L5A: A Morte em Lenda dos Cinco Anéis

Ilustrador: Matt Zeilinger

“Um samurai vive a 3 pés da morte”. Este é um ditado popular muito conhecido em Rokugan. Morte é um aspecto importante na vida de um samurai e L5A leva isso muito a sério. Desde a vigésima pergunta até a mecânica de níveis de ferimento e dano, o sistema prepara o jogador e Mestre de Jogo para a morte dos personagens.

Mas o que fazer quando um personagem morre? Como manter um jogador motivado ao ver o tempo e esforço para montar um personagem, com sua histórias e planos, desperdiçados? Como um Mestre pode manter sua campanha cuidadosamente criada pensando naquele grupo, que agora jaz incompleto?
Neste artigo lidarei com a morte no Império Esmeralda e como usá-la em seu benefício.

Morte como Consequência dos Dados vs. Morte por Consequência da História
Antes de poder lidar com a morte de um personagem, e preciso definir como ele morreu. De maneira geral há duas formas de um personagem morrer: escolhas e azar.

As escolhas são o que define a história, mas escolhas exigem sacrifícios. Decisões não são exclusividades dos jogadores: o Mestre pode optar por criar uma situação onde a morte de um personagem é inevitável. Isso pode parecer cruel, mas, com uma história bem elaborada, a ambientação de L5A é perfeita para este tipo de situação.

Os samurais buscam por uma oportunidade de provar seu valor e ganhar seu espaço no Yomi, o reino do ancestrais abençoados. Esta é a maior recompensa que um personagem pode receber e, quando os jogadores a mantém em mente, é possível uma melhor colaboração deles em fazer grandes sacrifícios e garantir uma história memorável.

No caso da morte por azar, esta basicamente ocorre devido a uma jogada de dados. É bom lembrar que nem todas as mortes devido à jogadas de dados são mortes por azar, muitas vezes os jogadores assumem a possibilidade de morrer ou fazem escolha arriscadas e as jogadas são reflexos destas ações. As mortes por azar são momentos em que ninguém espera o acontecimento e exige maior capacidade de improviso dos jogadores e Mestre.

Em alguns casos a morte do personagem apenas significa que o jogador criará um novo personagem e o introduzirá à campanha em andamento. Em situações extremas, em que o grupo todo morre e a campanha é abandonada, inicia-se uma nova campanha com novos personagens.

Entretanto, a morte de um personagem é uma ótima oportunidade para abordar um aspecto mais pessoal da campanha, ou para levar a campanha por caminhos inesperados.

Morte no Império Esmeralda – O Ciclo Cármico
Não vou entrar em detalhes sobre os rituais funerários em Rokugan, este são extensivamente descritos no suplemento Império Esmeralda. Aqui pretendo falar mais do que acontece com a alma do falecido (em L5A o termo correto é “espírito”, mas, para não causar confusão com os espíritos nativos dos Reinos Espirituais, usarei “alma”).

Informações sobre a pós vida, Reinos Espirituais e reencarnação em Rokugan estão espalhadas por vários livros da 4ª edição. Entretanto o suplemento Secrets of the Empire (ainda sem tradução para o português) é o que apresenta em maior detalhe o funcionamento de cada Reino.

As próximas linhas serão um resumo de como funciona o ciclo cármico, por onde a alma de todos os seres vivos passa.

Logo após a morte, a alma de um mortal permanece no Nigen-do, o reino físico, por algum tempo e seu destino é muito influenciado pelas circunstâncias no momento de sua morte, bem como o ambiente em que a alma fica durante este período.

Caso a alma permaneça muito ligada ao mundo físico ou lhe falte os rituais funerário adequados, a alma torna-se um yorei, uma assombração, e permanece no Nigen-do até que seu assunto pendente seja resolvido.

Se não houver motivos para a alma permanecer no mundo físico, ela é atraída pelos Reinos Espirituais. Normalmente a alma viaja até o Meido, o reino da espera, onde aguardam o julgamento de Emma-o, a fortuna da morte, ou dos deuses gaijin da morte (dependendo da linha temporal).

Uma vez julgadas no Meido, as almas tem alguns possíveis destinos:

– Caso sejam considerados donos uma vida indigna, são condenados ao Gaki-do, o reino dos mortos famintos, para serem punidos de acordo com seus crimes em vida, purificando sua alma de qualquer impureza e, assim, recebem a possibilidade de reencarnar.

– Alguém que tenha manchado sua alma com ações impuras de tal modo que não tem mais como se redimir é enviado para o Toshigoku, o reino da matança, onde ficará pela eternidade, removido do ciclo cármico.

