Chamado de Cthulhu: De Profundis para Chamado de Cthulhu

18 de abril de 2018,
Algum lugar da costa atlântica

Querido leitor,

Talvez esta carta não chegue a tempo de o que nós conhecemos de mundo ter desaparecido. Sim, tive vislumbres de um futuro sombrio. Mas deixe que eu conte a minha história. Não muito tempo atrás, ao deparar-me com imensas publicações acerca do Mythos de Cthulhu, ouvi uma referência a um determinado jogo profano chamado De Profundis: Cartas do Abismo. Os relatos eram poucos a cerca dele, o que atiçou ainda mais a minha curiosidade. Depois de procurá-lo com muita ansiedade, minhas tentativas foram inúteis. Acontece que, como tudo que é obscuro, eu o encontrei no lugar mais inesperado possível: uma biblioteca pública. Um livro de capa preta bastante desgastada. O leve toque de minhas mãos nele me fez estremecer. Respirando fundo, folheei as primeiras páginas. Em De Profundis, você é um investigador do desconhecido e, através de cartas, você e uma rede de outros investigadores criam uma trama lovecraftiana. Regras? Não existem regras. Você é imerso pelas informações das cartas escritas e recebidas, gerando uma história coerente e puramente narrativa.

Pareço insana, eu confesso. Também tive esse mesmo pensamento ao começar a ler o maldito jogo, porém, tão logo me dei por conta, já estava com papel e lápis, escrevendo minha primeira carta. Existem certas definições importantes antes de começar, é claro. Talvez se eu tivesse tido auxílio, não estaria na situação que me encontro agora. Você e sua rede definem o tempo em que se passa a história, quem são vocês na história, o que fazem para viver… Detalhes que direcionam a história para uma linha coesa.

O sol está desaparecendo no horizonte… O som do mar me mantém concentrada enquanto escrevo.

Era fim de dia também quando me sentei na poltrona com o pequeno livreto de trinta e duas páginas chamado De Profundis e um bom chá preto. Fazia frio. Uma leitura rápida e envolvente. Foram dias tentando encontrar pessoas que quisessem dividir a experiência. “Mas enviar cartas é tão retrógrado!”, alguns diziam. “Não tenho tempo pra isso… Que jogo é esse onde não se rolam dados?”, comentavam outros. Aos poucos, aqueles comentários foram me cansando e resolvi começar por conta própria. Meu jogo começou depois de uma carta enviada aleatoriamente.

Para minha surpresa, a resposta veio três dias depois. Lorraine, ela se chamava. Em sua carta, ela dizia que algumas pessoas do seu trabalho estavam agindo de uma forma estranha depois de uma reforma no escritório. Ela não quis me dizer tudo nesta primeira carta, mas depois da terceira ela me confessou que havia um quadro lá que lhe dava arrepios. O quadro representava uma geleira. Uma criatura macabra gigantesca invadia uma pequena vila e sacrificava algumas pessoas. “Que tipo de pessoa compraria um quadro desses?”, lembro-me de perguntar a ela. Lorraine respondeu afirmando que seu patrão tinha gostos excêntricos e que ela não se sentia bem com a presença dele, mas que precisava do emprego.

Procuro um local para continuar escrevendo, a noite já está alta.

Foram semanas dividindo experiências e eventos, no mínimo, estranhos. A última carta que recebi dela foi semana passada. Ela dizia não aguentar mais as peculiaridades do chefe e suas loucuras. Pediria demissão naquele dia. Até o momento, não soube de mais nada de Lorraine e receio ter acontecido o pior. Era uma terça-feira, recordo bem que foi no exato dia em que os sonhos começaram… Uma criatura monstruosa na geleira.

Essa imagem horrenda me acompanha desde então. Em meus sonhos, no trabalho, na mesa do bar… Aqui comigo enquanto escrevo. Sinto-me sozinha e perdida ao ver a imensidão do mar… Será o fim isto? Este vazio? A criatura me chama a um mergulho nessa noite sem lua. É o fim? Ou o começo de algo novo? De Profundis… Suas páginas me trouxeram até aqui. Será você, leitor, que contará o resto da história?

Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn.

Por Vitoriano Bruna :3
Equipe REDE
RPG

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