Monster Manual: Um bestiário digno do novo D&D (resenha)

Passado o fim de ano é hora de retomar os trabalhos escrevendo sobre o RPG que eu mais tenho jogado ultimamente, o novo D&D 5a Edição. A esta altura, a não ser que você more numa caverna e alguém tenha levado essa página impressa até aí, você já viu tudo o que há para ver dessa edição, e tomara que tenha tido oportunidade de jogar!

Mas quero chamar atenção para as razões porque acho que essa edição está muito legal e leva nosso hobby realmente a um novo nível, digamos, de sofisticação. Vamos falar do Guia do Mestre em alguns dias, mas depois de ler tudo, continuo impressionado com o Manual dos Monstros, para mim o melhor livro do set básico. E, bem, o Livro do Jogador já foi analisado aqui na REDERPG
Monster-Manual

A primeira coisa já é incrível, assim como lendo as descrições das raças, classes e antecedentes no Livro do Jogador você quer jogar com todos eles, você vai querer fazer uma aventura completa sobre cada monstro desse livro. O cuidado com essa parte, a história, é o mais marcante nessa edição, e não seria exagero dizer que uma parte disso é porque ela foi feita por fãs do jogo. Uns fãs bem competentes e fãs editores, porque o texto está muito bom, mas principalmente fãs.

Vamos pegar como exemplo os Kuo-toa. No texto do Manual dos Monstros você fica sabendo que eles são loucos, e que com essa loucura criam deuses imaginários para quem fazem sacrifícios humanos e de onde tiram poderes místicos. Fica sabendo de sua relação com os Illithids, e porque muitas vezes servem de escravos para essa raça de devoradores de mentes. Você já imagina histórias inteiras com esses homens-peixes do mundo subterrâneo que odeiam os povos da superfície.

No Manual dos Monstros da 2ª e da 3ª edições, apesar de bastante texto, você perde mais tempo sabendo as cores e organização dos cultistas dos Kuo-toa do que tendo essa inspiração para aventuras. A mesma quantidade de história você tem no Fiend Folio, o primeiro livro de monstros em que eles apareceram, ainda na 1ª Edição, retirados diretamente da aventura clássica Shrine of the Kuo-toa (1978).Kuo-toa

Inclusive, essa também é uma parte legal, as ligações dos monstros com a história do D&D e sua própria história e ecologia das edições passadas. A deusa Blibdoolpoolp está no livro, integrada às sementes de histórias sobre os Kuo-toa. O sentimento é muito de terror, digno da inspiração do Gary Gygax para essa raça, os Deep Ones de A Sombra sobre Innsmouth, o clássico de H.P. Lovecraft. Aliás, Kuo-toas são legais porque esse é um dos monstros exclusivamente do D&D, você não deve encontrá-los em nenhum outro RPG…

Como vocês sabem, os Reinos Esquecidos são agora o mundo padrão do D&D, mas no Manual dos Monstros, como em todos os livros até agora, a tônica é de que D&D é um multi-universo. Há uma pequena citação sobre os Kuo-toa, por exemplo, dizendo que “Eles inventam seus próprios deuses… a pura definição da insanidade”. A nota é assinada por Sabal Mizzrym, de Menzoberranzan, mas você precisa ser muito nerd de Forgotten para saber toda a referência sobre isso, o que é muito bom.

No mais, quando falam de vampiros eles citam Strahd, quando falam de Death Knigth a imagem e o texto citam Lord Soth, e o exemplo de Demilich é Acererak, da Tumba dos Horrores.LordSoth

Essa é a premissa básica da 5a Edição: unir o melhor de todas as edições, colocando a história e a aventura à frente das regras.

Regras
Tudo isso nos leva até a parte mecânica, das regras para você usar os Kuo-toa na sua aventura contra os jogadores. Há quatro opções de estatísticas para o monstro, com chefes e lacaios, perto das cinco opções da 4a Edição, que primava por ter boas táticas e encontros para os monstros, mas deixava muito a desejar na história. Por exemplo, os Kuo-toa têm apenas três parágrafos para descrevê-los.

Tem uma coisa bem importante para saber no Manual dos Monstros: a ideia por trás da dificuldade dos monstros, a CR, é diferente da 3ª Edição e dos níveis da 4ª… Da mesma forma, monstros com CR mais alta têm AC mais alto e mais HP, mas não tanto quanto nas edições passadas. A ideia é que você possa enfrentar os mesmos monstros em qualquer nível, e há regras para melhorá-los, mas a diferença entre os níveis não é tão aguda. No nosso exemplo, o Kuo-toa tem CR ¼, AC 13 e 18 HP. O Arcebispo dos Kuo-toa tem CR 6, feitiços de 5° nível, AC 13 e 97 HP. Um dragão adulto, de CR 17 tem AC 19 e 256 HP. O mesmo dragão tem AC 32 na 3ª Edição, e AC 40 na 4ª.

Até por isso foi um pouco bobo reclamarem que não tem uma lista de monstros pela CR, como em outras edições, mas logo eles colocaram uma lista online. A teoria por trás disso é que os bônus não escalonam ao longo do tempo. os personagens ficam mais poderosos, mas não por terem bônus maiores, e sim por terem mais opções.

Legendary Actions
Outra coisa que todos acharam genial nesse Manual dos Monstros foram as Ações Lendárias, que monstros poderosos podem ter, assim como Ações do Covil, quando o dragão está em sua caverna com seu tesouro, por exemplo. Mas sinto informar que isso já existia, eram os monstros “solo” da 4a Edição. Claro que está muito melhor com histórias e contextualização, mas é a mesma ideia, refinada.Ettin

Uma coisa que está muito legal é a introdução e o apêndice do livro. na introdução há todo tipo de ideia sobre “Por onde os monstros rondam“, com sugestões para uma aventura mais interessante a partir de terrenos e lugares a explorar diferentes de um dungeons genérico. Para entender bem isso leia esse excelente artigo sobre “construir mundos com o Manual dos Monstros“ (em inglês)!

No final tem um apêndice de NPCs que está também muito útil. Isso costumava ficar no Guia do Mestre, mas faz mais sentido ali. Por fim, só uma curiosidade, monstros que sugam vida, como os vampiros e wraiths, drenam o teto máximo de HPs dos personagens, e não níveis de classe. Uma solução simples e elegante, para falar em termos de design de jogos.

Enfim, esse é um portfólio de criaturas, catálogo de monstros, bestiário… digno realmente de ser chamado de Manual dos Monstros, um ícone de D&D. Ou, como diz o slogan da capa: “Uma coleção de monstros mortíferos para o maior RPG do mundo”.

 

Notas (de 1 a 6)
Layout/Arte:
5 (ótimo, mas faltou espaço)
Texto: 6 (acerto crítico!)
Conteúdo: 6 (acerto crítico!)
Nota Final: 6 (e ainda pode ser usado com qualquer RPG)

Resenha de Marcello Larcher
Publicada originalmente em: www.d30rpg.com.br/2015/01/um-bestiario-digno-do-novo-dd/

 

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