As façanhas de Fenrir (IV)

Eis que chega até as mãos de vocês a quarta parte da grande saga de nosso herói para impedir a tomada da Velha Bretanha pela Irlanda no tempo do Grande Rei Vortigern. Nesta parte os aventureiros deverão atravessar uma caverna que fica no topo de uma montanha, e atravessar o clima frio daquele lugar até chegar a magnífica cidade portuária, onde deverão pegar um navio até as terras do rei. O que eles não esperam é que até a cidade muitas aventuras os esperam. Espero que gostem desta que é mais uma das façanhas de Fenrir.


Parte IV: O mistério da Caverna

Os aventureiros seguem viagem, agora com um fardo nas costas. O jovem Fenrir que sonhava com grandes feitos, agora está mais maduro e percebe que sua oportunidade está ai. Ele deve salvar o mundo, entregando uma carta ao Grande Rei da Bretanha. Eles acreditavam, que a salvação da Bretanha estava naquela carta de aviso. Fenrir após cumprir esta missão, já pensava em voltar para sua terra natal e resgatar seu tio que está muito velho. O ladino Nick, apenas quer ganhar prestigio perante o rei e juntamente com isso sua confiança, para adquirir influências e um futuro poder em mãos. Urso, o saxão, quer apenas se livrar da sua maldição e para isso deve entregar o menino Fenrir ao Rei com segurança. Depois disso ele pensa em retornar para a sua terra e recuperar, o trono que fora do seu pai.

Na íngreme subida, os aventureiros marcam já, mais de um dia de caminhada. Eles colocam os agasalhos dados por Mordrick, pois ali, o clima de altitude começa a fazer efeito, e o frio intenso provoca constantes geadas e neves. Numa das pausas para lanche:

– Se o animal continuar a comer assim, não teremos ração suficiente para chegar até a cidade. – resmunga Fenrir de boca cheia, se referindo ao Urso.
– Até que para uma frutinha você está comendo demais sabe? – Responde o Saxão com a bocarra cheia de ração.

– Parem vocês dois. Será que só sabem brigar? O animal do Urso precisa comer para manter a forma Fenrir. E você Urso, sabe porque a frutinha está comendo tanto? – o ladino pergunta e responde antes que o saxão abra a boca. – e porque neste clima frio e sem sol, ele não consegue fazer a fotossíntese.

Todos se divertem naquele momento. O único que não é aloprado ali é o jovem Nick. Fenrir e Urso de fato, não param de discutir um minuto e trocarem ofensas. Nick fica de longe apenas alimentando a fogueira. E assim eles seguem subindo a montanha.

Naquela altura do campeonato, era uma vantagem a subida sem animais e sem muito equipamento, porque a trilha era bastante fechada e seria impossível fazê-la com muita carga ou com meio de transporte. A neve encobria toda a vegetação, bem como a trilha. A visão deles, era de apenas um pouco de verde. Uma vegetação já um pouco mais rasteira. A partir dali, as plantas já adquirem um tom de ferrugem, um tom avermelhado. Animais, eles quase não encontraram. Apenas uma vez alguns esquilos.

Chegaram até a entrada da caverna. Bastavam a eles agora atravessarem-na. As tochas não podiam ser acesas, pois muito vento soprava no interior da caverna. Ali tinha um clima ártico por causa da altitude, mas a estação também não era propicia a viagens. Eles acenderam a lanterna que tinham, mas deveriam ser rápidos porque possuíam pouco óleo. Nick guiava os aventureiros, e seguia sempre atento a qualquer coisa anormal. Enquanto os outros dois iam de espada em riste, para prevenir de qualquer ataque contra algum eventual monstro que despertasse com a luz. Ao caminharem pela tortuosa caverna, sempre juntos e próximos às paredes, eles ouvem um ruído. Como se duas criaturinhas minúsculas estivessem conversando. Nick pega sua esperta adaga, e segue sozinho, deixando a lanterna com eles. Ele vai cautelosamente. Mas a sombra de Nick causada pela lanterna afugenta as criaturas que parecem entrar num buraco. Nick volta e diz que perdeu as criaturas, e pede para eles continuarem a seguirem-no.

