A Jovem Cega – Tagmar II

O gélido sopro da brisa a fez arrepiar. O pio da coruja que ecoou das profundezas da mata a estremeceu. O odor pungente de terra, folhas e madeira que espreitava em volta a sufocava. E o salobro das lágrimas era amargo em seus lábios. Um lobo uivou próximo dali, quebrando o silêncio arauto da noite vindoura. A quietude crescente era perturbadora.

Ela arrastou os pés hesitantes pela esteira áspera e malcheirosa que recobria o chão. Três passos até a janela. As mãos tateavam o vazio à frente em busca de algum obstáculo. Percebeu então o toque úmido do batente de madeira. Apalpou novamente o ar, agora em busca das venezianas. As puxou gentilmente quando as encontrou, girou a tramela e se virou. Cinco passos até a lareira apagada. Sentiu sob os pés a textura felpuda e engordurada duma pele de lobo que atapetava o chão ali. Esbarrou na velha cadeira, fazendo cair algo de metal, que retiniu surdo, abafado pela pele. O atiçador, ela se lembrou. Virou-se desajeitadamente e se sentou. Abaixou-se para apalpar o chão até sentir o beijo gelado do ferro aninhado na pele de lobo. O pegou e colocou no colo.

Da cozinha, vinha o incessante chamado do vento, fazendo trepidar as venezianas fechadas, como um visitante inconveniente. Ficou ali sentada e desolada, ouvindo o murmúrio lúgubre do zéfiro, pranteando a vida com angústia.

Em meio ao turbilhão de tristeza que inundava sua alma, fechou os olhos. Por puro hábito, pois não lhe fazia diferença fechá-los ou não. Ouviu gargalhadas doces e puras de crianças ecoando na memória, sentiu o cheiro de queijo temperado exalando duma barraca próxima e o toque morno do sol… E pôde ver! Como era belo aquele mundo preenchido de cores e formas! O mundo dos dias inocentes em que vivia com os pais em Omarge, correndo livremente pelas ruas tumultuadas do mercado, por entre barracas de toldos coloridos, armazéns fedendo a peixe e casebres de taipa tomados pelo líquen.

— Está com você — exclamou alegremente um garoto entre as gargalhadas, e então correu em disparada, se afastando.

Ela, criança, compartilhou aquela risada e correu atrás das outras crianças com entusiasmo.

— Vou pegá-los!

Todos fugiam dela, rodeando barracas de mascates, se esgueirando através da multidão, saltando poças d’água, escalando barris, se esgueirando por baixo de carroças. Ouvia o latido exultante dos sarnentos cachorros que corriam com ela e com as outras crianças.

Outro latido, porém, despertou-a daquele mundo de lembranças agradáveis. Estava de volta àquele mundo de trevas amorfas e enfadonhas. Era seu cão ladrando euforicamente do lado de fora da cabana à chegada do marido.

As lágrimas agora escorriam em profusão, e ela se engasgava debilmente na tentativa de reprimir o choro. Ouviu o ranger da porta se abrindo. O frio que batia insistentemente à janela correu para se aninhar nas frinchas de sua puída túnica de lã como uma criança mimada. Junto com o frio, veio o odor abjeto de cerveja. O cão latia alegremente fazendo tilintar sua pesada corrente de ferro. Vinte longas batidas de coração depois, a porta se fechou bruscamente.

Os passos pesados do marido cambalearam até a cozinha. Ouviu-o remexer as panelas vazias e resmungar algo. Depois veio o silêncio. Ela mordeu o lábio, e então o violento barulho da panela ao se chocar contra a parede após ser arremessada ecoou. Ela teve de lutar novamente para refrear o choro que insistia em lhe apertar a garganta. Ainda mordia os lábios na vã tentativa de despistar a dor que apunhalava o peito.

Quando os passos trôpegos do marido se aproximaram, e junto com eles o cheiro acre da cerveja, prendeu a respiração. Sentiu o olhar dele pesado, tangível sobre si, e aquela voz rouca, embargada de bebida.

