Mundo das Trevas: Ananasi (resenha)

“Malditas aranhas.”

“Demônios de oito patas”

“Troço peludo dos infernos”

Estas e outras frases mostram bem como essa criaturinha, a aranha, nos afeta. Um bicho que raramente passa do tamanho de um punho adulto fechado, que pode ser morto com uma arma primitiva e simples, chamada chinelo, é capaz de causar pânico, medo e pesadelos em escala global. Aracnofobia é uma das cinco maiores fobias mundiais em quase todas as pesquisas que se fazem a respeito, muitas vezes ganhando das quatro outras por larga vantagem.

E o que isso tem a ver com RPG?

Você pode estar do outro lado do chinelo. Só que sendo do tamanho de um fusca, com poderes espirituais avançados e uma missão de equilibrar o mundo que está morrendo devido a três forças cósmicas em desarranjo.

Você pode ser Ananasi.

CRIANÇAS DA RAINHA ANANASA

Ananasi é um suplemento da Whit Wolf para a antiga linha de jogos de Lobisomem: o Apocalipse. E como tal, ele difere bastante de boa parte de seus predecessores.Ananasi cover

Enquanto praticamente todas as raças metamórficas apresentadas anteriormente são crias de Gaia e lutam por ela com seus pontos de vista particulares sobre a Tríade Wyld-Weaver-Wyrm e a atual situação crítica do mundo, Ananasi (auto denominação: Dámhan) são crias de um espírito diferente, a Rainha Ananasa. Seu propósito não é salvar Gaia. É resgatar sua rainha, aprisionada pela Weaver, e restaurar o equilíbrio de forças entre a Tríade. Para esta raça, salvar Gaia não é um objetivo; é uma conseqüência.

Se isso já não fosse drástico o bastante, Ananasi são diferentes em outros aspectos básicos, e este quase pode ser considerado um jogo a parte. Enquanto seres metamórficos são famosos por suas paixões desenfreadas e Fúria sobrenatural (a bênção de Luna), Ananasi são seres frios, lógicos, quase apáticos em sua ausência de emoções. Quase uma raça de psicopatas a serviço de uma causa. Não são capazes de se regenerar, mas podem se curar consumindo sangue de seres vivos… sangue este que também pode alimentar seus poderes. Não possuem nenhuma vulnerabilidade típica a prata, por outro lado.

E não termina por aí: Ananasi não percorrem a Umbra através de atalhos onde o mundo natural é mais forte. Pelo contrário: as teias de Weaver, mais numerosas e resistentes em ambientes urbanos, é que são o meio de transporte entre mundos destes metamorfos peculiares, que caminham por elas em suas formas animais.

Finalmente, Ananasi não possuem Auspícios de nascimento… elas possuem um cruzamento de três Aspectos (Warriors=Guerreiros, Questioners=Questionadores e Balancers=Juízes) com três Facções (Wyld, Weaver, Wyrm), produzindo 9 combinações diferentes de papéis a serem desempenhados no Grande Plano de Ananasa.

Como as outras raças, os Ananasi possuem várias formas, mas até nisso eles se destacam. A forma humana está lá, claro, de maneira diferente, alterada, com características aracnídeas, como pedipalpos afiados para consumo de sangue, e a forma “animal” se parte em quilos e quilos de aranhas menores, que podem possuir uma mente coletiva ou servir a um número de uma ou mais aranhas líderes como “drones” a serviço de um controlador. Os seres-aranha possuem duas formas monstruosas: uma aranha gigantesca, do tamanho de uma pessoa ou maior, ou um híbrido humano-aranha (se você pensou em Driders e Lolth, tem um excelente parâmetro aí). Ambas as formas podem apavorar um mortal comum com o Delírio, uma reação psicológica de negação da realidade que as pessoas desenvolvem para não enlouquecer ao ver algo que não deveria existir. Em suas formas aracnídeas, Damhan podem criar teias e produzir veneno.

O JOGO

Jogar com Ananasi dificilmente sera a carnificina que vemos tipicamente em jogos da linha Lobisomem. Até mesmo a arte do suplemento mostra pouco combate (embora os seres-aranha possam ser tão aterrorizantes nisso quanto qualquer Garou), focando mais em como estes metamorfos são individualistas e manipuladores. Tendo uma fronte mais unificada, e perdendo menos tempo em conflitos internos (graças em parte à atenção da Rainha, que tem um papel bem ativo no doutrinamento de suas crias), Ananasi podem se dedicar a atacar seus inimigos usando intrigas, terror e diversas outras armas que outras raças mais “honradas” consideram desagradável… e indo a lugares e atingindo sucesso em objetivos que elas também não alcançam da mesma maneira.

Uma sacada muito interessante do jogo é o fato de que quem está jogando simplesmente NÃO SABE qual o plano final de Ananasa. Possibilidades são apresentadas a quem narra (minha favorita é a de Ananasa querendo destruir Weaver e tomar seu lugar como um backup da Criação… o que poderia muito bem ser bom ou mal; será que Gaia seria resetada?), mas nada em definitivo, o que dá um toque de paranóia e dúvida inexistente entre as diversas outras raças a maior parte do tempo. Críticos podem dizer que é como jogar Vampiro em Lobisomem… talvez, se assim for o que o grupo quiser. Nada de mal nisso na minha opinião. Interpretar seres que são mais razoáveis que apaixonados, e que suprimem seus sentimentos quase o tempo todo é um desafio muito atraente, e Ananasi propõe exatamente isso.

Por Rafael Ramos Blanco
Equipe REDE
RPG

NOTAS (de 1 a 6):

– Layout/Arte: 5. Padrão storyteller, com coluna dupla, figuras bem localizadas, e tabelas em locais de fácil acesso. Imagens refletem MUITO bem como aranhas são assustadoras, embora nem sempre a parte mais atraente delas (suas contrapartes humanas) sejam lá essas coisas.
– Texto: 5. Quase todo o livro é visto pela perspectiva Ananasi, o que leva a uma certa auto-exaltação… que é quebrada quando necessário. A história não é confusa, e os termos e nomenclatura, embora muito complexos, são usados de forma espaçada o bastante para que não se precise consultar o glossário o tempo todo.
– Conteúdo: 5. Um jogo bem interessante, com uma pegada diferente de seu livro mãe, que só sofre por ter o sistema Storyteller, que não é nem de longe perfeito… Alguns poderes muito legais têm Dificuldade padrão muito alta, o que leva a usá-lo significar mais frustração do que uma cena épica…
Nota Final: 5. Um jogo interessantíssimo… se você não tiver medo de coisas com mais de seis patas…

Ananasi

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