A caverna possuía inúmeras câmaras, e os aventureiros seguiam a lógica de Nick, de longe o mais inteligente do grupo. Se não fosse o caminho certo, provavelmente eles encontrariam trabalho em sair daquela caverna. Ao andarem cautelosamente, Nick exorta Fenrir que estava a sua frente a parar.

– Por que Nick? – pergunta Fenrir, pensando que algum dos dois lá atrás tenham se ferido.
– Você não viu cara? Este fio ai no chão. Não pise! – o jovem ladino se adianta e toma o fio. Após uma rápida análise, identifica e desarma uma armadilha.

Eles continuam. Eles vão atravessar uma porta. Ela era muito grande e pesada, feita em mármore e muito bem acabada. Provavelmente ali era algum templo ou construção usada pelos antigos. Na caverna, havia vestígios de que uma antiga civilização morava ali. Mas agora, eles estavam certos de que apenas monstros ou animais habitavam o local.

Nick consegue destrancar a porta, só que ela estava emperrada pela neve. Os dois fortes aventureiros fazem sua parte e rompem mais um obstáculo. Ao atravessarem a porta, percebem que estão numa câmara, muito grande com várias portas onde parecia ser uma moradia. Eles vêem dois pequenos goblinóides conversando. Nick reconhece a voz. São os mesmos que encontraram lá atrás. Fenrir pensa que não existiam estas raças, mas o saxão explica que só não é mais comum. Entre pontos urbanizados e civilizados, eles foram transformados em lendas, assim como elfos e anões. Mas em locais inóspitos, intocados por seres humanos, esta e mais tantas outras estranhas raças ainda vivem e tentam viver normalmente até o dia em que o ser humano os atrapalhe e só daí, eles escaparão para suas terras, além deste plano de existência. Fenrir se contenta com a explicação de Urso, mas logo percebem o quão traiçoeiros são estas criaturas que sutilmente os atraem para uma armadilha de pedras que desmoronaria em suas cabeças. Nick o mais ágil, logo percebe e com uma acrobacia consegue se safar, conseguindo ainda pegar uma das criaturas. A outra foge. Urso demora um pouco a perceber o perigo e tenta se esquivar daquela chuva de pedras que cai em sua cabeça, e por pouco não acaba com sua história. Fenrir por azar, não conseguiu escapar, mas entre uma enorme falha no piso, ele consegue se encolher, sofrendo pouco dano, mas ficando soterrado. O goblinóide pede clemência e diz que ele com seu irmão estão fazendo isso a mando de criaturas muito poderosas e fortes. Os aventureiros acham sensato amarrar o pequeno, para poderem desenterrar Fenrir com mais calma. Após conseguirem eles seguem em frente, guiados pelo pequeno goblinóide.

Logo eles escutam o barulho de um goblin gritando numa outra sala. Quando entram percebem que a criaturinha está sendo torturada por dois orcs, provando que o pequeno capturado estava certo. O goblin não resiste e padece. Fenrir e Urso investem para cimas das cruéis criaturas, que são feridas, mas uma delas porta um apito que é usado. Provavelmente, dentro de poucos segundos, mais daquelas criaturas infestariam o local.

Fenrir começa a correr, mas Nick pede para parar. Ele diz para todos ficarem juntos e analisar todas as portas. A principio o jovem guerreiro não entende o plano do ladino, mas acata. Logo eles vêem a sala se enchendo da grotesca raça orc, que saiam por todas as portas exceto uma. Nick faz sinal apontando que era aquela porta, da onde não saiu ninguém, que deveriam usar. Todos já cercavam os aventureiros quando Nick dera o comando. Naquele exato momento, o ladino proferiu as palavras mágicas que fez brotar do pergaminho em suas mãos uma luz cegante, que afetou todos os inimigos na área. Eles confusos com aquela mancha em seus olhos nada puderam fazer e os aventureiros escaparam desta.

