RPG e Educação – Botando a mão na massa!

Falar de RPG Educacional para quem já joga é fácil, porém, uma das primeiras barreiras é apresentar os métodos para direção, coordenação, professores e alunos que são, na grande maioria das vezes, completamente leigos no assunto. O RPG Educacional é uma ferramenta quase sem fronteiras, que de modo bem organizado pode atrair o interesse do aluno e proporcionar um aprendizado sem igual, fixando os conteúdos de uma forma divertida. 

Tentaremos neste artigo, passar aos colegas educadores como nós apresentamos e implementamos da forma prática o RPG Educacional nas diversas instituições de ensino onde tivemos o prazer de atuar.

A Aventura de Apresentação

A Aventura de apresentação é uma forma rápida e simples de mostrar como uma partida de RPG pode se adequar ao conteúdo programático e como esse artifício vai fazer o aluno se interessar pela matéria usando o conhecimento adquirido no desenrolar do jogo.

Mas como fazer essa primeira aventura?

Bom. A primeira aventura deve usar conhecimentos prévios dos alunos, não é necessário prepará-los para ela. Cabe ao educador adequar a temática da aventura ao seu atual nível. O propósito desta atividade é lhes aguçar a imaginação e levá-los a desenvolver suas respostas. Em suma, fazer com que o aluno se lembre do conteúdo e o aplique para resolver os problemas propostos no jogo. Essa primeira aventura é de extrema importância, pois é ela que vai despertar o interesse no método. Se esta primeira for ruim o interesse será destruído, porém se ela for agradável a possibilidade de uma nova aventura motivará a busca pelo conhecimento.

Exemplo de Aventura de Apresentação

Essa aventura pode ser feita de inúmeras formas. Vamos citar aqui um LIVE ACTION (jogo de RPG onde os jogadores vestem-se como os personagens e interpretam toda a temática, tomando inclusive as decisões que o personagem tomaria). Neste Live, organizado no Colégio Batista do Laranjal, em São Gonçalo, vinte e dois alunos interpretaram diferentes personagens envolvidos na seguinte trama:

Uma empresa fictícia chamada SunEnergy, responsável pela construção e manutenção de diversas usinas nucleares pelo mundo, iria instalar uma nova subsidiária no litoral do Rio de Janeiro. Todos os interessados ou envolvidos no projeto seriam recebidos numa Festa organizada pela empresa onde os anfitriões seriam representados pelos educadores. Estes intermediariam, incitariam ou terminariam os conflitos e situações necessárias ao desenrolar da trama.

Com vinte e dois alunos tivemos bastante trabalho, pois definimos um personagem para cada um. Os papeis foram entregues uma semana antes do evento contendo somente o nome e o cargo que ocupava na história, ficando a cargo dos alunos a pesquisa sobre a temática do jogo. Havia desde o Governador do Estado, passando por Embaixadores, cientistas e técnicos, até ativistas ecológicos. A idéia era explorar temas de natureza ambiental, política, geográfica e científica, fazendo com que os alunos usassem conhecimentos prévios e chegassem a uma conclusão sobre a viabilidade, ou não, da instalação da usina. Eles discutiram temas como impacto ambiental da construção, interesses políticos, corrupção, sendo sempre orientados pelos educadores que participavam das conversas assim como se faz numa festa comum.

A própria temática do Live e a posição dos personagens na trama instigava a pesquisa e as discussões sobre o problema proposto. Por exemplo:

  • Os ativistas Ecológicos não foram convidados para festa, mas simbolicamente “pularam os muros” para poder participar e desta forma expressar sua opinião. (eles tiveram que estudar sobre o que motiva os ecologistas para com isso tomar as decisões que um ecologista tomaria)
  • A Engenheira da Sun Energy defendia a instalação da usina no Brasil. (esta aluna em particular, trouxe um documento de várias folhas onde provava a segurança das usinas nucleares pelo mundo e seus benefícios. Esta pesquisa foi por ela, que inclusive no decorrer da trama explanou aos outros participantes da festa sobre estes benefícios)
  • Os Políticos agiram como políticos. Articulavam e negociavam locais, impostos e favores. Tivemos políticos honestos e desonestos. (os alunos viram e sentiram a força da manipulação, da negociação e da influência política).
  • Por fim, como que por uma brincadeira do destino, após a descoberta de um “documento” que provava as falhas de segurança, a usina não foi instalada no Brasil e sim na Argentina.

Este foi um caso especial. Esta aventura era grande, foi assistida por quase todo o colégio, pois ela aconteceu na Semana da Ciência. Ela abriu as portas para o uso do RPG educacional naquele estabelecimento de ensino. Mas a “aventura de apresentação” não precisa ser desta magnitude, ela pode ser feita em uma sala, com sua turma utilizando os mesmo critérios básicos para criação.

Aventuras de Fixação.

A Aventura de Fixação é a continuação do trabalho. Partindo-se do princípio que a “Aventura de Apresentação” foi agradável, os alunos passarão a esperar pela próxima experiência. É aí que o educador irá motivar os seus alunos durante a seqüência da temática curricular, pois no final de um período (a critério do professor) uma nova aventura acontecerá e os alunos não irão querer ser pegos de surpresa, portanto irão estudar. A chave é: “conhecer a matéria para não fazer feio na aventura”.

A motivação é o grande diferencial aqui. Os alunos estudam para uma prova (e os alunos não gostam de fazer provas), mas agora ele vai estudar para participar de uma aventura, de um fato diferente, interessante e que na verdade, vai, no futuro próximo capacita-lo a passar pelas etapas de avaliações curriculares da instituição. (Se aluno tem sucesso na aventura, conseqüentemente terá sucesso nas provas, pois terá absorvido o conteúdo)

Considerações Finais

A utilização do método do RPG Educacional deve ser ministrada com “tato”, afim de não ser “banalizada”. A essência é o DIVERTIMENTO, e isso não pode ser exacerbado. O método não pode se sobrepor a metodologia atual de ensino e sim ser usado com uma PODEROSA FERRAMENTA de facilitação de absorção de conteúdo.

Deivison Pacheco dos Santos
Profissional de TI e
ex-proprietário da Casa do RPG em Niterói.
&
Onofre Saback dos Anjos
Professor de Ciências Biológicas da Rede Estadual
e Particular do Estado do Rio de Janeiro
e ex-proprietário da Casa do RPG em Niterói.

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2 Comments
  1. Eu tava tentando criar algo que chamasse a atenção da Direção do IFF para este tipo de atividade e acho que agora encontrei o tema. O objetivo é o mesmo, então não é problema o plágio.=]

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