A Bandeira do Elefante e da Arara RPG: Entrevista com Christopher Kastensmidt

A Bandeira do Elefante e da Arara RPG é o primeiro RPG criado no Brasil a ganhar o ENnie, o “Oscar” do RPG mundial, um feito sem precedentes. A cabeça criativa por trás do universo do ABEA é Christopher Kastensmidt, que primeiro lançou os contos e romances, também premiados e aclamados. Em breve, entra em financiamento coletivo o projeto mais ousado dele, adaptar o RPG para o formato digital através do game A Bandeira do Elefante e da Arara: Três Reinos. Vamos conhecer um pouco desse gringo que se tornou um escritor brazuca.

1) Christopher, conte um pouco da sua história, como você veio parar no Brasil, se interessou por nossa história e criou o maravilhoso universo do ABEA?

Uau, começou com uma pergunta que vale um livro inteiro! A versão curta é que sou originalmente do Texas, onde cresci e me formei. Visitei o Brasil pela primeira vez nos anos 1990, prestando consultoria pela Intel, e conheci um pequeno estúdio gaúcho de jogos digitais chamada Southlogic Studios. Acabei trabalhando com a Southlogic de 1999 a 2009, quando vendemos o estúdio para Ubisoft e virei Diretor Criativo das operações brasileiras. Boa parte da minha carreira foi com games. Mudei definitivamente em 2001 para Porto Alegre, onde moro até hoje.

Sempre gostei de história, e alguns dos primeiros livros em português que adquiri foram livros sobre a História do Brasil. Encantei-me pela história e folclore nacional ao ponto de querer desenvolver uma série de fantasia ambientada no país, que comecei a escrever no final de 2006. Aqui estamos, 13 anos depois, com publicações de ABEA em 9 idiomas, adaptações para quadrinhos e o RPG de mesa que vocês conhecem. Foi um longo caminho!

2) Você chegou a conhecer o pioneiro RPG brasileiro “Desafio dos Bandeirantes”? Ele foi uma de suas influências?

Ouvi falar de Desafio pela primeira vez após uma mesa-redonda em que eu participei com Eduardo Spohr. Eu já tinha publicado as primeiras histórias de ABEA e recebido certo destaque internacional, e ele me falou do RPG como outra referência de fantasia inspirada no folclore nacional. Só cheguei a ver os livros anos depois, durante o teste beta do RPG. Alguns dos jogadores comentaram sobre Desafio e finalmente alguém me emprestou os livros para ver. Não chegou a ser influência, mas foi uma obra pioneira. Citei os livros na bibliografia de ABEA, junto com alguns outros RPGs nacionais que descobri no mesmo período.

As influências mais fortes na criação de ABEA seriam as Crônicas de Lankhmar de Fritz Leiber, os livros dos mosqueteiros de Alexandre Dumas e os RPGs que joguei na minha infância, como D&D e MERP.

Christopher Kastensmidt

3) Como foi ganhar um ENnie? Como foi o caminho até essa conquista?

Ganhar um ENnie foi certamente um dos melhores momentos da minha carreira. Infelizmente, eu não tinha como bancar a viagem para os EUA e receber o prêmio pessoalmente, quem recebeu por mim foi Diogo Nogueira, que vai todo ano para Gen Con. Deu certa agonia assistir de casa, mas ao mesmo tempo eu consegui estar ao lado da minha família na hora da apresentação.

O caminho foi longo e, às vezes, surreal. Comecei a lançar as histórias de ABEA em inglês em 2015 e, na mesma época, montei uma lista de e-mails para distribuir notícias para os leitores estrangeiros. Quando o RPG foi lançado no Brasil, coloquei uma pequena notícia no boletim e perguntei sobre recomendações de editoras que pudessem ter interesse em publicar em inglês, sem nem achar que alguém ia responder. Umas horas depois, recebi uma mensagem de Tom McGrenery, dono da editora Porcupine Press, dizendo que era fã da série há tempo e queria publicar. Coincidência incrível. (N.E.: Tom McGrenery é autor do impressionante RPG Malandros, outro gringo que manja MUITO da cultura e história brasileira!)