Após saírem correndo continuando o caminho, eles tiveram que preparar rapidamente suas cordas para atravessarem pontes naturais, bem como desfiladeiros nas cavernas. Sempre agindo muito rápido para não serem alcançados pelos orcs quando o efeito acabasse. Em meios às rochas pontudas que se formou naturalmente na caverna, eles a atravessam rapidamente, sempre se equilibrando para não rolarem no chão escorregadio da caverna.

Já do outro lado da caverna, eles conseguem ver o pôr-do-sol bem ao longe e com um traço mínimo do que seria a cidade do Porto e o mar. Agora era só mais algum tempo e já estariam lá, só restava descer a colina. Uma criatura imponente, do topo da colina observa os três. Numa pose imponente, ela os observa. Como se já tivesse traçado o destino daqueles aventureiros. Como se não importasse o quanto lutassem, eles acabariam capturados por suas mãos. A criatura possuía uma couraça preta e dois sabres guardados nas bainhas em suas costas. O elmo permitia uma abertura apenas, para passar seu rabo-de-cavalo. O que concluía logicamente, que a criatura possuía os cabelos longos e pretos.
Os aventureiros desciam, enquanto uma bruma se apossava do local. Parecia não ser natural, sem se darem conta já estavam se afastando um do outro. Eles vêem três criaturas humanóides. Só conseguiam ver a silhueta, mas dava para deduzir que eram orcs. Uma das criaturas fez um movimento, como se fosse uma conjuração e todos, tantos os monstros como os amigos, adquiriram uma silhueta de um demônio. Eram orcs xamãs, que possuíam o poder de usarem feitiços, magias e ilusões. O terceiro rogou sua magia, e os demônios se embaralharam, ficando apenas três à visão de cada um.

Os orcs xamãs costumam usar penteados tribais e pinsir no rosto e em algumas outras partes do corpo. Costumam usar armaduras e armas orientais. Mas naquela altura os aventureiros não conseguiam identificar quem era quem. Já estavam com medo e não sabiam quem era o verdadeiro demônio ou o próprio amigo. Quando os demônios se aproximavam, os heróis ficavam com muito medo e atacavam. Um estava ferindo o outro, mas não sabiam disso. Alguns poucos ataques pegavam um dos xamãs, mas eles não sabiam quando estavam atacando a pessoa certa.

O urso era o que mais estava ferido de todos, ele percebe que teria que usar uma estratégia. Teria que contar um pouco com a sorte e com o raciocínio de seus amigos. Ele pensou:
– Minha chance será, se os meus amigos conseguirem entender minha jogada. Vou escolher um deles e vou agarrá-lo, mantendo-o preso ao chão. Isso se for meu amigo. O outro verá apenas três monstros, que serão os xamãs. Se eu pegar um dos xamãs. Cada amigo meu em pé terá 2/3 de chance de acertar um xamã. Agora só depende deles. – O urso investe contra um dos três demônios e o derruba, e começa a imobilizá-lo.

Nick estava de pé ainda, não fora ele o atingido por Urso, mas para sua sorte ele percebe pelo barulho que dois parecem estar se atracando no chão. Ele raciocina que não podem ser dois xamãs, então ele pensa:

– Se não são dois xamãs que estão brigando, pode ser um dos meus amigos. Logo, dois destes demônios são os orcs e um é meu amigo. Mas se forem Fenrir e Urso que estão se agarrando, eu tenho três xamãs para atacar. Eu vou tentar dar um ataque só. Aconteça o que acontecer é minha única chance. – Nick se abaixa e abre toda sua guarda. Uma de suas mãos já estava bem sutilmente posicionada na sua espada curta. Ótima para ser enterrada no abdômen de um inimigo. Ele pensa mais uma vez: – Se estou com medo, meus amigos também estão receosos. Espero que eles percebam que a vantagem dos orcs é colocar medo na gente, e um xamã que está caído, não representa um demônio aterrorizante. Logo ele não é um xamã. Sou eu. Eu fazendo isso, Fenrir ou o Urso, se não estiver envolvido naquela luta de imobilização, terão os três xamãs para atacar. Se forem os dois que estão envolvidos, significa que qualquer um dos xamãs ali estará livre para vir me atacar, e é ai que eu surpreenderei eles, atacando furtivamente.
Os heróis pareciam raciocinar bem, os xamãs sem perceberem já estavam em cheque. Sua única alternativa era atacar o ladino caído. Um deles ataca. O ladino rapidamente rola e desfere uma forte espadada frontalmente, enterrando-a no abdome do inimigo. Com isso umas das ilusões foram quebradas. Nick já conseguia ver um demônio caído, dois em pé. E dois numa manobra de imobilização.

Os orcs percebem que sua vantagem está caindo e terão que apelar para cruéis golpes corpo-a-corpo. Eles tinham uma vantagem. Possuíam um físico avantajado contra dois de seus inimigos. Era só concentrar os ataques em um só. Urso estava praticamente esmagando o inimigo. Ele estava com medo de que seja o pobre Nick, mas ele sabe que o ladino teria um truque na manga para escapar, o que o deixava mais tranqüilo. De repente ele vê que o inimigo está focando seus punhos e parece estar tirando sua força tentando deslocar seus pulsos. Ele pensa, e lembra que até então o único que tinha pensado nisso era Fenrir e para de atacar.

Fenrir percebe que o inimigo estava esmagando-o, de repente ele vê que o inimigo ataca como o Urso, portanto ele usa sua antiga estratégia contra o inimigo. Ele vê que o inimigo para de atacar e também cessa. Nisso ele percebe que o inimigo era Uso. Então se levanta para lutar contra os outros. Ele percebeu que dois demônios estavam caídos. Um com uma espada fincada em seu abdômen e o outro sentado. Percebe também que dois demônios investem juntos para cima do que está sentado, logo estes dois eram os Orcs. Fenrir ataca.
Nick sabe que se tomar o golpe dos orcs, ele morrerá, pois não está acostumado com combate direto. Ele aposta na sua manobra acrobática para tentar esquivar do primeiro golpe dos inimigos. Daí teria tempo de Fenrir chegar e entrar em combate com um deles, daí a luta já ficaria mais justa e Urso logo chegaria. Foi isso que aconteceu. Mas quando os orcs perceberam a armadilha, passaram a concentrar os golpes apenas em Urso, que estava mais ferido. Embora Urso e Fenrir estivessem atacando, o saxão estava muito ferido. Foi quando os heróis resolveram focar-se em um xamã também. Mas Urso não agüenta e desmaia. No mesmo instante a adaga de Nick atravessa o crânio de um dos orcs. Desfazendo a ilusão dos demônios, ficando apenas as brumas. O orc restante, vendo que Nick lança a adaga, prepara uma magia fulminante. Um círculo verde como se fosse um portal é criada a meia-altura do xamã e de dentro dele saem alguns dardos sobrenaturais, conhecido como dardos místicos. As setas negras perfuram a maior parte do corpo do ladino que cai.
Agora restava apenas, um contra um. Fenrir chora ao ver seus amigos caírem, mas não desiste de lutar. O orc se sente com uma vantagem agora. Pois o inimigo é o mais lento, é mais fraco fisicamente e está emocionalmente abalado. Sem contar que as brumas estão ao seu favor. Ele sabe que se conjurar uma magia abrirá brecha para o adversário. Portanto focará na luta, os seus golpes corpo-a-corpo.

