Entrevista com Pedro Coelho, finalista do RPG Superstar 2013

É com enorme satisfação que a REDERPG traz uma entrevista exclusiva com Pedro Coelho , o brasileiro finalista do RPG Superstar 2013. Confira a seguir as perguntas feitas por Marcelo Telles a este herói épico do RPG brazuca.

1) REDERPG: Pedro, primeiramente, uma pequena apresentação sua para os jogadores brasileiros. Quem é você?

Pedro Coelho: Tenho 31 anos, nasci e vivo em São Paulo. Sou formado em publicidade pela ECA-USP, mas sempre trabalhei na área de computação gráfica para TV. Apesar de nunca ter trabalhado com texto, sempre tive vontade de escrever e criar histórias e enredos. Interesso-me bastante por ficção e teoria da ficção, seja em literatura, cinema, RPGs… Fui um leitor ávido de histórias em quadrinhos na minha infância e adolescência, mas perdi o hábito de ler HQs.

2) REDERPG: Sua vivência e experiência com o RPG?

Pedro Coelho: Acho que a primeira vez que vi qualquer coisa sobre RPG foi em um anúncio de contracapa de alguma HQ americana; era um anúncio de Dungeons & Dragons. Na época, eu nem sabia o que era RPG e não lia em inglês, mas meu irmão comprava alguns títulos originais da Marvel. Não sei o porquê, mas esta estética de fantasia medieval sempre me atraiu; quando eu era moleque, adorava o desenho da Caverna do Dragão – só fui descobrir que aquilo era D&D anos mais tarde. Meu primeiro contato efetivamente jogando foi com um box de Dragon Quest da Grow, quer era um licenciamento de D&D, ainda que com outro nome. Isto foi por volta de 94. Joguei bastante com meus primos, mas fui o único que seguiu com este interesse. Na minha adolescência tive um breve contato com Gurps, Vampire: the Masquerade e Werewolf: the Apocalypse, mas não tinha um grupo para jogar. Só fui realmente ter uma regularidade de jogo depois que entrei na faculdade. Conheci um pessoal que jogava bastante, e a 3ª edição de D&D tinha acabado de ser lançada. Com o livro na mão, começamos uma campanha que durou um pouco mais de um ano… Meu primeiro personagem foi um halfling ranger muito mal montado. Esta turma tem sido meu grupo de jogo nos últimos dez anos, e já experimentamos uma série de sistemas, embora nosso forte seja mesmo o velho Mundo das Trevas e fantasia medieval.

3) REDERPG: E especificamente com o Pathfinder RPG?

Pedro Coelho: Quando a 4ª edição de D&D saiu, fui atrás dos livros para dar uma olhada. Pesquisei bastante sobre ela na internet, e como todos sabem foi um lançamento que dividiu a base de fãs de RPG. Em algum fórum de discussão vi uma pessoa indicando o Pathfinder como sucessor do Open Game License e da edição 3.5. Eu já gostava bastante do conjunto de regras da 3ª edição e das revisões feitas na versão 3.5, e quando vi as mudanças implementadas pela Paizo, fiquei bastante interessado em Pathfinder. Comprei os livros base e converti a aventura que eu mestrava de D&D 3 para Pathfinder. Todos foram bastante receptivos à mudança. Paralelamente, li o livro base de D&D 4ª edição, e embora tenha gostado de algumas ideias, o sistema de regras não me agradou muito. Então acabamos adotando Pathfinder definitivamente como nosso sistema oficial de fantasia medieval.

4) REDERPG: O que te levou a participar do RPG Superstar 2013? Foi a primeira vez que participou do concurso da Paizo?

Pedro Coelho: Gosto de escrever histórias, e não é uma coisa que eu tenho a oportunidade de fazer na minha linha de trabalho. O RPG Superstar é uma bela porta de entrada para trabalhar como freelancer para o mercado editorial americano, e a vontade de escrever profissionalmente já me acompanha há alguns anos. Descobri o RPG Superstar acidentalmente no fim de 2010, quando estavam lançando a edição 2011 do concurso. Eu utilizava o site da Paizo apena para checar regras nos message boards, e devo ter clicado no link do concurso por curiosidade. Ainda deu tempo de mandar um item mágico, que tinha vários problemas e não recebeu nem muita discussão da parte dos juízes. No ano seguinte, enviei outro item, que tinha uma ideia central boa, mas cometia alguns erros graves de design. Finalmente, na edição 2013, consegui balancear originalidade com equilíbrio de jogo, e acabei conseguindo uma vaga nos Top 32.

