D&D 5ª Edição: Entrevista com a Galápagos Jogos

A REDERPG entrevistou com exclusividade Persio Sposito, Gestor do projeto de localização do Dungeons & Dragons 5ª Edição da Galápagos Jogos. Confiram a seguir:

1) Primeiramente, como está sendo o trabalho de tradução da 5ª Edição?

PERSIO SPOSITO: Olá, pessoal da REDERPG! Obrigado pelo contato e pelas perguntas. Nós gostaríamos de responder a primeira pergunta de maneira plural, afinal, não existe uma única pessoa responsável pela localização dos produtos de D&D na equipe. Na verdade, nem existe apenas uma única equipe. Nós tratamos o D&D com núcleos dedicados:

· localização e tradução, que cuidam não somente da equivalência de palavras traduzidas, mas do “aculturamento” do produto à nossa realidade sociocultural, temos os núcleos de revisão nacional;
· revisão e consistência internacional, cuidando do padrão desta edição em todos os idiomas;
· gestão de projeto, conectando todos os núcleos e áreas correlacionadas.

O tratamento da 5ª edição merece uma visão multidisciplinar e as equipes que formamos refletem essa tendência. Nesse sentido, podemos dizer que entre os membros desses grupos encontram-se gerentes de projeto, tradutores e localizadores de conteúdo, autores de RPG, fãs, membros da comunidade, gente que já conhece de D&D e temos até pessoas que nunca jogaram um RPG na vida. Sim, por mais incrível que pareça, essa parte da visão do novato é essencial, já que uma das diretrizes desta edição de D&D é justamente o alcance global da marca e a acessibilidade a todos, não importando o seu “nível de experiência” com o jogo.

2) Vocês estão partindo do zero para traduzir os livros da linha D&D ou estão usando algum material de referência, as edições anteriores em português ou o SRD que já existe traduzido por fãs?

PERSIO SPOSITO: Para os produtos de D&D, não costumamos utilizar o termo tradução, pois ele gera uma desconexão com o real trabalho realizado e com a própria forma como ele está sendo tratado nos diversos idiomas. Seria mais adequado dizermos que é um processo de localização, sendo que uma das etapas é a própria tradução. Para a 5ª edição de D&D, a localização está partindo do zero. Contudo, não é um zero absoluto. Antes de iniciar o primeiro parágrafo da edição brasileira, existem pelo menos três materiais de referência obrigatórios para se trabalhar com esta versão de D&D, são eles (em tradução livre): Diretrizes de Marca da Wizards of The Coast para Dungeons & Dragons (parece até nome de suplemento de RPG, não?), o guia para versões internacionais de D&D e o guia de estilo. Estes três materiais compõem a base de tudo aquilo que pode ou não ser mexido, o que deve ser obrigatoriamente traduzido, o que não pode ser alterado sob nenhuma circunstância, quais nomes devem ser transliterados (que é uma abordagem diferente de tradução), quais termos podem opcionalmente ser traduzidos, etc. São centenas de páginas de diretrizes e regras globais para que todos os produtos de D&D, seja qual for o idioma, passem a mesma experiência. Este é um marco, inclusive na própria história do D&D. Nunca existiu tamanha preocupação para que todos os idiomas conseguissem transmitir a mesma mensagem para os jogadores. Além do material oficial nós temos referências adicionais, tais como o SRD e uma extensa lista de referências de fantasia que, veja só, o próprio Gary Gigax nos fornece na página 312 do Players Handbook: Livro do Jogador. Ora, se o próprio autor listou as obras inspiradoras que o ajudaram a criar o D&D, é claro que nós também utilizamos muitas delas como material de suporte adicional. Valeu, Gary!

3) E quanto aos termos de sistema de jogo, eles foram revistos? Por exemplo, Feat continuará sendo Talento ou vai mudar (Feitos?!)?

PERSIO SPOSITO: Todos os termos sistêmicos foram revistos e devem – segundo aquele calhamaço de materiais que mencionamos acima – ser obrigatoriamente traduzidos. Todos foram revisados e seguem em harmonia com as diretrizes globais. Inclusive com os nossos colegas franceses, espanhóis e italianos, cujos idiomas compartilham raízes similares no latim, tal qual o português. Feats continua como Talentos. “Feitos” seria uma localização inadequada, em nossa opinião

4) E os nomes de raças e classes? Continuará sendo Patrulheiro ou será Ranger?

