Starfinder RPG (resenha)

O ano de 2017 teve muitas boas notícias para os fãs de ficção científica. Novas séries de TV e streaming, filmes muito esperados ao fim do ano e diversos jogos e paródias tomando as redes sociais e a internet.

Apostando no interesse dos fãs de RPG por jogos, filmes e séries ambientados no espaço, a Paizo, criadora do RPG Pathfinder, inspirado na fantasia clássica derivada dos cenários de Senhor dos Anéis e baseado na licença aberta da 3ª edição do popular sistema Dungeons and Dragons, traz o RPG Starfinder, uma jogo de Fantasia Espacial.

Este jogo baseia-se nas principais regras e linhas gerais do seu RPG irmão, Pathfinder, mas é muito mais do que isso, pois há algumas mudanças em regras, simplificando-as, mas também inaugurando novas mecânicas. Inspirada nas obras de literatura cyberpunk, por exemplo, há uma seção detalhando o uso da habilidade de Computação para hackear sistemas. E também tem um capítulo inteiro dedicado a elemento essencial às aventuras fantásticas: naves!

Mas, vamos com calma, não há necessidade de irmos na velocidade da luz. Junte-se a nós nesta aventura pelas estrelas e vamos conhecer o mais novo RPG de Fantasia Espacial!

O CENÁRIO
Starfinder
é um jogo que pode ser utilizado para narrar aventuras no espaço sideral, oferecendo um material muito rico e interessante quanto aos principais elementos das mais conhecidas histórias e franquias. Viajando entre as estrelas, seus sistemas e planetas, enfrentando piratas espaciais, androides assassinos ou alienígenas bizarros das mais diversas origens, é possível envolver-se de diversas formas com este jogo, da forma que lhe trouxer maior diversão.

Mas é verdade que, como um produto da Paizo, este jogo possui um enredo particular, que pode ser utilizado pelos jogadores interessados nas aventuras específicas do cenário. Parte-se da premissa que se está jogando no futuro do cenário de campanha de Pathfinder, tendo como referência o mundo de Golarion, o mesmo das aventuras do RPG de fantasia, embora neste cenário o planeta figure como palco de uma catástrofe que, em contrapartida, dá início a uma era de expansão espacial jamais vista.

Há um bom capítulo no livro base sobre a história de fundo do cenário, com uma cronologia e os principais acontecimentos que sustentam a história de Starfinder. Como o próprio material indica, não é obrigatório conhecer as minúcias do enredo, mas faz um bom trabalho apresentando algumas das raças alienígenas descritas, como foi o contato, suas motivações e principais fatos e conflitos.

CRIAÇÃO DE PERSONAGENS
No capítulo de criação de personagens, apresenta uma proposta diferente da conhecida pelos principais fãs de Pathfinder e outros RPGs. Em vez de introduzir uma infinidade de classes para atender às diferentes expectativas dos jogadores, o jogo aposta na combinação de Themes, que seriam temas ou backgrounds de personagens, com um número reduzido de Classes, sete ao total.

Desta forma, é possível criar personagens variados apenas mudando uma das combinações: Um Soldado (Soldier) com o passado de piloto (Ace Pilot) pode fazer fama nas fileiras da Resistência, enquanto um Mecânico com o tema de Mercenário pode facilmente se erguer na hierarquia de legiões mais brutais. Um Emissário (Envoy) com o passado de Ícone (Icon) seria um negociador, enquanto aquele que já foi um estudioso terá contornos mais diplomáticos, podendo até mesmo ser um embaixador.

Novas raças são apresentadas, partindo do conhecido e já esperado Androide, para outras com características bastante alienígenas e habilidades interessantes: os insetóides Shirren, os reptilianos Vesk, os pequenos ratos Ysoki, os misteriosos Kasatha com seus 4 braços e os telepáticos Lashunta, com antenas que lembram a personagem Mantis, de Guardiões da Galáxia 2.

Além destas novas raças, o jogo permite que você também jogue com raças clássicas de Pathfinder, como anões, elfos, gnomos e halflings, entre outros, dedicando um capítulo para a conversão destes personagens para o cenário de Starfinder, também indicando, através de uma tabela de conversão, como adaptar e traduzir algumas habilidades e elementos do jogo Pathfinder.


REGRAS, SISTEMA, ELEMENTOS
As regras do jogo são bastante parecidas com o sistema Pathfinder, D&D 3.5 e d20, utilizando elementos comuns a estes, como as rolagens, os parâmetros de dificuldade e os modificadores. Jogadores destes sistemas não sentirão dificuldade em adaptar-se a esta dinâmica. A ação de realizar mais de um ataque no mesmo turno foi simplificada em uma ação de rodada completa para atender a uma jogabilidade mais prática, entre outras mudanças.

Outra questão interessante é o desmembramento da Classe de Armadura, ou a dificuldade em acertar o alvo, em duas categorias, Classe de armadura Cinética (KAC) e Classe de Armadura Energética (EAC). Isto foi feito em relação ao enorme número de armas e equipamentos do jogo que agora podem causar dano na forma de projétil ou de energias (fogo, gelo, sônico, elétrico, ácido). Desta forma, o jogador dá mais ênfase à escolha de uma armadura com maior proteção em uma das duas categorias.

