Lenda dos Cinco Anéis NÃO é D&D com katanas!

Ok, não existe jeito certo ou errado de se jogar RPG. Se o seu grupo está se divertindo, beleza! Contudo, existem vários RPGs que possibilitam experiências únicas, que possuem nuances no cenário e nas regras – especialmente quando elas foram criadas para um cenário determinado – que, na prática, o entendimento equivocado do seu grupo ou a insistência em jogar um RPG desses das mesmas formas que outros jogos mais tradicionais podem limitar tudo o que eles têm a oferecer.

É como se você tivesse um veleiro transoceânico e ficasse apenas navegando dentro da Baía de Guanabara.

Um desses RPGs é, sem dúvida, Lenda dos Cinco Anéis, lançado em português pela New Order Editora. Se no seu jogo de L5A você está: explorando masmorras, matando monstros aleatórios, pilhando, catando moeda e pegando o equipamento alheio para usar ou para vender, lamento informar que você não está jogando Lenda dos Cinco Anéis. Você está jogando “D&D com katanas” (com todo respeito e admiração ao jogo que criou o nosso hobby)!

Na página 9 do livro básico de L5A, isso está muito bem escrito e explicado, mas a gente sempre pula a descrição e vamos à posologia, não é verdade?

Em Lenda dos Cinco Anéis, mais importante do que “o que você tem” é “quem você é” e como faz para honrar de quem você descende. Todas as decisões de um samurai de Rokugan, são tomadas com base no Bushido, o código do guerreiro do Japão feudal, principalmente o princípio do Meiyo – a Honra. Não falamos aqui da honra pessoal, falamos da honra de todo um clã e dos antepassados que nos acompanham a todo tempo, que estão nas nossas katanas, garantindo que o caminho de glória traçado seja mantido. Qual o valor disso? Isso pode ser medido materialmente? Quanto vale a sua consciência? Um jogador que não se faz essas perguntas ao aceitar uma aliança escusa, traçar um caminho tortuoso, não está se deliciando com a essência de L5A, nem entendendo o que este jogo tem de tão especial que o faz diferente de todos os outros.

Nele você cogita não levar um companheiro com você em uma missão, por ter o risco de ele ofender a honra dos ancestrais dele, não importa o risco que você corra, talvez até mais importante que a sua honra, é a honra de seu companheiro.

É muito comum, num primeiro contato com o jogo, os jogadores com dificuldade de absorver esse conceito, optarem por jogar com o clã do Unicórnio por ser um clã menos ligado às questões de etiqueta, mas é importante saber que a honra, em nada tem a ver com etiqueta. Ou ainda escolhem o clã do Escorpião, “os ninjas”,”os que fazem o que tem que ser feito”, mas eles são mais do que isso. Eles entregam suas vidas cegamente em nome da honra de seus senhores e de seu clã, não da honra que os homens medem e julgam, mas da honra que aprendem ser a verdadeira. Não roubam, não pilham, não vendem seus serviços, não saqueiam as cidades, seus movimentos são todos cuidadosamente decididos para que o objetivo maior seja alcançado e o samurai que está executando uma pequena parte do plano, não precisa saber qual é o objetivo, ele age pela sua honra e de seu senhor, sem a necessidade de saber o objetivo.

Apesar de ser um exímio samurai, shugenja ou cortesão, você não sai sacando sua katana, seu pergaminho ou sua língua, para atacar qualquer pessoa que cruza o seu caminho, pois há uma hierarquia rígida que você sente obrigação de seguir, afinal isso faz parte do seu dever como samurai, e dever é mais um dos preceitos do Bushido.

Esses são dois grandes e ao mesmo tempo básicos pontos que fazem L5A não ser um “D&D com katanas”. Ele é mais profundo que um jogo de guerra, você consegue histórias com intriga, amor, guerra, magia, disputa de poder, cortesia, obrigação, compaixão, política e se divertir muito, ainda que não saque uma vez sequer sua katana em toda uma sessão.

Você só tem a ganhar ao experimentar jogar Lenda dos Cinco Anéis, como Lenda dos Cinco Anéis, com tudo que ele pode oferecer.

Mas não exagere! Falaremos sobre isso no próximo artigo: “Lenda dos Cinco Anéis NÃO é o Japão Feudal!”

Por Luciana Fortuna
com a colaboração de Marcelo Telles

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