PERSIO SPOSITO: Termos que definem raças, classes, equipamentos e magias estão sujeitos à diretriz de serem traduzidos para o idioma destino. Sendo assim, 100% das raças e classes foi obrigatoriamente traduzida ou transliterada. Nesse sentido, teremos novidades para Ranger, Halflings e Tieflings. – N.E.: Gustavo Moscardo Domingues, do canal Rei Grifo, esteve ontem na palestra da Galápagos sobre o D&D 5ª Edição no evento Diversão Offline e adiantou alguns termos: Attack Roll = Jogada de Ataque; Ability Check = Teste de Atributo; Spell Slot = Espaço de Magia; Saving Throw = Salvaguarda; Halfling = Pequenino/Pequenina; Tiefling = Tieferino/Tieferina; e Orc = Orc/Orquisa.

5) Recentemente houve um certo descontentamento por parte de antigos tradutores e editores de edições anteriores de D&D sobre as escolhas de tradução da Kronos para os boardgames de D&D que ela lançou. Vocês vão levar as escolhas da Kronos em consideração ou ficarão como trabalhos independentes?

PERSIO SPOSITO: O tema tradução é um multiverso em si e, como tal, sujeito a uma miríade de interpretações, gostos e opiniões. Partindo de um ponto de vista estritamente racional, nós temos certeza de que não existem respostas absolutamente corretas numa localização. Trata-se mais de escolhas do que disputas de termos “mais corretos”. É delicado comentarmos sobre o trabalho de nossos antecessores, pois a própria base comparativa já inicia diferente. Veja só: foram pessoas diferentes, que trataram do produto em épocas diferentes, lidando com uma edição diferente e, muito provavelmente, com diretrizes globais diferentes (supondo que tenham existido). O que podemos afirmar é que – no caso de boardgames e RPGs de D&D – existem diretrizes atuais (de 2017 em diante) para todas as editoras que trabalhem com tais produtos. Vamos para alguns exemplos simples e práticos: Forgotten Realms não pode mais ser traduzido. Nenhum cenário pode. Nestes casos não há o que se discutir sobre gostar ou não, ser o ideal ou não, ter sido traduzido anteriormente ou não. É regra. E nesse caso, trata-se daquele tipo de regra que existe para não ser quebrada. As escolhas de localização da Kronos, assim como qualquer outra, são levadas em consideração, mas só aplicamos a mesma solução caso essas escolhas estejam em concordância com as diretrizes atuais de localização, deixando todos os produtos em sincronia e falando a mesma língua sempre que possível.

6) E os termos de cenário? Por exemplo, o Underdark?

PERSIO SPOSITO: Novamente aplica-se o mesmo princípio das questões 3 e 4: nomes de cenários não se traduz (marcas como Forgotten Realms, Dark Sun, Ravenloft e afins). Nomes de personagens e cidades serão traduzidos ou transliterados quando houver equivalência semântica.

7) Além dos três livros básicos, a Galápagos também vai lançar o Starter Set em português?

PERSIO SPOSITO: Sim. O primeiro ciclo de lançamentos em português é composto pelos três livros básicos, o Kit Introdutório e o Escudo do DM. Ficaria muito chato se eu disser que temos algumas surpresas no forno? – N.E.: A Galápagos anunciou ontem no evento Diversão Offline, além dos três básicos, do Kit Introdutório e do Escudo do Mestre, a aventura “A Maldição de Strahd” (Curse of Strahd) e o Guia do Aventureiro para a Costa da Espada (Sword Coast Adventurer’s Guide).

8) E já temos datas de lançamento dos primeiros produtos?

PERSIO SPOSITO: Até o momento, seguimos com nosso posicionamento inicial que aponta o início dos lançamentos para o segundo semestre de 2019. Traremos mais novidades quando estivermos próximos das datas de lançamento. E fique tranquilo que não vamos deixar de fazer aquele “barulho” para que ninguém perca as datas de lançamento

9) Muito obrigado por essa entrevista, em nome da REDERPG. Deixe uma palavra final para os jogadores brasileiros de D&D.

PERSIO SPOSITO: Nós é que agradecemos. Contem conosco. Para o jogador e fã queremos agradecer o apoio e dizer que estamos fazendo a lição de casa para deixar o terreno pronto para muitas aventuras e horas de diversão. Não deixe de participar, comentar, passar seus feedbacks e, ultimamente, colaborar com a chegada (dessa vez pra ficar) deste título fantástico. D&D será construído por muitas mãos e certamente uma delas é a sua. Você está preparado?

Entrevista concedida a Marcelo Telles
Editor da REDE
RPG

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2 Comments
  1. Só faltou uma pergunta em relação a terem chamado pessoas que mandam inúmeros comentários machistas pra divulgação do Diversão Offline :/

  2. Ah, uma pena que todos são “livros”, e não os clássicos GUIA do Mestre e MANUAL dos Monstros, mas teje bão. Será ótimo ter esses livros em mãos em idioma nacional enfim.

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