Experiência de Mestre – Talento Vocal

Esta coluna regular é para Mestres que gostam de construir mundos e campanhas, tanto quanto eu. Aqui vou compartilhar minhas experiências como DM através da lente de Iomandra, o meu mundo de campanha de Dungeons & Dragons. Mesmo que a campanha use as regras da 4 ª edição, os temas aqui tratados, muitas vezes transcendem edições. Esperemos que esta série de artigos que lhe dará inspiração, ideias e novas formas impressionantes de ameaçar seus jogadores em suas campanhas.

Se você estiver interessado em aprender mais sobre o mundo da Iomandra, confira o wiki.


SEGUNDA À NOITE. Os heróis estão navegando abordo de seu navio elemental, o Turbilhão, quando de repente Capitão Yuriel (interpretado por Nick DiPetrillo) recebe uma mensagem de uma pedra mensageira de seu mentor e benfeitor, Rei do Mar Valkroi. Chegou a informação de que o Rei do Mar Senestrago, o odiado rival de Valkroi e as vezes vilão da campanha, foi morto em uma batalha naval fora das câmeras. 

Para dar essa grande notícia, eu conjurei o melhor sotaque jamaicano que eu pude. De repente, Nick me dá aquele olhar intrigado e diz, “O Valkroi não tem um sotaque australiano?”

Crikey!

Nick está certo — Eu acabei com meus sotaques e NPCs misturados! Não acontece com frequência, mas quando acontece, eu fico terrivelmente desanimado. Eu uso o sotaque jamaicano para exatamente um personagem na minha campanha — um drow lorde do crime chamado Maliq du Mavian. Você acha que eu lembraria de uma coisa dessas! Verdade seja dita, mesmo bons Mestres tem seus maus momentos, e quando o assunto é atuação vocal, eu sou no máximo um amador.

Antes que eu mergulhe de cabeça neste pequeno discurso sobre usar vozes para dar vida a PdMs, deixe-me conta-los sobre o meu recente encontro com um deus entre os artistas de dublagem.

Mês passado, para fechar uma experiência muito agradável no Comicpalooza em Houston, eu dividi uma limusine para o aeroporto com o dublador e anunciante profissional Tom Kane. Nós fizemos piadas sobre carros voadores e porque humanos nunca deveriam ser permitidos tê-los. (Tenho certeza de que soou ótimos nos anos 50 quando os futuristas trouxeram a noção pela primeira vez, mas imagine o Big Mac pela metade, vazamento de anticongelante ou um escapamento enferrujado caindo na sua cabeça de uma altura de 30 metros. Gente, isso não é progresso.)

Enquanto conversávamos e brincávamos, Tom deixou um pouco do Almirante Yularin (da série animada The Clone Wars (Guerras Clônicas)) entrar na discussão. Eu também fui agraciado com um pouco do Yoda e outros poucos personagens do vasto repertório do Tom. As vozes vieram de improviso e sem esforço, e nessa hora que eu percebi que tínhamos mais em comum do que carreiras bem sucedidas no ramo do entretenimento. Tom estava fazendo algo parecido com o que eu faço nas minhas campanhas de D&D e na vida real — mudar as vozes na conversa, geralmente para efeito cômico — só que ele fazia isso muito bem. Ele é, afinal de contas, o profissional, e eu apenas um amador.

Eu não estou me desmerecendo. Afinal, ser um amador não é o mesmo que ser um novato, como evidenciado pelo fato de que tenho mais de 20 anos de experiência fazendo vozes em minhas campanhas de D&D. O fato de que eu não sou pago pelo meu “talento” vocal é que eu não sou um profissional, e francamente eu não tenho certeza se eu tenho chance nesse ramo de trabalho. Atuação vocal requer um treinamento sério. Entretanto, eu sou canadense, o que significa que eu posso fazer um passável sotaque canadense na hora. Eu posso arranhar outros 2d6+7 sotaques do mundo real porque eu assisto muita TV e filmes. A palavra chave aqui é “arranhar”, porque eu não estou certo se posso fazer justiça ao sotaque. Meu sotaque alemão parece que eu estou implicando com os alemães — Sabe o que eu estar dizendo, ya? O mesmo com francês, espanhol, russo, escocês, jamaicano, australiano, bostoniano, minnesotano, texano e assim vai.