— Perdeu a visão, mas parece ter perdido as mãos, vagabunda.

Mordeu os lábios até sentir o gosto de sangue agora. Na garganta, um nó espesso; no peito, uma faca afiada. Segurou a respiração até que, enfim, veio o esperado golpe. Violento. Atingiu-lhe o rosto num ímpeto, esparramando-a no chão frio. O estampido da queda de cadeira, atiçador e mulher ribombou pela sala.

Ouviu o marido se afastar para o quarto depois disso.

O gosto de sangue na boca agora era forte o bastante para fazê-la não sentir o gosto das lágrimas que caíam torrencialmente. Trêmula, reuniu suas forças e se levantou fragilizada. Os cotovelos e um dos joelhos estavam feridos e ardiam um pouco, bem como a palma das mãos. Sentia-se imensamente fraca. Reclinou-se um pouco para vagar as mãos espalmadas em busca da cadeira até encontrá-la. Colocou-a de pé, e a pobre cadeira oscilou, mancando como uma corça ferida. Uma das pernas havia quebrado, notou.

Suspirou extenuada.

Por Selimom! Como sua vida pôde ter mudado tão drasticamente? Há cinco verões era uma criança brincando alegremente pelas ruas de Omarge, mas hoje… Hoje aquelas lembranças pareciam tão distantes! Pareciam-se um sonho místico envolto por névoas oníricas.

Desde que os negócios do pai começaram a minguar, a vida tornou-se outra. Mudaram-se para um vilarejo no interior de Plana na primavera seguinte. Fora uma viagem longa e desgastante. Enfrentaram o degelo das neves e muitas chuvas antes de chegarem até o lugarejo. Ficava nos arredores de Cipa, aninhada num recôndito montanhoso da Cordilheira de Sotopor. Era uma vila de vinheiros e cervejeiros, de gente velha e endurecida pelo trabalho intenso e, exceto pelos gêmeos, filhos dum sapateiro vizinho, não havia crianças com quem brincar como em Omarge. E mesmo os gêmeos não estavam habituados às brincadeiras. Não gostavam de esconde-esconde ou pega-pega, e não sabiam como brincar de nada. Gostavam de ajudar o pai com os sapatos e se sentirem adultos.

No rigoroso inverno daquele mesmo ano, uma febre levou a vida de sua mãe. Ela e o pai ficaram muito abalados, e ele já não sustentava esperança alguma de reconquistar o sucesso nos negócios. Nada mais era capaz de animá-lo. Sua esposa morrera, sim, mas quem perdeu a vida foi ele.

Mais uma vez, uma primavera reservaria mudanças de ares. Em meios às chuvas, surgira a oportunidade que o pai carecia. Um acordo comercial com um eminente madeireiro de Alimar. O tratado era importante para o pai. Era o estímulo que reacendia o brilho da vida em seus olhos. O acordo foi arranjado junto com o casamento entre ela e o filho mais velho do madeireiro.

Não podia decepcionar o pai. Não restava a ele metade de uma vida, e talvez aquela fosse sua última chance de prosperar. Também não seria tão ruim, afinal. Uma cabana na floresta, um marido e alguns filhos para cuidar. Conseguia até mesmo imaginar os filhos crescendo e correndo pela casa como ela correra pelas ruas de Omarge. Fora capaz até mesmo de sorrir com aquela ideia.

Durante o verão, conhecera seu consorte num banquete regado à cerveja de Cipa e carne de carneiro assada. Seu noivo era um homem grande, silencioso e empedernido, dono de uma barba quadrada e espessa. Não conversou, nem sorriu. Apenas comeu e bebeu bastante. E se foi.

Casaram-se no outono.

Veio o inverno, a primavera, o verão e novamente o outono. Um ano. Um ano e a vida era simples. Tinham uma cabana na floresta, comida à mesa, uma horta, um cachorro, uma lareira, sexo. E só. Não tinham filhos, não tinham conversas, não tinham risadas, nem amor.

