Mecanismos de Jogos Modernos (III) – Jogos de Estratégia

Jogos de Estratégia Modernos

Olá, amigos leitores! Novamente estamos aqui em mais um artigo de nossa série sobre jogos modernos e sua evolução. Nos meus artigos anteriores falei sobre jogos de leião e economia, agora vou abordar um terceiro tipo que se confunde e é até considerado por muitos como jogo de guerra: os jogos de estratégia. Considerados por muitos como uma classe de wargames, foram bastante desenvolvidos pela nova geração de jogos modernos.

Conceitualmente, muitos autores os consideram wargames, e não vamos fugir a esta qualificação, apenas vamos dizer que os wargames clássicos, os chamados hex-and-counter (mapas divididos em hexágonos e peças representando os exércitos/unidades militares), possuem uma mecânica mais simples e voltada para uma situação de batalha em si. Já os de estratégia recebem toda uma roupagem histórica, política e economica. Vamos então falar sobre esses títulos.

Apresentando os Jogos de Estratégia

Outrora o jogo mais conhecido do público gamer brasileiro era o clássico Axis and Allies de 1981. Muitos jogadores de RPG já ouviram falar do mesmo, sendo considerado o avô de todos eles. É um dos grandes clássicos que deram origem a títulos modernos. O Axis era um jogo que era lançado num momento em que os wargames “hex-and-counter” ainda dominavam o mercado, mas foi uma iniciativa pioneira da Milton Bradley Games, que estava antecipando uma tendência. O Axis deu origem a diversos módulos e expansões, sendo que hoje é jogado com miniaturas.

O Axis and Allies original – Fonte: Boardgamegeek

O Axis and Allies original – Fonte: Boardgamegeek

Vamos avançar para o início da década de 90, onde os jogos de estratégia começaram a ter uma nova roupagem, principalmente para competir com os computadores e a Internet. Em 1994, o jogo We the People de Mark Herman, lançado pela Avalon Hill, introduziu um conceito que começaria a ser utilizado nos jogos atuais: o sistema Card Driven (Regidos por Cartas – tradução livre de nosso autor aqui, aceito sugestões!). O maior problema dos wargames antigos eram a utilização de eventos históricos em uma partida.

Mark resolveu isso, criando cartas de eventos, que eram utilizadas durante o jogo, criando um dinamismo impressionante. Esta foi a primeira quebra dos padrões clássicos dos wargames e um divisor de águas que mudou muitas coisas nos jogos. Este tipo de mecanismo permitiu a entrada de economia, conquista de área diferenciada, modificação de exércitos mediante fatos históricos e a introdução de possibilidades enormes nos jogos.

We the People, o grande divisor – Fonte: Boardgamegeek

We the People, o grande divisor – Fonte: Boardgamegeek

Muitos wargames mudaram a cara “virando jogos de estratégia”, criando assim toda uma nova classe. Apesar de isto ter sido introduzido em 1994, em 1991 já havia jogos muito diferentes dos wargames clássicos e que começaram a vislumbrar o mercado mais voltado para este público. Novamente a Avalon Hill lança um jogo chamado History of the World, o qual trazia as cartas como delimitadores de época e de ações. Este mesmo jogo ganhou uma nova roupagem pela Hasbro (…que comprou a Avalon Hill: calma, pessoal, aguardem meu próximo artigo, vocês ainda vão ouvir falar muito do nome Avalon Hill), que inclui mais de 500 miniaturas de jogo e um lindíssimo tabuleiro. Esta mudança começou de maneira sutil a mudar os wargames.

History of the World – Fonte: Boardgamegeek

History of the World – Fonte: Boardgamegeek

Em 1996 outro grande jogo foi lançado: Hannibal que era um outro grande clássico da Avalon Hill. Este jogo foi relançado devido ao grande sucesso do mesmo e ficou muito mais bonito.

Hannibal - Fonte: Boardgamegeek

Hannibal – Fonte: Boardgamegeek

Avançando um pouco mais ainda na década de 1990, mais para seu final, os jogos começaram a se render definitivamente às miniaturas, principalmente nos EUA. Surgem os chamados Ameritrashes, jogos com minituras, cartas e dados, diferentes dos primeiros europeus a entrarem no mercado.