– Almas que ainda não cumpriram seu destino, mas levaram uma vida relativamente digna, são guiadas a reencarnar até que cumpram seus destinos e possam ser elevadas a Yomi.

– Aqueles que alcançam seu destino e realizam a vontade dos Paraísos Celestiais são recompensados com um lugar no Yomi, o reino os ancestrais abençoados, honrando seus ancestrais e trazendo glória a sua linhagem.

– Em alguns raros casos, quando um samurai é arrancado de seu destino e morre de forma imprevista ou tem sua existência afetada por almas que vieram através do Portal do Esquecimento, sua própria alma segue para o Maigo no Musha, o reino dos heróis perdidos, onde são afastados do ciclo cármico para que, em algum momento, consiga retornar a mesma.

– Por fim, aqueles que morrem após sucumbir à mácula são levados ao Jigoku, o reino do mal, para sofrer pela eternidade nas mãos dos oni.

Planejando uma Morte: Como manter personagens mortos na campanha
A morte de um PJ não precisa ser consequência dos desafios que estes encontram. Do mesmo modo que um Mestre planeja a morte de um PdM como ferramenta narrativa, ele pode fazer isso com os jogadores. Para garantir o melhor impacto do acontecimento, manter este planejamento em segredo é importante, mas caso o jogador perceba que o Mestre matou seu PJ deliberadamente, ele pode ficar ressentido. Por isso, apesar de ainda ser bom manter o planejamento da morte de um PJ em segredo do resto do grupo, é bom que o jogador dono do PJ saiba dos planos, inclusive para poder participar de acordo quando o momento chegar e para ter tempo de preparar seu próximo PJ, se necessário.

Após a morte do personagem, vem a parte difícil, mantê-lo em jogo. Em Rokugan existe um detalhe crucial, não há magias que permitam ressurreição, pelo menos não magias honradas. Quando um personagem morre, ele morre de vez. Isso não significa que ele simplesmente sairá da história.

A própria morte do personagem pode gerar uma repercussão ao ponto de influenciar os rumos da campanha. Dependendo do status que o PJ conseguiu, as circunstâncias de sua morte podem gerar um incidente político. Somado a isso, a alma do falecido pode influenciar diretamente o grupo de algumas maneiras.

No caso de uma morte honrada, a alma do PJ irá ao Yomi e pode escolher guiar o grupo na forma de ancestral, aqui cabe bem o uso de desvantagens como Assombrado ou vantagens espirituais ligadas aos ancestrais (na 3ª edição do L5A havia regras para montar ancestrais customizados, estas regras podem ser facilmente adaptadas para a 4ª edição).

Para uma morte onde o jogador sente que seu personagem ainda deixou muito por fazer, este pode retornar como um yorei e caberá ao grupo ajudá-lo a resolver o que o prende no Ningen-do e fazê-lo encontrar paz.

Em um caso mais extremo, quando a morte é particularmente violenta ou ocorreu devido aos três pecados (Medo, Desejo e Arrependimento), o trauma sofrido pela alma pode torná-la um ser distorcido, que busca o mal e a destruição, transformando-o em um novo vilão na história, caso consiga retornar ao Ningen-do.

TPK (Total Party Kill: Morte de Todo Grupo)
Quando todo o grupo se encontra em uma situação onde sua sobrevivência é impossível, não necessariamente significa que a campanha em curso acabou. Este é um grande momento onde é possível explorar uma região particularmente desconhecida, os Reinos Espirituais.

Aqui o grupo falecido pode se encontrar perdido em algum dos reinos devido alguma influência externa, tendo de encontrar uma maneira de chegar ao Meido para poder receber seu julgamento e conseguir reencarnar (ou conseguir seu lugar no Yomi) ou para retornar ao Ningen-do para avisar ao Império de alguma ameaça iminente.

Outra opção é avançar a campanha alguns anos e fazer com que o grupo retorne como a reencarnação dos antigos personagens, tendo que lidar com a repercussão de seus antigos atos e falhas.

Claro que é possível misturar algumas propostas: assim que o grupo morre, este precisa passar por alguma provação antes de poder reencarnar, então, quando o faz, retorna ao Ningen-do com personagens novos, reencarnações dos personagens antigos, tendo a oportunidade de finalmente cumprirem seus destinos.

As possibilidades são inúmeras, cabe ao Mestre e jogadores trabalharem juntos para criar grandes histórias e explorarem ao máximo as peculiaridades deste cenário.

Que os ancestrais guiem seus dados! Bom jogo!

Lucas Grillo
Equipe REDE
RPG

Ilustrador: Matt Zeilinger

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