Com três anos de casamento recebera a notícia da morte do pai. O marido chegara do trabalho silencioso como em qualquer outro dia, sentou-se à mesa e comeu à vontade. Após saciar-se despreocupadamente, contara distraído:

— Seu pai morreu — depois se levantou e não disse mais nada por dias, como era de costume.

Era triste se lembrar de tudo que tivera um dia. E tudo o que perdera. Não era muito, mas ainda assim, era tudo. Alegria, felicidade, liberdade. Coisas tão capitais à vida como água e comida. Sem água e comida, ela não respiraria, é claro. Mas sem felicidade, não se vive. Sem felicidade, se existe, na melhor das hipóteses. O que é, sem a companhia da felicidade, quase o mesmo que não respirar.

Voltou então a ouvir o marido, escapando daquelas lembranças distantes. Seus passos bêbados o levavam novamente em sua direção. Quando ele se aproximou, ela se encolheu como uma presa acuada. Sentiu a mão pesada do marido se fechar em volta dos cabelos. Com brusquidão, a puxou para perto de si.

— Vem dormir ou preciso arrumar outra vagabunda para mim?

Ela conteve as lágrimas uma vez mais. Sua cabeça agora doía também, percebeu. Sentia o hálito do marido, quente e fétido, permear os arredores como uma névoa podre. Desculpe-me, ela tentou dizer, mas apenas se engasgou em seu pranto.

— Você perdeu os olhos, eu perdi uma esposa — sua voz estava carregada de cerveja, sim, mas estava carregada, sobretudo, de ódio. — Não prepara a refeição, não costura as roupas ou remenda os sapatos, não colhe a horta, não alimenta o cão. Agora também não vai mais esquentar a minha cama, vagabunda?

Após um instante de dor, lágrimas e angústia, seu mundo escuro chacoalhou quando ele sacolejou sua cabeça, e então sentiu outro tabefe violento. Estava esparramada na esteira suja e fria novamente, dolorida e agoniada. Sentiu o impacto de um pontapé nas costas tirar-lhe todo o ar dos pulmões. Depois outro e outro. A dor que sentia era aguda e profunda. Abria a boca tentando desesperadamente respirar, mas não conseguia. Rolou de costas no chão tentando acalentar a dor, desesperada com a sensação agoniante de não conseguir respirar. Aos poucos, no entanto, o ar voltava aos pulmões.

O marido já estava no quarto novamente. Não o ouvira se afastar. Estava muito entretida com a dor. Esforçou-se para se levantar. Estava atordoada e fraca. A boca e as costas doíam e a cabeça girava e zunia. As mãos, cotovelos e joelhos ardiam. Mas o coração… Ah, a dor ali era indescritível!

Sabia que permanecer ali era convocar novamente a ira do marido. Não havia como lutar. O melhor a fazer era ir para a cama, dar prazer a ele, e orar a Selimom por um alvorecer rápido, para ficar sozinha novamente. Sentia os olhos encovados, pegajosos com as lágrimas que caíram. Aprumou-se bravamente, contudo. Respirou fundo, fungou e seguiu para o quarto.

Andar era um sacrifício. Suas pernas estavam trêmulas, e fraquejavam e vacilavam a cada passo. Passou pelo portal baixo do quarto, entrou vacilante com as mãos examinando o negrume perpétuo diante dos olhos. Tocou a cama. Sentiu a rigidez da palha velha sob os cobertores quando se deitou amedrontada. Ouviu o marido se arrastar para próximo dela como uma fera obesa, fazendo balançar a cama. Enrijeceu-se gélida quando ele a puxou para perto de si com brutalidade. Mordeu-a no pescoço e na orelha, babando como um cão faminto. As lágrimas voltaram aos seus olhos quando ela sentiu aquelas grandes e calejadas mãos explorarem seu corpo por debaixo da túnica. Sem mais cerimônias, ele rolou para cima dela avidamente. Sua barba espessa fedia a cerveja, e espetava em seu pescoço e em seu rosto. Terminou o ato tão rápido quanto começou. E com igual brutalidade.