Fenrir vê que as brumas dão uma vantagem ao inimigo, pois a visão é precária. Então decide fechar os olhos e lutar às cegas. Ele lembra dos treinamentos de final de tarde que tinha com seu tio. Que ele treinava muito este tipo de combate. Ele silencia sua mente e apenas espera o movimento inimigo. Quando o inimigo atacava, ele aparava o golpe do inimigo e contra-atacava.

O orc estava sofrendo com essa estratégia, parecia que a luta tinha se igualado. O orc passa a dar golpes menos precisos e mais velozes. O fraco reflexo do guerreiro o fazia tomar vários golpes bobos, mas ele sempre desferia pesados golpes contra o adversário. Fenrir percebe, que assim cairá antes do inimigo, então ele para, se distancia e dá as costas para o inimigo. O orc observa e prepara uma investida, que culminava com vários golpes rápidos. Ele sabia que até o herói se virar seria tarde. O que ele poderia fazer para esquivar era apenas correr, mas sua guarda abriria e então venceria a luta. Se ficasse e aparasse os golpes, não ganharia em velocidade e logo se cansaria perdendo a luta. Portanto ele atacou.
Fenrir retarda o máximo possível seu movimento, e quando acha oportuno, arrisca um mortal de costas, saindo da ameaça do orc e surpreendendo-o. Nas costas do inimigo ele dirige um golpe frontal contra o orc. Este golpe derruba o xamã, e as brumas acabam.

Fenrir se dirige aos amigos. Ele tem em suas mãos o pergaminho de cura que o mago dera, e uma poção de cura. Esta ultima ele dá ao ladino. Logo, uma aura azulada encobre o adolescente e todas as suas chagas são curadas em poucos segundos. O ladino acorda e não entende porque o guerreiro fizera aquilo, já que ele era o mais fraco em combate e não seria muito útil. O guerreiro explica que ele, era a inteligência do grupo, e o mesmo precisava mais de inteligência que de músculos. Mas uma decisão era para ser tomada naquele momento. Usar ou não o pergaminho no saxão?

Nick com muito pesar, diz que é melhor que eles guardem e levarem o amigo, pois o pergaminho ainda seria necessário em momento mais importante. Ele diz que o saxão resistirá e que há uma vila bem perto daqui, (como puderam observar do topo da caverna) antes de chegar à cidade do Porto. Eles seguem em frente, com Fenrir carregando Urso nos ombros e sendo observados pelo inimigo ainda no topo da montanha.

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Eles caminham até chegar em uma aldeia. Já era noite, estavam todos em suas casas iluminadas pela vela, cuja luz emitida era amarela, contrastando com o cenário branco da neve e cinza da alvenaria. Todas as casas eram construídas de alvenaria, a dupla ficou surpresa.

Nick: – Fenrir, aqui não é o lar das tribos guardiãs das cavernas?Fenrir: – Nem sei amigo. Mas quase todos evitam este lugar aqui. Parece que nem Urso quando foi para Greenwich usou este caminho.
Nick: – Estamos numa tribo bárbara cara. Pensei que não existia, mas pelo que vejo. Também o local é de difícil acesso. Temos que admitir que o que fizemos foi uma façanha. Segundo o que o povo conta, esses bárbaros montanheses, vigiam as cavernas onde certos monstros ficam adormecidos.Fenrir: – Você quer dizer que a caverna que a gente atravessou, tem monstros poderosos adormecidos? – o guerreiro fica com um ar de surpreso.
Nick: – Também, mas você sabe que Orcs não deveriam aparecer, há muito tempo um humano não encontra com essa raça. E nós vimos. Provavelmente os anciões Reis da Irlanda, despertaram os Elfos Drows e estes por sua vez acordaram as criaturas malignas menores, para os servirem. Este mundo está voltando aos primórdios Fenrir.
Fenrir: – Talvez você tenha razão, mas temos que ajudar o Urso, não podemos deixá-lo morrer. Vamos arriscar falar com alguém.
Fenrir bate à porta e espera alguém atendê-lo. A portinhola da porta se abre, e Fenrir só vê dois olhos o observando de cima. Ela se fecha. Passa-se um tempo e Fenrir vendo que não atende, bate novamente. Mais uma vez a cena se repete. Fenrir é teimoso e insiste novamente.
Bárbaro: – Argh! Vai embora capeta! Ninguém quer vê-lo aqui não peste, saia.
Nick fica muito nervoso com a frase do bárbaro, mas Fenrir pede para manter a calma.
Fenrir: – Ei Senhor! Nós não somos capetas. Somos viajantes. Temos uma missão em nome do Rei.
Bárbaro: – Eu quero mais que esse seu Rei se ferre. Não enche o meu saco.
Fenrir: – Mas o Urso está com a gente, ele está ferido.