Em 1997 aparece o Twiligh Imperium, que começa a mostrar a força do mercado dos estratégicos. Neste período, os wargames clássicos estavam totalmente incipientes, perdendo mercado, empresas fechando e só voltariam depois do ano 2000 com os jogos dos pequenos estúdios. O Twilight foi um grande sucesso que hoje já se encontra na 3ª edição e apresenta uma qualidade e mudanças absurdas.

Capa da 1ª Ediçao do TI - Fonte: Boardgamegeek

Capa da 1ª Ediçao do TI – Fonte: Boardgamegeek

Capa da 3ª Ediçao do TI - Fonte: Boardgamegeek

Capa da 3ª Ediçao do TI – Fonte: Boardgamegeek

Um outro jogo que vale a pena citar é A Guerra dos Tronos (A Game of the Thrones), baseado na aclamada série literária e televisiva, lançado aqui no Brasil pela Galápagos. É um jogo que envolve outros fatores e conceitos importantes, como economia, estratégia, diplomacia, etc.jogo307

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A Evolução dos Mecanismos

Os jogos de estratégia modernos realmente foram uma evolução dos antigos wargames. Mantendo alguns aspectos como rolamentos de dados, mas incorporando mecânicas novas como:

a) Card Driven (Regidos por Cartas de Eventos) – Cartas que são sortedas, ou utilizadas durante o jogo, capazes de representar diversos acontecimentos (revoluções políticas, descoberta de recursos, fatores históricos, etc);

b) Economia – Certos jogos movimentam uma economia para a guerra/desenvolvimento, ou seja, com a geração de recursos é possível desenvolver novas tecnologias (por exemplo, o Twilight Imperium) ou comprar unidades de combate;

c) Papéis – Depois que o Puerto Rico trouxe a idéia de papéis (o jogador pode fazer uma ação de construir, vender, desenvolver recursos, etc, representando papéis como: construtor, comerciante, entre outros) muitos jogos começaram a introduzir isto em seus mecanismos lúdicos;

d) Diplomacia – Em muitos jogos existem fases de diplomacia onde os jogadores podem fazer acordos entre si, comércio, etc.

Estes mecanismos ainda podem ser acrescidos de mais alguns recursos e fatores de jogo. Um ponto é que a maioria deles continua com o combate resolvido por dados. Muitos jogadores não gostam deste estilo (o Ameritrash, citado em nosso primeiro artigo), e preferem títulos mais abstratos. Este tipo de combate tradicional, com lançamento dos dados, guarda o conceito dos antigos wargames.

Um outro fator interessante que em muitos jogos a estratégia utilizada pode ser um grande diferenciador, como, por exemplo, a adoção de uma postura extremamente bélica, pode custar ao jogador uma vitória. Diferente do wargame tradicional que normalmente é o cenário de alguma batalha, o estratégico moderno tem toda uma economia por trás, onde a guerra pode ser extremamente cara para o jogador. A guerra vai existir, mas vai ter que ser algo extremamente planejado e com reservas econômicas suficientes para mantê-la.

Conclusões

Este artigo se complementará no meu próximo sobre Wargames tradicionais e sua evolução atual. Basta dizer que os jogos estratégicos são fantásticos e feitos para um jogador que gosta de encenar todos os aspectos de uma história. Com a possibilidade de recriar uma economia, política e a guerra, é um estilo apreciado por um público específico. Apesar disso é um mercado consolidado e que hoje tem títulos espetaculares. Falaremos mais a respeito, aguardem!

Por Antônio Marcelo
Riachuelo Games

 

Artigos anteriores dessa série:

Mecanismos de Jogos Modernos (I) – Jogos Baseados em Leilão

Mecanismos de Jogos Modernos (II) – Jogos de Economia

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“Mecanismos de Jogos Modernos (III) – Jogos de Estratégia” foi publicado originalmente no antigo portal em 5 de dezembro de 2007 e teve 4.221 leituras.

 

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