O HOMEM DO FUTURO (resenha)

O que aconteceria se um homem amargurado por um trauma amoroso da época da faculdade fosse um cientista genial? E se esse homem, acidentalmente, descobrisse uma forma de voltar no tempo e apagar esse trauma?

Aqui temos a premissa básica deste extraordinário filme nacional. Ainda que seja calcada em uma “simples história de amor” – sabemos que tal sentimento é tudo, menos simples… além do mais, tantas histórias de amor inspiram gerações e, quase sempre, são calcadas nas mesmas premissas, mas contadas de uma forma extremamente magnífica e inovadora –, a trama aborta questões tão interessantes e apaixonantes, sobretudo aos aficionados por ficção científica. Como?

Ora, todo bom conhecedor de viagens temporais sabe bem como a versão futurística encontrar seu próprio eu pretérito pode ser desastroso; também entende bem os riscos envolvidos em tentativas de alterar o passado. Afinal, seu eu mudar minhas escolhas passadas, o que eu sou hoje será completamente diferente, não?

Tenho entendido que este é o grande lance do filme: nossas escolhas nos definem e fazem de nós o que somos hoje. A forma como encaramos as questões e provações que se colocam em nossa frente são capazes de moldar nosso ser, dando a direção para onde nosso eu futuro irá.

Além disso tudo, o filme nos brinda com teorias sobre universos paralelos e física quântica, coisa que todo nerd certamente já teve que enfrentar lendo uma HQ, jogando Gurps ou seja lá o que for.

A fotografia do filme me pareceu impecável, os cortes interessantíssimos, os efeitos muito bem produzidos, as interpretações (sobretudo do protagonista, Zero, vivido por Wagner Moura, e suas diferentes versões cronológicas, que variam do adolescente nerd tímido e gago, passando pelo brilhante e experiente cientista, ao avarento e egoísta ser humano) são impressionantemente convincentes. O roteiro, com plots e subplots, não deve nada a ninguém. O filme, como um todo, é uma agradável surpresa do atual cinema nacional. Ponto para os criadores de “A mulher invisível” que, mais uma vez, nos brindam com uma excelente e criativa história.

Não poderia, também, deixar de mencionar a excelente escolha da trilha sonora do filme, que tem como um dos principais intérpretes a banda do Wagner Moura (que tem se mostrado um artista cada vez mais versátil e completo), fazendo releituras de músicas como Creep, do RadioHead, e, como uma luva para o filme, Tempo Perdido, da Legião Urbana. Afinal, “temos nosso próprio tempo”, não?

A vida é muito mais do que certo e errado, preto e branco. Costumamos esquecer dos tons acinzentados que existem durante toda a nossa vida, fazendo os degrades que dão volume e profundidade às nossas experiências. Muito mais do que nos lamentarmos sobre o que foi ou o que não foi, o importante é termos as rédeas sobre nosso atual momento e fazer os nossos sonhos tornarem-se realidade, pois viver não é ir de objetivo em objetivo, mas sim viver todas as emoções decorrentes do processo para atingir nossas metas.

Aquele que entender a frase do protagonista, tão destacada no trailer do filme, vai entender que “esta noite, eu vou mudar o mundo”. Não com uma máquina do tempo, nem com uma forma revolucionária de energia, mas com nossas escolhas, que podem mudar radicalmente, todas as noites, todos os dias, a cada segundo, o nosso rio da vida.

Por fim e retomando uma idéia que deixei acima, acredito que justamente por contar uma tradicional história de amor de forma tão inovadora e magnífica que o filme pode ser considerado, na minha modesta opinião, um dos melhores filmes que já assisti.

Notas de 1 a 6
– Direção: 5
– Roteiro: 6
– Produção: 6
Nota Final: 5

Por Franz E. Brehme

***

Share This Post
1 Comment
  1. Eu fui no cinema essa semana e vi esse filme que realmente é uma jóia do cinema nacional.
    Mas o que eu mais gostei foram os maneiras que lidaram com os paradoxos temporais. Quem gosta de ficção inteligente com humor, é uma excelente pedida.

Leave a Reply