Sobre RPG e família

Sobre o RPG e família…

Como apresentar o hobby aos seus familiares de modo que não passe uma idéia errada?

Em primeiro lugar, fica o respeito, Pai e Mãe são autoridade e ponto final. Se preocupam conosco (no meu caso, se preocupavam anos atrás, cresci né?).  Como fui criança no fim dos anos 70 começo dos 80, tive uma infância regada a Sítio do Pica-Pau Amarelo, muita leitura (fantástica, claro), Hanna Barbera, Ultraman e afins. Minha mãe me contava histórias na cama pra dormir. Assisti Caverna do Dragão quando estreou na Xuxa. Minha imaginação fervilhava com mil idéias e aventuras. Sempre quis inventar finais diferentes para as histórias que ouvia e via. E se o Speed Racer quebrasse a perna, era eu que dirigia o Mach 5! No lugar do Go, quem compartilhava o poder dos Ultramans era eu! Era o meu regresso sem ter ido a lugar nenhum…

Com o aparecimento dos Livros-jogo, e por fim RPGs de verdade, ficou fácil pelo menos explicar a minha família do que se tratava. Eu ouvia uma história, mas não ficava passivo, pois era um personagem ativo nela! Pra mim era união da fome, com a vontade de comer!

Pelo lado familiar, nunca andei com gente estranha (não a princípio). Ninguém jogava nada vestido de capuz preto nem segurando velas vermelhas. Eu sempre procurei não misturar as coisas, como sempre fui religioso. Nunca gostei de ocultismo nem nada ligado ao assunto, apesar de existir e muito disso no RPG. Magia, criaturas malignas, enfim, coisas deste tipo, nunca faziam parte das minhas narrativas. Por mestrar GURPS e TOON, sempre criei aventuras caindo mais pra ficção científica, fantasia heroica e humor. Acredito que com certos temas não se mexe, mas é opinião própria. E nesse ponto criei uma linha de raciocínio que me ajudou a explicar o RPG pra tudo que é bitolado.

Quando você compra um Vídeo-cassete (lembrem-se que já estou na minha versão 3.9, troquem por DVD ou Blue-ray ao usar o argumento), ele precisa de uma fita com filme no conteúdo para ser aproveitado, O vídeo cassete não é imoral, por poder passar filme pornô. O vídeo cassete não é demoníaco, pelo fato de ser possível passar filmes de ocultismo nele. O vídeo cassete não mata ninguém, apesar de passar filmes violentos. Quem escolhe o que vai ser visto é o dono. O aparelho não tem culpa do conteúdo que se passa.

O RPG é igual!!! É apenas um conjunto de regras que são usadas para diversão. As regras podem ser aplicadas em múltiplos ambientes! Existem ambientações como existem classificações nos filmes que são assistidos. Humor, terror, aventura, suspense, ficção científica, faroeste, era vitoriana…

Cabe ao grupo decidir em que universo se passam as aventuras. Se sua família encrenca com um tipo, jogue outro, é simples! Pra que dar murro em ponta de faca? Não tem necessidade de criar conflito… Somos pessoas saudáveis, se divertindo, e não um bando de maluco matando gente no cemitério. A opinião pública é movida pela mídia, que não ajuda nada nosso amado hobby.  Se a TV falou que jogador de RPG é tudo assassino, lá se vai livro pro lixo. Cabe a cada um desfazer a imagem ruim que domina a rarefeita e manipulável opinião de nossos progenitores e responsáveis…

Essa parte de existir ambientações com elementos que eu ou outra pessoa prefere se abster, até que pode ser descomplicado de lidar. Tenho muitos amigos Umbandistas, Espíritas, Budistas e por aí vai, mas nos respeitamos acima de tudo. Quem é católico é até fácil de lidar com isso, pois parte da cultura CAR lida diretamente com assombrações e maldições. Ninguém deveria olhar atravessado pela escolha de religião ou filosofia de vida. No jogo isso não deveria ser diferente. Eu sou rockeiro fundamentalista e xiita. Não escuto absolutamente nada além de rock e clássica, mas convivo sem problemas com Pagodeiros, Funkeiros, Baladeiros… Amizade é uma coisa, se divertir junto nesse sentido já não rola. A limitação é minha, eu admito. Quem se diverte jogando Vampiro, seja feliz (e pelo amor de Deus, não brilhem no sol!!). Quem curte Chutulu idem. A anos atrás, na UERJ, num lendário RPG Rio (terceiro eu acho), tinham salas temáticas com RPGs diferentes. A sala do Terror tinha iluminação diferenciada, muitas velas, num clima realmente estranho, dando um toque especial a quem jogava. Eu nem entrei, mas nem por isso deixei de me divertir com os amigos do clube a que pertencia (ganhei um GURPS Fantasy autografado neste dia num Quiz…). O que vale é o respeito. Os pais precisam saber o quanto é importante o jogo para você. Se só vermos o lado ruim de tudo, ninguém mais jogava futebol no nosso país. Jogadores desmotivados, salários absurdamente altos pra não se fazer nada. Índices altos de violência por parte das torcidas organizadas, ingressos caríssimos, e nem por isso se deixa de ser uma paixão nacional. Exemplos ruins não representam o todo. Canções de ninar só têm desgraça, e nossas mães nos embalavam com elas…(Atirei um pau no gato, tadiho dele/o cravo brigou com a rosa e a despedaçou/Teresinha de Jesus morreu!!!/O boi da cara preta leva crianças, e os pais abandonam a criança em casa…).

Inté a próxima…

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Jedi aposentado. Comedor inveterado de pudim e pão de queijo. Wargamer, Mestre em Toon e GURPS. Pai de 4 Kenders.

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