5) REDERPG: Você sabe que antes de você, apenas o João Marcelo Beraldo, que escreveu o romance “Véu da Verdade”, tinha chegado ao Top 16 do RPG Superstar 2009? Você pretende investir em uma carreira como escritor de RPG no mercado americano?

Pedro Coelho: Sabia que o João Beraldo tinha conseguido chegar ao Top 16 em 2009; foi o ano em que o Neil Spicer ganhou – aliás, foi um ano forte. Para aprender a criar bons itens, pesquisei muito todas as edições do concurso, então estou familiarizado com muitos nomes de concorrentes de anos anteriores. O João competiu com um item que se chamava Heart of Oblivion e um vilão que era um wraith chamado Boemundo, se não me engano. Acho muito bacana este lado global do concurso, que dá oportunidade para pessoas do mundo inteiro participarem; para a Paizo, acredito que isto também seja interessante, pois aumenta a visibilidade da editora fora dos EUA. Quanto à intenção de investir em uma carreira como escritor, sim, pretendo me dedicar a isto, mas não acredito que chegue a ser minha ocupação principal ou ganha-pão. A verdade é que muita gente escreve RPG por paixão pelo hobby, não necessariamente pelo dinheiro. Gostaria de escrever obras literárias no futuro, se possível, mas neste momento o mais importante é tentar criar uma relação de freelancer com a Paizo e outras editoras que produzem produtos compatíveis.

6) REDERPG: Algumas dicas para os jogadores brasileiros que queiram participar no ano que vem do RPG Superstar?

Pedro Coelho: Minha primeira dica é: saiba bem o motivo por que você está entrando na competição. Acredito que existem dois tipos de concorrentes: aqueles que encaram o concurso como uma entrevista de emprego e aqueles que entram por diversão ou curiosidade, apenas para fazer parte de um concurso legal. Os dois motivos são válidos, mas se a pessoa não está interessada em ganhar o prêmio principal – que é um contrato de trabalho – acho que ela não vai chegar muito longe. A segunda coisa é: estude muito! Estude as regras, estude o histórico do concurso, aprenda o que fazer e o que não fazer. Os fóruns das edições anteriores do RPG Superstar têm tudo que você precisa para aprender sobre game design. A Paizo é fantástica no fornecimento de feedback, eles são muito transparentes com isto. Todo ano, a primeira fase consiste na criação de um item mágico, então se especialize nisto, a princípio. Arrisco dizer que é a fase mais difícil. Por último, capriche no inglês. Mesmo tendo ficado no Top 32, recebi críticas quanto à qualidade da escrita no primeiro round. Consegui superar este problema, mas não é fácil escrever em alto nível em um idioma estrangeiro. Então, leia muito em inglês, veja filmes em inglês, pratique escrita em inglês, enfim, aprenda bem o idioma, pois é a sua ferramenta de criação, e os demais competidores em sua maioria já a dominam. Ah, e se possível, aprenda um pouco sobre Golarion, que é o cenário base da Paizo. Existe um Pathfinderwiki que é uma ótima fonte sobre Golarion.

7) REDERPG: Pedro, em nome dos jogadores brasileiros e da REDERPG, eu quero dizer que, independente do resultado, você é o nosso Superstar! Parabéns por essa conquista épica e cada vez mais sucesso para você em todos os seus empreendimentos!

Pedro Coelho: Muito obrigado! Embora já seja ótimo chegar à última fase, ainda fico na esperança de levar o caneco. Vai ser difícil, pois os meus concorrentes fizeram ótimos trabalhos, mas acredito na qualidade da aventura que criei. Em breve saberemos o resultado, mas seja qual for, foi uma experiência fantástica e muito construtiva. Encorajo a participação brasileira nos próximos anos, pois é uma das melhores vitrines de talentos do RPG atual, e vale muito a pena se esforçar para chegar lá. Quem tem vontade de escrever profissionalmente deveria aproveitar esta chance.

 

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