Ele lançou o Guia do Jogador do ABEA em inglês em março deste ano, o último mês para concorrer os ENnies, e mandou o livro para consideração. Nunca imaginei que íamos ganhar alguma coisa, principalmente sendo apenas as primeiras 60 páginas do livro, mas foi selecionado para um dos prêmios dos jurados! Vamos concorrer com o livro inteiro futuramente, então existe ainda a possibilidade de mais reconhecimento. O jurado Brian Nowak falou na cerimônia dos prêmios, “quando eles lançarem o livro completo, vai ser algo para ver!”

4) Quais serão os próximos lançamentos para o RPG do ABEA e outros lançamentos para esse universo?

Para o RPG, temos em primeiro lugar “A Maldição de Ipaúna”, de Luciano Giehl, aventura vencedora do nosso concurso inaugural no ano passado. É uma aventura de terror, bem diferente de qualquer outra publicada até agora. Já está disponível para pré-venda e deve estar nas lojas até 14 de novembro.

Depois, temos “A Ilha Abandonada”, primeira aventura de Flagellum Amāzonis, uma série épica em cinco partes escrito por mim. Espero ter ela na mão para CCXP e o lançamento geral umas semanas depois.

Em breve, teremos um webcomic que estou desenvolvendo em parceria com o artista Jayhson Magnus. Ainda estamos mexendo na arte final antes de lançar, mas a ideia é de liberar algumas páginas por semana, de forma gratuita, na plataforma WebToons.

Finalmente, e mais importante, temos o financiamento coletivo do game Três Reinos, a começar no dia 15 de novembro! É um projeto que vai definir o futuro de ABEA.

5) Falando especificamente do game A Bandeira do Elefante e da Arara: Três Reinos, ele será para quais plataformas? O que você já pode nos contar sobre ele?

O financiamento coletivo é para bancar a versão inicial, no Steam, mas também vamos buscar recursos para lançar em outras plataformas, começando com Android e iOS. É o nosso projeto mais ambicioso até hoje e, por isso, vamos recorrer ao financiamento coletivo pela primeira vez na história de ABEA. Já investimos muito tempo e dinheiro no projeto, fizemos uma pré-produção de um ano. Temos uma equipe incrível de profissionais preparada para levar este projeto para o mundo, mas precisamos de um bom financiamento agora para a fase de produção.

Em Três Reinos, vamos tentar simular ao máximo a experiência de jogar o RPG de mesa. O sistema de combate vai funcionar igual; textos descritivos vão servir como “narração”. O jogador vai poder visitar pontos no mapa com bastante liberdade, e fazer escolhas pertinentes através de diálogos e outros textos. O sistema de habilidades vai estar muito presente, utilizando habilidades de todas as áreas. Por exemplo, vai poder usar Barganha para negociar com um comerciante, Escalada para subir uma parede e Contabilidade para buscar pistas em um registro contábil.

Também quero destacar a participação da comunidade. Vamos abrir canais de comunicação para os nossos apoiadores, para poderem oferecer as suas opiniões durante a criação do projeto. Já começou este processo, na verdade; realizamos alguns enquetes com os jogadores do RPG para acertar o estilo visual do jogo. A participação da comunidade foi fundamental no sucesso do RPG de mesa, realizei um período beta de seis meses de testes antes de lançar o volume original, que ajudou muito no refinamento do livro e seu sucesso posterior. Também apliquei o feedback dos primeiros jogadores nas mudanças da edição expandida. Planejamos aproveitar ao máximo a força desta colaboração com a comunidade.

6) Christopher, mande agora o seu recado para os jogadores brasileiros, para quem já joga e para aqueles que ainda não experimentaram esse fabuloso RPG. E muito obrigado, em nome da REDERPG!

Para quem nunca jogou, venha conosco! Temos uma comunidade super acolhedora, participativa, criativa e é um prazer interagir com eles. Do evento “Dias de ABEA” este ano, descobri que tem gente jogando em mais de 50 cidades, além de encontros online; encontrar um grupo para jogar não é tão difícil. Para conversar com mais de mil colaboradores, basta entrar no grupo do Facebook de A Bandeira do Elefante e da Arara (RPG).

Para os jogadores de longa data, meus agradecimentos de sempre! Favor nos ajudem a espalhar a notícia do financiamento coletivo e alcançar uma audiência cada vez maior.

Meus agradecimentos ao Marcelo Telles e REDERPG pela entrevista!

Entrevista concedida a Marcelo Telles
Editor da REDE
RPG

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