Por um instante, ela parou de chorar, surpresa ao notar o marido ressonando como um monstro. Mas a surpresa por notá-lo dormir durou uma respiração, e as lágrimas voltaram ainda mais copiosas. Fechou os olhos mais uma vez para sonhar. Vão-se os olhos, mas os hábitos ficam. Imobilizada sob o corpanzil do marido, ela vagou por encruzilhadas sublimes de suas memórias. Estava nas ruas de Omarge novamente.

— Vejam — apontou empolgado o garoto ruivo, e ali ela realmente via. — O padeiro saiu.

Por uma viela estreita de paralelepípedos, descia o gordo e grisalho homem, em direção à Rua do Salgo.

— Ele deve voltar apenas à tarde — a garotinha magricela acrescentou.

— Vamos comer como reis — o garoto rechonchudo sussurrou.

Os garotos se entreolharam sorrindo ladinamente. Um dos cachorros levantou as orelhas ao notar a agitação deles. Garotos, garotas e cães dispararam pela rua de terra, contornaram uma praça barulhenta, subiram uma padieira fétida e pararam na esquina do beco onde morava o padeiro. Era um beco escuro e serpenteante, pavimentado com seixos. Os garotos se reuniram sob a sombra duma hospedaria próxima, numa ruela lateral.

— Não podemos ir todos nós – disse o garoto ruivo.

Todos concordaram.

— Acho que apenas as garotas devem ir — sugeriu o garoto sujo. — Se forem pegas, ninguém vai fazer nada a elas.

A garotinha magricela cruzou os braços e franziu o cenho, belicosa.

— E carregaremos tudo sozinhas, seu preguiçoso?

— Ele deve ter preparado tortas de figo e empadas de galinha — imaginou o gorducho, alheio à discussão, com as mãos espalmadas por sobre a pança.

— Seu pai tem dinheiro o suficiente para comprar uma torta e uma empada para cada pessoa de Plana — ela repreendeu.

— Mas as que roubamos são tão mais gostosas — objetou o gordo manhosa e tristonhamente.

Todos riram e um dos cães ladrou agitado.

— Eu vou com as garotas — disse corajosamente o garoto ruivo.

Todos o olharam, entreolharam-se e concordaram.

O trio então se esgueirou pelo beco escuro até a lateral da casa do padeiro. Era baixa, feita de pedra e taipa. Os feixes de palha de centeio do telhado haviam sido recentemente trocados. Os cachorros latiram instigados, e foram prontamente repreendidos com uma pedra arremessada. Recuaram ganindo.

O garoto ruivo sacou das calças uma roca de fiar, para surpresa das garotas.

— Vocês meninas nunca serão tão espertas quanto nós garotos — sorriu ele, orgulhoso.

A menina magricela mostrou-lhe a língua.

Ele então enfiou a roca por entre as venezianas e fez girar a tramela. Sorriu novamente. Com cuidado, ele abriu a janela. O trio se abaixou com sincronia, todos recostados contra o peitoril da janela, acovardados repentinamente.

— E se tiver alguém lá dentro e nos depararmos com ele? — ela perguntara.

— Deixe de ser medrosa — censurou a garota magricela.

— A chama de medrosa — disse o garoto ruivo, — mas aqui está, escondida como ela. Se for tão corajosa, entre primeiro.

— Se você olhar pela janela — desafiou belicosa, pueril — eu entro.

O garoto suspirou apreensivo.

— Tudo bem — disse, enfim, e se levantou para espreitar pela janela. — Não tem ninguém lá — relatou após se abaixar novamente. — Agora vá!

Após desferir-lhe um soco no braço pela petulância, a garotinha magricela se levantou e saltou por sobre o batente da janela. Do lado de fora, os dois trocaram um olhar expectante. Viram pessoas passando pela rua no fim do beco e uma velha esvaziando o penico por uma janela próxima. Ouviram um mascate vendendo ameixas frescas e pessoas conversando numa casa próxima. Mal respiravam de tanto nervosismo.

— Venham aqui — soou uma voz e ambos se enrijeceram. — Não conseguirei levar tudo sozinha.