Qualquer um que tenha visto os quatro filmes Piratas do Caribe ou os oito filmes do Harry Potter deveria ser capaz de vir com um ou mais falsos sotaques britânicos (a não ser que a pessoa seja genuinamente britânica, então assume-se que venha naturalmente). Se você não pode, é provável que seus lábios foram costurados de cima a baixo. Entretanto, a não ser que você seja um mímico talentoso com ouvidos treinados, a voz que você fala não é a mesma que todo mundo a sua volta ouve. Eu fiz vários podcasts, e cada vez que eu escuto a mim mesmo, eu sinto como se estivesse ouvindo um estranho. Minha voz não se parece com o som que ecoa na minha cabeça quando eu falo.

Consequentemente, quando eu personifico uma pessoa famosa como Jack Nicholson, ou um personagem famoso como Foghorn Leghorn, a voz que eu criei não é exatamente nem uma nem outra. Soa similar mas não é exatamente a mesma. E é, para todos os intentos e propósitos, derivada — e isso é perfeito. Eu não quero Jack Nicholson fazendo parte da minha campanha, mas eu quero um personagem inspirado por ele. Eu não quero Foghorn Leghorn, tão pouco; eu quero um impiedoso capitão do mar com muita sonoridade sulista ou uma cara de pedra esculpida que pensa que sabe de tudo.

Que a Mutilação Comece!

É perfeitamente ok mutilar sotaques do mundo real. E daí que seu sotaque do Maine não soa como o real sotaque do Maine. Não é como se sua campanha fosse no Maine; seus jogadores não vão te odiar por que sua mente desistiu de tentar se lembrar dos verões passados em Bangor. Na minha campanha, eu não tenho escrúpulos sobre “pilhar” dialetos regionais distintos, inflexões e idiomas. E daí que meu capanga tiefling soe como uma caricatura de um marginal de Boston? Meus jogadores se lembram dele. Ele era o cara durão com uma grande boca suja (sem ofensa aos Bostonianos). Rad Longomartelo, o novo interno da Corporação Aquisições, soa como um surfista californiano — ou ao menos minha imitação de um — e ele ganhou mais do que sua justa quantia de gargalhadas no PAX ano passado.

Na minha campanha das noites de Segunda, eu tenho uma PdM recorrente chamada Rhutha. Ela é uma general militar draconata gorda que realmente sabe como espalhar o seu peso por aí. Quando eu falo na voz dela, eu automaticamente separo meu lábio inferior e falo o mais profundamente que consigo, e pronuncio cada sílaba lentamente como se ela fosse a muito perdida irmã draconata de Alfred Hithcock. Então. Eu. Faço. Cada. Palavra. Sua. Própria. Sentença.

Não é de se surpreender, General Rhutha é uma das mais memoráveis vilãs da campanha de Iomandra. Também é fácil para mim lembrar de como a voz dela se parece porque minha postura toda muda sempre que entro na personagem. Eu me espalho na minha cadeira e falo com voz nasal, imbuíndo ela de um certo ar de desprezo. (Eu já mencionei que Mestrar é uma parte atuar, uma parte dirigir e duas partes de improvisação?)

Eu tenho outro PdM draconato que tem uma cicatriz de ter tido sua garganta cortada, e ele fala com um sussuro falhado — simples embora efetivo.