Após um silêncio de um minuto a porta se abre, e um enorme homem se apresenta. Ele observa os aventureiros que estavam tremendo de medo do grande homem com seu machado nas costas. Ele vê que um saxão é levado e está muito ferido. Ele diz:
– Entrem

Sem entender nada os jovens entram.

Gulith: – Meu nome é Gulith, sou o chefe da tribo, a tribo Gulith.
Nick: – É a gente sabe.
Gulith: – Como sabem?
Nick: – A sua casa é a maior da aldeia, e tem o símbolo de um Urso na fachada.
Gulith: – Ah sim! O Urso é nosso espírito protetor. Ele nos guia. Mas você disse que esse homem se chama Urso?
Fenrir: – É sim. Já ouviu falar?
Gulith: – Ah se já. Este cara causa muita confusão por onde passa, mas pegaram-no de jeito.  – Gulith chama sua esposa, uma mulher muito alta para os padrões normais, ela tem cabelos pretos longos, e está com um avental. Eles o colocam numa cama feita de pedra, num dos quartos da casa, e a mulher com seus filhos cuidam dele. Enquanto isso Gulith bate um papo com os aventureiros na cozinha tomando um chá quente.
Fenrir: – Até que o Senhor não é tão hostil quanto pensava.

Gulith fica em silêncio. Se fosse qualquer outro aventureiro, provavelmente eles já estariam limpos e surrados, mas com esses era diferente. O carisma de Fenrir transparecia, e passava uma sensação de paz e bem. Como se fosse um anjo ou um escolhido, cumprindo sua missão. E Urso não era estranho. Gulith se lembrara o que ocorrera há muito tempo. Quando Axel o Filho do Machado abandonou a Germânia. Ele o acompanhou por um tempo, mas se separaram. Acabou achando os seus ideais, e como um seguidor devoto dos cultos antigos, recebeu a mensagem de que deveria guardar as entradas das cavernas daquela montanha, até o momento em que alguém a libertasse do mal que adormecia ali, mas que iria acordar em breve. Formou uma tribo ali, e a liderou. Viajantes que passavam por ali tinham um fim trágico. Mas teve um mercador que soube levar a tribo, e conseguiu fazer um negócio bom para os dois lados. Como a tribo vivia basicamente do pastoreio, e o clima das cavernas era bom, o mercador firmou um acordo com eles. Ele traria uma variedade de suprimentos e utensílios, em troca de carnes, que eram mantidas nas cavernas geladas dali. Foi uma parceria acertada. Até então, este era o único homem que conseguira escapar com vida daquela tribo, e virar amigo deles. A verdade é que Gulith ficou comovido, porque o Bárbaro reconheceu este apelido, Urso. Era seu irmão, sucessor do trono de Axe. Mas ele se separara de todos, e agora estava ali, precisando de ajuda.

