“Uma aula diferente”

O uso de dinâmicas de RPG
no ensino de Matemática e Física

Introdução

Pretendo descrever uma parte de um mini-curso que ministramos em maio de 2001, onde em dois momentos nos aventuramos em usar RPG para transmitir e aprofundar os conhecimentos de física e matemática dos alunos-participantes.

Os participantes do mini-curso eram alunos do primeiro e segundo anos do ensino médio do Colégio Júlia Fialho, em Fortaleza.

Este mini-curso era parte do processo de avaliação do curso de formação pedagógica que a Universidade Estadual do Ceará promove para os professores que possuem apenas o bacharelado.

Ao montarmos este mini-curso tínhamos um grande dilema: como fazer um mini-curso de matemática de forma atraente e agradável para os participantes?

Queríamos ao montar este mini-curso algo diferente com relação à sala de aula, algo que motivasse os participantes a saírem de suas casas e passarem dois sábados, o dia inteiro, no colégio.

A solução encontrada foi o uso de jogos e, entre estes, o RPG foi escolhido para ocupar metade das atividades.

O RPG.

Conhecíamos o RPG já há quase um ano, neste tempo tivemos acesso ao material editado e conversamos com vários jogadores.

Apesar de nunca termos jogado, tínhamos a firme convicção que estávamos diante de uma ferramenta muito poderosa para melhorar a nossas aulas de física e matemática.

O RPG conseguiu fazer com os nossos alunos algo que há muito sonhamos, isto é, deixa-los atentos ao que ensinamos e ao mesmo tempo entusiasmado com o assunto ensinado.

Para aplicarmos o RPG utilizamos um dos jogos desenvolvido pelo psicólogo Alfeu Marcatto, chamado de Ataque Aéreo, que obtivemos no site do mesmo e nos autorizou a usá-lo por meio de contato telefônico. Fizemos algumas adaptações com o intuito de melhorar o jogo para os nossos participantes.

Neste jogo é mostrado a aplicação do RPG para o ensino de diversos conteúdos, em particular, demonstra a aplicação das Equações do M.U. e do M.U.V. da física, o jogo transcorre em um cenário fictício onde quatro países (cada equipe é um país) disputam a conquista de novas áreas territoriais. Essas áreas possuem defesas que devem ser desativadas por meio de senhas obtidas por espiões.

O mestre do jogo é um espião a serviço do país que deseja adquirir um novo território. Cabe ao mestre fornecer a senha que permitirá ou não que o país conquiste a nova área territorial.

A senha é uma equação do primeiro ou do segundo grau ou ainda um sistema de equações do primeiro grau, conforme as riquezas contidas no subsolo da área a ser adquirida. Para desativar as defesas, a equipe tem que apresentar os cálculos de deslocamentos, gasto de combustíveis e tempo de viagem. Os recursos com aviões, combustíveis e bombas são limitadas. Se a equipe não consegue decifrar a senha, ela perde uma aeronave e uma bomba.

Como os alunos vinham trabalhando em equipes, cada equipe passou a ser um país que desejava anexar as novas áreas e possuir suas riquezas.

As riquezas usadas foram: ouro, petróleo, ferro e solos agricultáveis.

Cada área a ser conquistada tinha apenas uma destas riquezas e cada riqueza valia uma quantidade de pontos diferentes.

Mais de um país poderia disputar uma mesma área.

Antes da realização do jogo, foi necessária uma revisão dos conceitos de matemática e física que seriam usados.

O Desenvolvimento do Jogo

O jogo desenvolveu-se em um clima de expectativa por parte dos alunos para saber quem ganharia mais pontos.

Entre nós, os professores, havia um certo temor com relação ao que poderia acontecer: tínhamos medo que a disputa entre as equipes gerasse um clima de hostilidade, o que prejudicaria o resto do mini-curso.

Observamos que nossos temores eram infundados pois, durante a seção do jogo, as equipes ficaram mais coesas e passaram a interagir de forma mais dinâmica.

Durante o jogo um fato nos chamou a atenção: uma falha na elaboração das regras foi usada pelas as equipes para obterem uma melhor pontuação. A falha foi com relação à realização de acordos ou pactos de não agressão entre os países. Uma das equipes percebeu que não era proibido fazer estes pactos e aproveitou para obter, relembrar, a forma de resolver algumas equações.

O que para nós professores foi uma falha na elaboração do jogo, os alunos transformaram em um exemplo de cooperação.

Conclusão

Sei que para muitos o que descrevemos é simples e talvez não seja de fato RPG. Para nós, que tínhamos pouco ou praticamente nenhum conhecimento em RPG, foi algo maravilhoso.

Percebemos como podemos deixar nossos alunos encantados com a física e a matemática, mesmo tendo incorrido no erro de usarmos equações de difícil solução. Para os alunos foi uma maneira de brincar com a física e a matemática e, sem perceberem, eles estavam aprendendo de uma forma agradável.

Porém a nossa maior gratificação foi quando dois alunos, jogadores de AD&D, nos questionaram se aquele jogo não era RPG.

Respondemos que sim.

E ouvimos maravilhados eles dizerem que nunca tinham pensado em usar o RPG para uma aula diferente.

Eugeniano Brito Martins
Professor da Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará
Professor do Departamento de Estatística e Matemática Aplicada – UFC
&
Miron Menezes Coutinho
Professor do Colégio Júlia Fialho e da Fundação Bradesco
Cedido à Equipe REDE RPG
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