Revoada de Corvos – Parte 1

A chuva cai em seu rosto e lhe trás de volta a consciência. Demora pouco mais de alguns segundos para perceber que a água batendo no lado esquerdo do seu rosto está quente demais para ser chuva. Após ouvir os risos ao seu redor, Olav não precisa nem abrir os olhos para saber que estão mijando em seu rosto. Ele tenta dizer: Merda! mas a única coisa que sai de sua boca é um Ugh.

– Acordou princesinha? – ele ouve um dos homens falar enquanto o outro gargalha e depois repete o mesmo gracejo, mas com uma voz esganiçada.

Aos poucos sua mente começa a clarear e ele se lembra. Não foi o golpe que levou por trás na cabeça, este apenas lhe deixou tonto e o fez ser desarmado. Nem foi o momento em que deceparam sua mão direito, a dor lhe fez gritar até perder o fôlego, mas conseguiu se manter firme. Entretanto, quando usaram um pedaço de ferro quente para cauterizar a ferida, a dor foi insuportável e acabou desfalecendo.

A essa altura a urina já tinha acabado e apenas os gracejos e ofensas permaneciam. Olav conseguia ouvir o barulho de batalha a distância e ficou quieto tentando distinguir os gritos em meio ao confronto, mas seus captores não devem ter gostado de sua inanição, pois logo sentiu um chute explodir suas costelas. Acabou abrindo os olhos involuntariamente.

– Levante-se princesinha, não temos o dia todo.

O que está falando é um homem grande com braços musculosos e o típico cabelo loiro enrolado em uma grande trança dos Lobos Cinzentos, ele segurava uma grande espada de duas mãos apoiada no ombro. Ou outro era menor e tinha os cabelos curtos, provavelmente um mercenário contratado. Tinha um machado na mão e um escudo nas costas.

O maior deles pegou seu braço para fazer com que se levantasse, mas seja por descuido ou apenas por sadismos pegou o antebraço da mão decepada. A dor foi lancinante e fez Olav gritar pela segunda vez esse dia, e isso era algo que um guerreiro da tribo do Corvo Soturno não estava acostumado. A dor e a humilhação lhe deixaram furioso.

– Vamos que Ulfgar está esperando, ele quer mostrar para o líder dos Corvos Soturnos o que fez com o seu filhinho favorito.

O nome Ulfgar deixou-o totalmente desperto e Olav encontrou alguma coisa em que focar a sua fúria. Um chute em suas costas o fez cambalear para frente, mas Olav conseguiu se manter em pé e começar a andar. Sentiu algo roçando a sua cintura e olhou para baixo. Viu que os idiotas deixaram as duas machadinhas que levava presa na cintura. Nem sequer prenderam suas mãos, achavam que estava indefeso sem o sua mão da espada.

O filho do líder dos Corvos Soturnos é conhecido na sua tribo como Olav Dois Ventos por sua habilidade de lutar com suas duas machadinhas, uma em cada mão. Começou a lutar o machado de duas mãos por insistência do pai após a morte de seu irmão mais velho. Ele dizia que o machado era a arma sagrada de sua tribo e Olav passou a empunhá-la, apesar de deixá-lo mais lento.

Após alguns passos fingiu tropeçar e cair de joelhos no chão, apoiado na mão esquerda. Conforme esperado, um dos homens veio e lhe pegou pelo braço direito. A dor lhe fez gritar, mas aquilo também lhe enfurecia, o que era bom. Com um movimento rápido, se levantou enquanto sacava uma das machadinhas da cintura, usou o impulso para ganhar velocidade e cravar a machadinha na cabeça do inimigo. Infelizmente, o homem acertado foi o menor e ainda havia o grandalhão para matar.

Ao ver a cena, o grandalhão gritou um xingamento e avançou preparando a sua espada. Olav não conseguiu arrancar a machadinha da cabeça do cadáver e esperou até o inimigo chegar mais perto, quando arremessou o corpo na sua direção. O tempo ganho com essa manobra foi mínimo, pois o Lobo Cinzento precisou de apenas um chute para afastar o corpo, mas foi suficiente para Olav sacar a outra machadinha.

Além de o oponente ser grande, sua espada de duas mãos lhe proporcionava um alcance gigantesco, o que praticamente inviabilizava ser combatido com uma machadinha. No entanto, Olav estava acostumado a lutar contra esse tipo de adversário e se sentia confortável com essa desvantagem.

O Lobo Cinzento devia medir aproximadamente um metro e noventa de altura, o que era quase a mesma altura de Olav, mas era bem mais pesado do que o Corvo Soturno. Seus braços musculosos tornava a grande espada em um instrumento letal, além disso, era mais rápido do que se esperava para alguém de sua estatura. Avançou rapidamente golpeando com um arco horizontal, fazendo Olav saltar para traz para evitar ser atingindo.

Olav não teve tempo para pensar, pois o grandalhão continuou a atacar ininterruptamente, golpeando pela direita, usando o impulso para fazer a espada subir em um golpe traiçoeiro e finalizando sua sequência com um golpe para baixo, colocando tanta força que chegou a pular. O Corvo Soturno teve que saltar para o lado, dar um passo para traz e mergulhar para frente para evitar os golpes.

O oponente não queria deixar Olav pensar e voltou a golpear usando a mesma sequência de golpes. Dessa vez ele estava preparado para o ataque e quando a espada desceu, o Corvo Soturno esquivou para a direita firmando seu pé esquerdo no chão. No segundo necessário para o Lobo Cinzento erguer a espada, Olav arremessou a machadinha que rodopiou pelo ar e foi se alojar no meio do rosto dos olhos azuis do grandalhão repartindo o seu nariz em dois.

O urro foi selvagem e a espada foi arremessada para o alto enquanto as mãos do Lobo Cinzento tentavam tirar a machadinha do rosto. Depois de alguns segundos ele conseguiu, mas ao se virar para procurar Olav, um punho veio de encontro ao seu rosto lhe mandando para o chão.

O Corvo Soturno recuperou sua outra machadinha e avançou na direção do grandalhão. Ele pensava em deixar o Lobo Cinzento recuperar a espada e continuar o duelo, mas lembrou que ainda tinha que confrontar Ulfgar e precisava guardar suas forças. Um golpe certeiro na nuca do oponente que tentava se levantar terminou com o combate.

Olav guardou a machadinha na cintura e pegou a outra da mão do Lobo Cinzento. Viu o escudo nas costas do mercenário e achou que seria uma boa ideia dar alguma utilidade ao seu braço direito. Atou o escudo no antebraço. Apertar as fivelas fez uma dor lancinante percorrer seu braço fazendo seu coto arder. Isso era bom, a dor lhe deixava enfurecido e ele ainda precisava lidar com Ulfgar.

Por Rafael Silva

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