Como fazer sua namorada(o) jogar RPG

Luciana Fortuna mestrando Lenda dos Cinco Anéis RPG no Encontro da REDERPG no Bob's

Já vi muitos jogadores se lamentando que as namoradas não jogam e que não sabem o que fazer para que elas se interessem pelo RPG, porque elas não têm o perfil de jogadoras ou porque não se interessam pelo jogo, têm preconceitos, etc.

Resolvi então escrever a minha experiência de ingresso no hobby, vai que ajuda?

Eu nunca tive o perfil nerd/geek, jogadora de RPG. Eu fui escoteira, gostava de sair pra dançar, comédia romântica, praia, MPB, não leio/falo nada de inglês e ainda por cima tinha raiva do RPG, porque meus amigos “que começavam a jogar esse troço” sumiam da minha convivência, jogavam com pessoas esquisitas, chatas, que só falavam de jogo e dificilmente aceitavam mais alguém no grupinho deles.

O tempo passou, muita coisa aconteceu, até que com 23/24 anos, conheci o Leonardo, ele falou que jogava RPG e eu dei logo um corte, chamando de jogo de retardado, que não queria saber desse troço, etc. Essas coisas delicadas que ouvimos vez ou outra.

Conforme íamos assistindo filmes e ele percebendo do que eu gostava, foi de pouquinho em pouquinho, me falando do cenário de Lenda dos Cinco Anéis RPG (Legend of the Five Rings). Como era cada clã, como surgiram os clãs, as filosofias, as guerras, os combates, não falava nada de mecânica ou de como jogar RPG, não me chamava pra jogar, ele foi me vendendo a história. Um belo dia ele me mostrou o livro, era um exemplar da primeira edição, ele é lindo demais, as ilustrações me compraram mais um pouco.

Enquanto eu seguia encantada com o livro na mão ele deu o bote certeiro: “Você poderia jogar com essa personagem aqui, ela usa duas espadas e pode dar dois ataques enquanto os outros só dão um”. Era um bushi do dragão, um Mirumoto. Aceitei jogar, mas só eu e o irmão dele, porque eu não sabia jogar e não queria ninguém me sacaneando por causa disso.

Assim que eu fiz a ficha eu me apaixonei, era fácil, cheia de opções, tudo tinha uma história e um porquê. Acabei a ficha querendo jogar desesperadamente, foi amor à primeira ficha!

Nas primeiras sessões, era aquele tal de “ela vai falar com a mãe do menino”, “ela vai pegar a espada e atacar” e os dois que eram mais experientes, me incentivando a interpretar minhas ações, entrar na personagem, sempre me colocando pra cima, com muito tato, educação, sem piadas. Se eu deixava de usar alguma habilidade, eles me lembravam e isso também foi muito importante para eu tomar gosto pelo jogo.

Passado um tempo, iniciamos outra campanha, eu já era alucinada pelo jogo e pela minha personagem, mas ainda tinha vergonha de interpretar ainda mais num grupo de 9 jogadores onde só eu era inexperiente, mas me joguei e essa campanha durou 2 anos.

Depois de Lenda dos Cinco Anéis, joguei outros cenários, sistemas, mas ele sempre foi o meu favorito, em tudo, sistema, cenário, história… É um jogo envolvente, com muitas possibilidades, apesar de alguns acharem que são poucas classes, você tem a possibilidade de fazer dois bushis completamente diferentes em habilidades, personalidade, em tudo!

Fiquei uns anos sem jogar até conhecer meu atual marido, eu estava fugindo de nerds e casei com o mais nerd que eu encontrei no final das contas e vivi um pouco o contrário dessa situação. Apesar de ele jogar e muito, nunca tinha jogado L5A e não via um grande atrativo, mas eu, como alucinada que sou, fiquei vendendo a história pra ele, assim como fizeram comigo, até porque o sistema ele já sabia. Até que conseguimos montar uma mesa e ele jogou pela primeira vez e também se apaixonou pelo cenário, quase mais do que eu!

Hoje jogamos em 5 mesas, dessas, 3 são de L5A. Todo mundo ficava me perturbando que eu tinha que mestrar, meu marido vivia me incentivando também, quando a New Order liberou o Quickstart em português, que eu li e me senti segura, mestrei a minha primeira mesa e tomei gosto pela coisa!

Mas o que eu quero com essa história toda? Quero mostrar que é possível sim, desconstruir preconceitos, mitos, estereótipos e conquistar novos jogadores, incluindo aí namoradas. Tem que ter sensibilidade, paciência e tato.

Não dá pra sair despejando mil casos das suas campanhas, tentando despertar o interesse da pessoa por uma coisa que só você viu, eu entendo que talvez como eu, você tenha na sua lista de melhores risadas, muitas ligadas às sessões de RPG, mas segure o ímpeto de usar isso como argumento, use as histórias, cenários para envolver as pessoas e despertar o desejo delas viverem histórias assim também.

Se deu certo comigo, com certeza poderá dar certo com muita gente!

Texto: Luciana Fortuna

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Luciana Fortuna é mãe, “boadrasta”, trabalha, está começando na faculdade, joga RPG, mestra Lenda dos Cinco Anéis e nas horas vagas é casada com Marcelo Telles, nosso Coordenador da REDERPG.

Luciana Fortuna mestrando Lenda dos Cinco Anéis RPG no Encontro da REDERPG no Bob's

Luciana Fortuna mestrando Lenda dos Cinco Anéis RPG no Encontro da REDERPG no Bob’s

 

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