Pathfinder 2e – Componentes materiais: realmente vale a pena usar?

Uma das regras mais ignoradas em mesas de Pathfinder ou outros sistemas de fantasia medieval inspirados em Dungeons & Dragons é a dos componentes materiais. A premissa é simples: para se utilizar determinadas magias, alguns itens são requeridos e, por vezes, consumidos pelo conjurador. A aplicabilidade da regra, porém, sempre foi motivo de reclamações por parte de inúmeros jogadores, já que ela adiciona uma boa dose de complexidade ao uso de magias. É bem verdade que a exigência de componentes esdrúxulos para magias nem tão úteis também contribuiu para esta antipatia. Por não ser uma diretriz bem quista, o que acompanhamos ao longo do tempo foi uma franca simplificação do uso de componentes materiais. O ápice dessa tendência é o que vemos em Pathfinder 2ª edição: a bolsa de componentes materiais, que contém o suficiente para a utilização de magias pela bagatela de 5 peças de prata. A impressão é a de que os componentes estão ali no sistema de regras apenas de forma protocolar, em vias de extinção. Além do (baixo) custo, os componentes implicam apenas na necessidade de se ter uma mão livre para o uso do material. Uma simplificação realmente excessiva e que precisa de um ajuste para tornar a regra mais interessante, garantindo maior equilíbrio às partidas. Do contrário seria melhor eliminá-la de uma vez. Mas antes de qualquer sugestão de melhoria, é importante justificar o porquê de preservar esta regra, confrontando as principais críticas desferidas aos componentes materiais, já tão combalidos hoje em dia. Vamos lá:

1) Os componentes materiais enfraquecem as classes conjuradoras que dependem deles.
Esse é um argumento frequentemente repetido por aqueles que não simpatizam com o uso de componentes. Não há dúvidas de que os componentes materiais representam um limite para o mago, sempre dependente da bolsa e de suas “munições” para a conjuração de magias. Contudo, essa é uma forma de compensar as classes que conjuram magias de forma inata. Um feiticeiro, por exemplo, tem a vantagem de dispensar o uso de componentes em magias de linhagem. Mas o seu repertório de magias é bem menor do que o de um mago, que tem a opção de acrescentar novas magias em seu grimório ao longo da jornada. Diante dessa grande vantagem, a imposição de certos limites, como a exigência de componentes materiais, serve como contrapartida. E até uma questão de coerência dentro do universo da fantasia medieval: se o poder do Mago não é inato ou espontâneo, é razoável que os critérios de conjuração sejam mais exigentes para essa classe.

2) Os componentes materiais travam o ritmo do jogo.
Os componentes materiais travam tanto o ritmo do jogo quanto as flechas de um arqueiro. Os componentes, como já foi mencionado, servem como “munições” para a conjuração de magias. No entanto, considerando a potencialidade de uma magia e a de uma flechada, é justo que as “munições” mágicas sejam mais complexas e difíceis de conseguir. Na verdade, pensando na dinâmica de uma campanha, a necessidade de um personagem conjurador conseguir um componente material específico pode ser, inclusive, gancho para o desenrolar de uma aventura.

3) Componentes materiais não podem ser obtidos em qualquer lugar.
A raridade dos componentes materiais usados em magias depende do cenário de campanha. Em mundos de alta fantasia, seria muito mais fácil obter esses componentes do que em uma ambientação low fantasy, onde a magia é menos corriqueira e cotidiana. Obviamente, não podemos esquecer os aspectos econômicos pertinentes à ambientação: pequenas vilas dificilmente disponibilizariam componentes para magias de alto nível, enquanto que em uma capital imperial, os componentes poderiam ser conseguidos mais facilmente. Então, no fim das contas, é até um fato que os componentes materiais não podem ser obtidos em qualquer lugar. Mas para os que almejam um jogo verossímil, isso não é um problema.

4) Componentes materiais desestimulam o uso de magias que os exigem.
Essa afirmação só é correta se a magia não é útil ou interessante o bastante por si só. Um jogador jamais deixaria de usar campo antimagia pelo fato dela exigir componentes materiais. A grande verdade é que, em uma típica mesa de Pathfinder, o potencial da magia sempre será a prioridade. Uma magia como desejo, independente do custo, ainda seria atrativa o suficiente para os jogadores.

5) Os componentes materiais, no fim das contas, não têm nenhum impacto no equilíbrio do jogo.
As magias, sem dúvidas, estão entre os elementos mais poderosos em Pathfinder. Um conjurador de alto nível, com um bom repertório, é capaz de fazer coisas impensáveis para um guerreiro ou um ladino. Se não houver regras e limites para o uso de magias, certamente haverá um desequilíbrio no jogo, já que as magias podem ser muito destrutivas ou definitivas. Por isso, um mago deve ser muito zeloso com o seu grimório, enquanto que conjuradores inatos tem uma seleção mais restrita de magias.

Os componentes materiais, então, funcionam justamente como um desses limites.

As repetidas críticas a essa regra, embora nem sempre coerentes, teve papel importante na simplificação do uso de componentes materiais para magias em Pathfinder 2ª edição. Existe um lado positivo na simplificação: evitar componentes materiais singulares demais ou quase impossíveis de conseguir, reunindo em um pacote as “munições” para o uso de magias. Mas a vulgarização das bolsas de componentes, que além de tudo possui um custo tão baixo, não soa bem. Uma regra alternativa que aproveita esse princípio mais simples ao mesmo tempo em que oferece maiores limites aos conjuradores, seria estabelecer um custo diferenciado e uma quantidade menor de utilização conforme o nível da magia. Vejamos uma fórmula neste sentido:

Bolsa de Componentes Materiais

Custo: 30 po x Nível da Magia
Utilizações: 11 – Nível da Magia

Isso tornaria a bolsa de componentes mais custosa (afinal, estamos falando de magias, quem não aproveitaria para lucrar com isso?) e especificaria melhor o número de utilizações, sempre levando em consideração o nível de poder da magia em questão. Assim, de forma prática e coerente, a regra dos componentes materiais mantém a simplicidade sem abrir mão de seu propósito: limitar a conjuração de magias.

Por Luís Rafael
Equipe REDE
RPG

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