O sistema de peso e carga foi simplificado para uma unidade chamada Bulk (lote), assim, cada jogador possui um número de unidades de bulk que consegue carregar e escolhe o seu equipamento baseado nesta unidade de carga. Diga adeus às calculadoras e a complicada conversão entre libras e quilos.

ISSO NÃO É MAGIA, É TECNOLOGIA! (OU SERÁ?)
Starfinder
possui uma premissa interessante, que diz que magia e tecnologia se desenvolveram juntas ao longo do desenvolvimento tecnológico. Dessa forma, cada corporação ou empresa acabou por um escolher de que forma integrar ambas, ou seja, o que for mais lucrativo. Para jogadores, é mais simples ainda, pois nada muda para quem é fã de fantasia: ainda há muitos feitiços e magias que preservam suas características clássicas, repaginados para um cenário de fantasia científica. Unificando e simplificando as longas listas de magia divididas pelas classes de personagens de outros cenários, aqui há apenas duas famílias de magias: Mística ou Tecnomágica.

Itens mágicos e/ou tecnológicos, como o livro diz, incorporam aspectos tanto mágicos como eletrônicos e, em geral, são imunes aos efeitos anti-mágicos, salvo descrição específica do item. Neste futuro, muitos itens e ferramentas possuem, no seu núcleo, tanta magia quanto tecnologia avançada, o que for necessário para seu funcionamento.


VEÍCULOS, NAVES ESPACIAIS E A VIAGEM ESPACIAL
O livro possui uma seção que aborda os típicos veículos e situações possíveis em uma aventura de RPG. Há uma boa descrição de ações e perseguições veiculares, voltados para quem deseja adicionar cenas de ação e adrenalina às suas sessões, descrevendo perigos do terreno, ataques com armas embutidas nos veículos, manobras perigosas, entre outras possibilidades.

Chegamos à parte que realmente interessa: as naves espaciais! Starfinder faz um excelente trabalho ao criar uma sessão dedicada à explicações sobre como construir uma nave espacial (o que gera mais uma ficha para gerenciar, a sua própria nave), suas principais características e as principais ações que podem ser desempenhadas.

Esta mecânica envolvendo naves tem tudo para gerar situações bastante interessantes, pois irá envolver o seu grupo de formas diferentes. Este é o momento em que as funções de dividem e cada um assumirá seu papel na nave espacial: capitão, artilharia, oficial cientista, navegador, mecânico… são muitas as funções clássicas das obras de ficção científica que aqui ganham vida e realmente farão diferença nos combates e situações de risco no espaço sideral.

O livro apresenta diversos modelos já prontos das naves, em diferentes patamares, para que os jogadores possam explorar a galáxia. O jogo assume que os personagens podem desejar adquirir ou até mesmo já possuírem uma nave compatível com o seu nível de jogo, como forma de locomover-se pelos planetas e continuar a sua exploração pelo infinito.

A viagem espacial, contudo, segue amarrada a um conceito interno ao cenário, que seria a viagem pelo Drift, uma outra dimensão no hiperespaço, a qual interage com os motores de Drift (Drift Engines) das naves. Motores mais avançados realizam as viagens em tempo menor. Sinalizadores do Drift (Drift Beacons) tornam certas partes do universo mais acessíveis ou mais desafiadoras, podendo oferecer perigos durante a navegação.

VISÃO GERAL
O livro base do sistema Starfinder possui belas ilustrações, bastante originais e referenciais aos elementos do seu cenário. Estas descrevem e ilustram seus principais personagens alienígenas, cidades futurísticas e bases estelares, trazendo vida também a naves de diferentes povos e arquiteturas, demonstrando a bela engenharia de armas e equipamentos avançados, com o tom certo para deixar o leitor empolgado com as possibilidades de viver aventuras espaciais.

A tipografia e o projeto gráfico são bastante coerentes e investem no design high-tech esperado de um cenário futurista. Ainda assim, por ser um livro base, ele é bastante compreensivo quanto ao texto, sendo bastante pesado em algumas seções, recomendando uma leitura gradual e acumulativa, com bastante material para ser digerido, o que não impede que já seja possível buscar alguns elementos rápidos do jogo para realizar as suas primeiras aventuras.

Fez falta algum material, na forma de apêndice, com alguns antagonistas, alguns exemplos como uma mini-sessão introdutória, ou até um mini bestiário. O jogo avisa aos Mestres, entretanto, que qualquer criatura descrita nas referências de Pathfinder é facilmente adaptável e compatível com este cenário, podendo ser colocada de pronto, talvez necessitando de pequenos ajustes apenas.

Se você se imagina enfrentando goblins espaciais, lutando contra impérios tirânicos, desbravando novos planetas ou buscando apenas viajar com sua nave pelo desconhecido, não deixe de conferir Starfinder, uma aventura fantástica feita pela Paizo, para os fãs de ficção científica e de fantasia!

NOTAS (de 1 a 6)
– Layout/Arte:
6
– Texto: 5
– Conteúdo: 6
Nota Final: 6

Por Luiz Antonio Prior
Equipe REDE
RPG

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