A garotinha magricela se divertiu quando eles se levantaram pálidos.

Olharam para os dois lados do beco antes de saltarem janela adentro. Esgueiraram-se pela casa escura até chegarem à cozinha. Havia uma comprida mesa de tábuas, dois armários baixos e velhos, e um fogão recheado com tocos de lenha queimada. Em todo lugar, havia manchas brancas de farinha, fôrmas, rolos de massa, tabuleiros, jarros de barro cheios de leite, sacos de farinha, grãos, cestos com ovos, caixotes de frutas, teias de aranha e merda de rato. Mas seus olhos repararam apenas nos montes de tortas, pães, roscas e bolos por sobre a mesa, exalando um aroma morno e apetitoso.

— Temos de ser rápidos — exasperou, num sussurro, o garoto ruivo.

Precipitaram-se por sobre a mesa para encherem as camisas e os bolsos numa bagunça frenética. Aqueles ruídos ecoavam, distorcidos, das profundezas da memória.

Ela se viu andando rumo à mesa, em meio à uma crescente escuridão, donde a lâmina duma faca refletia a luz do sol que adentrava por uma fresta. Ela caminhou lentamente, guiada pelo brilho afiado, em meio às risadas que agora ressoavam longínquas.

Estava entorpecida em meio àquela escuridão repleta de vazio, sussurros e ecos.

Pegou a faca e foi até uma rosca gorda e peluda. Cortou aqui e ali, fatiou uma, duas, três vezes. Sentiu algo rijo em meio à massa tenra. Ossos? Ergueu a lâmina lentamente, intrigada. Gotejava sangue… Rubro, tépido, viscoso. No reflexo da lâmina, viu a si mesma. Não era uma garotinha inocente de traços delicados, mas uma mulher feita, com olhos cegos, vincados e extenuados.

O latido barulhento do cão a despertou daquele pesadelo, preenchendo seu mundo com o véu negro da cegueira novamente.

Estava de pé. Sentiu na mão o peso da faca; no ar, o cheiro de sangue, urina e bosta. Assustada, deixou cair no chão a lâmina. Estremeceu quando as lágrimas retornaram ávidas.

— O que foi que fiz? — sussurrou assombrada.

Arrastou os pés, de costas, e trombou contra a cômoda. Em resposta ao ruído, ouviu a cama estremecer à sua frente e o marido gorgolejar agonizante. Aos tropeções, ela se arrastou para fora dali, horrorizada. Passou pelo portal do quarto, pela sala, cambaleou, abriu a porta e parou do lado de fora, arquejando. O cachorro lutava contra a corrente que o prendia, latindo em desespero, como que em busca de uma resposta.

Estranhamente, ela foi se acalmando. A respiração foi assumindo um ritmo mais brando. O vento lhe acariciou o rosto, e com dedos frescos, lhe afagou os cabelos. O canto dos pássaros e o cheiro doce e suave das flores a saudaram. O toque do sol a envolveu num abraço cálido. Por Selimon! Já é manhã? Não vira a noite passar.

Ouviu um estalido férreo quando o cão rompeu a corrente e correu até ela, saltando, latindo, farejando, lambendo.

Ela fechou os olhos, então. Abriu os braços e inspirou profundamente. Tinha, desenhado no rosto um sorriso jovial do mais autêntico alívio. Do bosque vieram as risadas das crianças. De olhos cerrados, ela viu seus sorrisos puros, seus pés nus chapinhando nas poças ao correr alegremente até ela e os cães latindo em seu encalço. Quando percebeu, estava girando com os braços abertos, dançando aquela canção de alegrias castas como uma menina sonhadora, rindo em meio às outras crianças.

— Está com você — exclamou alegremente um garoto e se afastou em disparada.

As demais crianças se afastaram também, gargalhando inocentes. Ela compartilhou as risadas, alegre, inocente, criança… E disparou atrás delas.

 

– Rafael Quadros

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2 Comments
  1. Interessante! Vale a pena ler.

  2. Obrigado, Galfornaly!

    Postarei outros contos em breve. Espero que gostem!

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