste de jogar com um personagem dominador e não aprecie a possibilidade de personagens mais fracos terem uma chance de alcançá-lo. Ou talvez ele simplesmente goste da vantagem que o conhecimento superior das regras dá a ele. Se você encontrar tal situação, lembre a todos jogadores que eles deveriam estar trabalhando juntos para avançar, e não tentando ver quem é o mais forte.

Solução 3: Novas escolhas significam novos arrependimentos

Trazer um novo material no meio de uma campanha pode revitalizar o seu mundo. O jogo se torna mais divertido, surpreendente, e animado porque os PdJs não sabem mais exatamente o que esperar de seus oponentes. Mas quando você utiliza seu mais novo suplemento de regras, é simplesmente natural que seus jogadores queiram alguns novos talentos, classes de prestígio, entre outros. (Afinal de contas, você vai utilizá-los!) Mas o que acontece se o personagem já passou do ponto no qual ele poderia ter ganhado a opção desejada? Você vai realmente dizer ao jogador que o personagem teria que ter escolhido um talento diferente há três níveis atrás para poder pegar a nova habilidade melhor? Você está dentro dos seus direitos se fizer isso – isto é, no fim das contas, o que as regras dizem na verdade. Mas como o jogador poderia ter planejado para esta opção quando ela ainda não existia naquele momento crítico da carreira do personagem? A introdução de novas regras pode ser frustrante para seus jogadores se você não der chance aos PdJs de ter acesso às novas opções que os oponentes terão disponíveis repentinamente.

Ao invés disso, você pode oferecer aos jogadores uma chance de “refazer alguns detalhes” dos personagens ao introduzir novas opções de regras. Esta técnica não apenas permite que todos os jogadores tenham acesso a novas opções, mas também fornece uma oportunidade perfeita para o jogador que não fez um bom trabalho com o desenvolvimento inicial do personagem refazê-lo sem receber um “tratamento especial”.

Solução 4: A experiência é uma professora rude

Às vezes um jogador cria um personagem que parece ótimo no papel, mas se sai muito mal em jogo. O problema não foi realmente um planejamento ruim; o personagem apenas não funcionou tão bem quanto o jogador previu. Ou talvez a campanha apenas tenha tomado uma direção diferente da esperada, e as habilidades de classe, talentos ou conceitos de personagem que pareciam legais e divertidos no início se mostraram inúteis, chatos, ou apenas não se adequaram bem. A comunicação apropriada entre Mestre e jogador pode freqüentemente evitar a última situação, mas alguns problemas se tornam aparentes apenas em jogo. Então, uma boa campanha deveria incluir uma maneira de consertar um personagem (ou de se livrar dele a favor de um novo) quando as escolhas do jogador não funcionarem.

Solução 5: Podemos consertar? Podemos sim!

Você também pode criar alguns consertos específicos para o desenvolvimento fraco de um personagem em sua campanha. O poder psiônico reforma psíquica permite que o usuário “refaça” parcialmente um nível de personagem anterior trocando a distribuição de pontos de perícia, talentos e poderes psiônicos. Poderes psiônicos não são utilizados? Deveria ser relativamente fácil criar uma magia para conjuradores divinos ou arcanos que sirva ao mesmo propósito, e algumas magias existentes devem ser capazes de tornar tal opção disponível. Por exemplo, você poderia permitir que um desejo restrito torne tais mudanças disponíveis, e até mesmo deixar os personagens mudarem suas escolhas de classe anteriores. Pela mesma lógica, um desejo ou milagre deve permitir mudanças até mesmo mais extensivas. Magias como estas não são baratas, mas oferecem uma opção dentro do mecanismo do jogo para a reconstrução do personagem.

Por outro lado, você poderia ser um Mestre super legal e deixar os jogadores recriarem seus personagens sempre que eles sentirem que precisam fazer isso. Mas se você escolher esta opção, sempre pergunte porque ela precisa ser feita. Tais mudanças profundas em personagens existentes não deveriam ser aleatórias ou oportunas. (“Oh, vamos lutar com um dragão? Meu ranger pode mudar de inimigo predileto?”) Dê ao jogador uma chance de criar um argumento sobre por quê a mudança deveria ser permitida, e que explique como as alterações permanecem fieis ao conceito original do personagem.

Resumo

As diferenças nas preparações dos jogadores resultam em variações altamente previsíveis na viabilidade do personagem. Especificamente, os personagens dos jogadores que gastaram um tempo na criação das boas capacidades dos seus personagens têm uma distinta vantagem sobre os personagens daqueles que não o fizeram. Mas tal vantagem é lógica dentro do ambiente do jogo? Porque um clérigo de 3º nível deveria fazer seu trabalho tão melhor do que outro?

Mesmo os jogadores que não gastaram tempo para aprender bem as habilidades de seus personagens podem mudar tal situação. Mas os jogadores que gastaram tempo para construir personagens ótimos desde o início costumam se sair melhor do que os jogadores que não gastaram, e tal mudança podem levar um jogador que não gastou tempo a perder interesse no jogo no fim das contas.

Este tipo de problema pode ser insuperável sem uma oportunidade de reconstrução. Você pode não fornecer opções e deixar tudo como está, mas também pode muito bem perder um jogador se lidar com a situação dessa maneira. Alternativamente, você pode simplesmente deixar que o jogador recrie seu personagem, mas tal “tratamento especial” pode gerar reclamações dos outros jogadores. Introduzir novos materiais de jogo é uma boa oportunidade de deixar todos os jogadores recriarem seus personagens de uma vez sem parecer injusto. Ou você pode criar oportunidades para a reconstrução dentro da lógica da campanha, apresentando maneiras mágicas ou psiônicas de alterar as escolhas passadas. Finalmente, você pode simplesmente permitir que qualquer jogador recrie seu personagem a qualquer momento, ma apenas com um bom motivo e apenas de uma maneira que permaneça fiel ao conceito do personagem.

Sobre o Autor

Jason Nelson-Brown vive em Seattle com sua esposa Kelle, as filhas Meshia e Indigo, o filho Allen, e o cachorro Bear. Ele é um Cristão renovado ativo e compromissado que começou a jogar D&D em 1981 e atualmente mestra uma campanha semanal enquanto joga outras duas alternadamente.

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Salve Meu Jogo (Save My Game) foi uma excelente coluna no site oficial de D&D na época da 3ª Edição que infelizmente não está mais disponível lá. Na época, nós publicamos vários artigos traduzidos dessa coluna e agora trazemos essas traduções de volta no Arquivo REDERPG. “Reconstrução de Personagens” foi publicada no antigo portal em 9 de setembro de 2006 e teve 1.881 leituras. A tradução é de Gilvan Gouvêa.

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