Eu normalmente reservo “novas vozes” (ao contrário de versões tom acima, tom abaixo, acelerada e lenta da minha voz natural) para personagens importantes. Minha campanha tem milhares de PdMs, e seria fisicamente exaustivo e mentalmente pesado dar a cada um uma voz distinta. Meus jogadores geralmente supões a relativa importância de um PdM pela estensão de quanto eu o descrevo o personagem e trabalho na sua voz. Se minha descrição do PdM é básica e o personagem fala com minha própria voz (mais ou menos), os jogadores achamn que eles estão provavelmente lidando com um PdM “descartável” de pouca consequência. Se o PdM ao invés falar como Rosa Klebb em Da Russia com Amor ou “Buffalo Bob” de O Silêncio dos Inocentes, suas expectativas inflam na hora.

Eu raramente esqueço qual voz usar, mas acontece — como evitenciado pelo meu último tropeço com o Rei do Mar Vlkroi. Para mim, o Rei do Mar Valkroi foi visualizado como um particularmente importatne PdM da campanha das noites de Segunda, mas por causa da direção que a campanha foi, ele está mais para uma figura dos bastidores que aparece infrequentemente. Entretanto, eu ainda me sinto um cabeça oca.

Lições Aprendidas

Uma das maneiras mais efetivas de fazer um PdM memorável (após dar a ele ou ela uma característica física distinta, maneirismo ou hábito) é dar a ele ou ela uma voz inspirada em um pessoa real ou fictícia. Qualquer pessoa ou personagem com uma voz legal ou marca registrada é justo: Antonio Banderas. Anthony Hopkins. Katherine Hepburn (“Norrrrrman! The looooons!”). Alan Rickman. James Cagney. Anne “Jogue a Mamãe do Trem” Ramsay. Peter Lorre. Vincent Price. Christopher Walken. Cheech Marin. Zsa Zsa Gabor. Arnold Schwarzenegger. Se você está procurando por algo mais exagerado, tente imitar um personagem como Zapp Brannigan, Yosimite Sam, Jessica Rabbit, Gastão (de A Bela e A Fera), Ren (Steeempy, you Eeeediot!”) ou Vezzinin e Fezzik (interpretados por Wallace Shawn e André the Giant) de A Princesa Prometida.

Eu ocasionalmente venho com vozes “no momento” (particularmente quando eu sou forçado a respirar vida em um PdM do nada), embora eu admita que essses não são sempre os mais bem sucedidos. As vezes o sotaque é muito difícil ou muito duro de se manter; eu uma vez tentei fazer um vilão que soasse como Dr. Garra do desenho Inspetor Bugiganga, mas minha garganta simplesmente não aguentou.. As vezes a voz apenas soa horrível, eu acabei rejeitando e “aparando as arestas” para que ficasse mais saborosa.

Eu gosto de ensaiar as vozes antes. Meu cão de três patas, Reggie, tolera isso durante longas caminhadas pelo bosque, onde ninguém mais pode me ouvir. Um ensaio típico é basicamente 5 minutos de mim tentando imitar algum vilão da TV ou cinema, como o Volemort de Ralph Fienees ou o Davey Jones de Bill Nighy, e talvez distorce-la de alguma maneira (para parecer feminina, por exemplo).

Aqui tem algumas coisas que vale a pena se lembrar enquanto você experimenta bravamente vozes por si mesmo:

  • Pense no ator cuja voz você gosta. Tente imita-la, e não imorta a qualidade, você vai acabar criando uma nova voz de personagem que é toda sua.
  • As vezes um sotaque ruim é melhor que nenhum sotaque, e não precisa ser “mais que o máximo” pra ser memorável.
  • Mude a forma da sua boca. Tente falar com seus dentes cerrados, lábios presos ou com a língua firmemente presa no maxilar inferior. Pode soar estúpido, mas funciona.

Há centenas de outras dicas e truques — se minha ida de limosine para o aeroporto fosse alguns minutos mais longa, eu teria aporrinhado Sr. Kane por algumas dicas de atuação vocal para usar no meu jogo. Se você tem seus próprios truques, eu adoraria ouvir sobre eles.

Até o próximo encontro!
— Mestre pra vida toda,
Chris Perkins

Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: Wizards of the Coast

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