Don’t Lose Your Mind (resenha)

NADA COMO UM DIA (OU LIVRO) APÓS O OUTRO

Existe uma questão que assola a minha mente com certa freqüência, e não se trata sobre a existência de extraterrestres ou vida após a morte. A minha dúvida é mais simples e terrena, mas mesmo assim vou dividir com vocês: por que sempre que temos uma grande expectativa sobre algum evento ou lançamento de um produto, este nunca consegue corresponder à mesma altura? É verdade! Não sei se isso ocorre com todo mundo, mas comigo acontece frequentemente já há um bom tempo. Vejam alguns exemplos:

– Depois de 6 anos sem gravar nada inédito, o disco Load do Metallica não foi digerido facilmente por mim. Esperei muito por ele e achei muito fraco na época. Atualmente já considero uma pérola, tendo como referência o St. Anger.
– Após o sensacional primeiro episódio, Matrix Reloaded tinha que ser só aquilo? E o que falar de Exorcista II? E Stargate, Herdeiros dos Deuses? O único comentário coerente sobre isto seria algo do tipo: “Quem m$#%a fizeram com o filme?”. Creio que no caso específico de filmes, este problema de excesso de expectativa pode ter influência (ou ser influenciado por) outro fenômeno não menos interessante – a síndrome das terríveis continuações, mas essa discussão fica para outro momento;
– E o que falar sobre a pseudo-continuação de O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller? E Silent Hill 2?

Dizem que toda regra tem sua exceção, e neste caso não é diferente. Existem produtos que eu aguardava ansiosamente e conseguiram corresponder bem, como Jogos Mortais 2, a mini-série Origem do Wolverine, God of War 2, o disco do Cavalera Conspiracy, entre outros. Porém, nem sempre tudo dá certo.

Recentemente experimentei novamente essa sensação de certo desapontamento, desta vez com o RPG, quando abri o arquivo do tão aguardado (pelo menos por mim) Don’t Lose Your Mind, o primeiro suplemento para o excelente Don’t Rest Your Head. Se você ainda não o conhece, pode encontrar a resenha aqui na REDERPG.

O Conteúdo

DLYM é uma grande coleção de Madness Talents, ou para quem não leu a resenha anterior, uma grande relação de poderes para serem usados pelos personagens. A lista alfabética de substantivos tem relação com a principal característica do Talento, como A para Ant (formiga) e assim por diante.

Cada talento é descrito através da maneira já consagrada pela linha Storyteller: um pequeno conto introduz uma situação onde o poder é usado, servindo como exemplo prático e para dar o clima certo; após isso, a descrição do talento segue o mesmo padrão utilizado no livro básico DRYH, onde são explicados o que (1) o personagem pode fazer com esse poder, (2) como ele reage de acordo com as respostas, (3) como ele altera o físico e a psique do protagonista, sendo lentamente corrompido pela loucura e exaustão e, o mais importante, (4) descreve de maneira primorosa o processo de perdição do personagem, quando todos os seus pontos de Discipline são consumidos pela Madness, transformando-o em um Nightmare.

Considerando ainda esta última característica, DLYM pode ser considerado também como um belo compendium de monstros ou antagonistas, já que para cada Talent descrito tem-se um Nightmare correspondente. São ao todo 23, o que aumenta substancialmente a quantidade deste tipo de antogonistas, somando-se aos presentes no livro básico. Ponto positivo.

O grande problema com DLYM é justamente a sua virtude. O livro é praticamente só isso. Talents e Nightmares. Ainda que bem executados, é pouco material para um livro tão volumoso e ainda mais se considerando as “pontas soltas” que ficaram após a leitura de DRYH: com tamanho potencial de idéias para um primeiro suplemento, uma coletânea de Talents seria uma das últimas coisas que eu pensaria, e o que os jogadores precisariam, porque a criação destas características para os personagens é uma etapa simples e muito divertida do jogo. Uma lista de poderes acaba roubando um pouco desta boa experiência.

Nos poucos momentos em que DLYM tenta sair de sua principal proposta ele se mostra competente. Existem cerca de 10 páginas comentando aspectos de interpretação referentes à loucura, e como se recuperar da influência da mesma. Ponto altamente positivo para a descrição das possibilidades de interpretação durante o uso das Responses. Dicas realmente bem elaboradas e úteis para o andamento do jogo, dirigidas tanto para o GM quanto para os players.DLYM capa

O Livro

O volume começa bem, com uma bela capa colorida. Fiquei muito feliz ao ver que se tratava de 132 páginas, bem maior do que o próprio livro básico. Logo após já perdi a minha mente, pois não pude encontrar o índice ou algo do gênero, apenas uma lista com as letras do alfabeto, seguidas por um substantivo, o que parece um tanto confuso, ainda mais considerando a grande quantidade de páginas do livro.

As ilustrações internas são excelentes, todas coloridas descrevendo cenas relacionadas ao conto introdutório e, conseqüentemente ao Talent associado.

A diagramação também merece destaque apresentando belos recursos visuais, tornando o texto organizado e com estilo moderno. Outra coisa a lá White Wolf.

O conteúdo é distribuído de acordo com a lista de letras acima, misturando cores e naipes de baralho para a organização dos Talents. Após a imensa lista de poderes, pode-se encontrar os breves ensaios contendo as dicas de interpretação. Como dito acima, a ausência de um índice ou similar prejudica muito a fácil localização dos tópicos espalhados no livro. O esquema de naipes é bonito, porém nem um pouco funcional.DLYM imagem

Em suma, DLYM consegue ser um livro mediano, propondo um material de excelente nível, sendo nesse caso os Talents. O grande problema é justamente até que ponto esta quantidade de poderes será realmente útil em uma aventura de DRYH. No momento seria mais interessante um suplemento que descrevesse mais profundamente as localidades da Mad City, por exemplo. Ou fornecesse detalhes sobre os Nightmares mais famosos, brevemente citados no livro básico. Já o capítulo que fornece dicas de interpretação é realmente interessante e útil, porém padece de quantidade de informações e, principalmente, da maneira extremamente coloquial em que é escrito.

DLYM contém material bem executado, porém de utilidade discutível. Pode valer a pena se você estiver jogando uma campanha muito avançada de DRYH. Após a leitura, tem-se uma sensação de “poderia ser melhor”, ainda mais considerando o alto valor cobrado pelo livro.

Fica a lição de parar de acompanhar o blog e trocar e-mails com o Fred Hicks, o autor do DRYH. Assim não ficarei sabendo dos próximos lançamentos e nenhuma grande expectativa será gerada.

Ficha Técnica:
Don’t Lose Your Mind – Making the Most of Madness in the Mad City
Por Benjamin Baugh, 132 pgs em arquivo .PDF, 2008

www.evilhat.com/home/dont-lose-your-mind-3/

Resenha por Clayton Mamedes

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Essa resenha de Don’t Lose Your Mind foi publicado originalmente no antigo portal em 22 de novembro de 2008 e teve 2.237 leituras.

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