Os três conversaram a noite toda, e apesar da hospitalidade, Gulith recolheu todo o armamento do grupo e prometeu que devolveria quando fossem embora, apenas por precaução.
No outro dia Gulith acorda cedo e leva os aventureiros para uma caverna que havia ali, logo abaixo da tribo. Eles iriam pegar algumas peças de carne, pois o mercador chegaria dentro de poucas horas. Os três desceram as escadas naturais da caverna, e logo viram uma enorme porta de aço, nada natural. Foi o que a tribo pôs ali, para manter a carne gelada, o máximo possível.

A enorme porta tinha uma haste para empurrá-la para dentro e assim abri-la. O grande homem a abre e diz:

– Esperem aqui, já volto.

Quando a abre, aquele ar gelado toma conta da ante-sala que estão. Ele entra e a deixa apenas, com um filete aberto.

Fenrir e Nick notam que ele demora muito. E já se passaram uns 20 minutos. Um forte vento frio de dentro da sala, fecha a porta e eles ficam se perguntando, se algo aconteceu lá dentro. Passado mais alguns minutos, eles decidem entrar. Tentam abrir a porta e ficam se imaginando, da força de Gulith para mover uma porta tão pesada. Após Fenrir fazer excessiva força, consegue abri-la.

Lá dentro, no frigorífico, eles percebem que se trata de uma sala muito extensa, com muitas e muitas peças de carne penduradas em várias fileiras. Eles percorrem a sala, procurando pelo Bárbaro e quando chegam até a parede oposta, a porta se fecha.

Nick: – Droga Fenrir, estamos presos, e parece que Gulith não está aqui. Será que ele fez uma armadilha para nos matar de frio?

Fenrir: – Veja só, a haste dessa porta foi quebrada, para que ninguém possa puxar. Não tem como eu pegá-la, o metal é muito liso. – O frio fica mais intenso, e não tem pra onde eles correrem. Eles já começam a sentir.

Nick: – Parece que caímos numa armadilha amigo.

Fenrir é muito bondoso, e não aceita a idéia de que fora traído por Gulith. Ele pensa que há alguma explicação para aquilo. Mas teme a resposta.

– Pelo menos de fome a gente não morre. – tenta Nick aplicar uma piada, mas não tem efeito.

O frio começa a se concentrar, e forma uma névoa. Eles só ouvem um barulho estranho. Como se fosse alguma coisa puxando o ar, inspirando. Era um alto barulho de inspiração e respiração de ar, e a cada respiração o ar ficava mais gelado. Nick percorrendo mais uma vez a sala se depara com uma cena horrenda, ele não consegue olhar e passa mal. Ele grita por Fenrir.

O guerreiro chega lá, e vê que havia quatro peças frescas penduradas e sangrando. Uma com a cabeça, outra com o tórax, outra com as pernas e outra com os braços de Gulith. É como se alguém houvesse roubado o machado do Bárbaro, o retalhado e colocado como uma peça em meio às carnes. Era muito forte a cena, e nem mesmo Fenrir conseguia olhar. Eles se afastaram dali.

– Agora precisamos nos preocupar. Há alguma coisa sobrenatural aqui, e não temos nenhuma arma. – diz Fenrir.
– Sim, só estamos com equipamentos aqui. – Nick fala e pega o gancho de escalada para tentar quebrar a grossa parede, numa tentativa desesperada. Quando ele vai dar o primeiro golpe, ele vê dois olhos, ou melhor, duas luzes que representavam olhos na parede. Logo ele vê toda aquela névoa formada pela respiração do que parece ser uma criatura se juntando novamente naquele local, e os olhos passam a vir de dentro da névoa. A criatura era aquilo.

O ladino tinha uma fraca resistência e já estava quase caindo de tanto frio. Ele grita Fenrir, mas não espera. Dá uma gancheada na criatura.

Fenrir ouve o barulho e corre na direção de Nick. O ladino se vira com a mão na altura do abdômen e com o gancho na outra. Sangrava muito aquele ferimento. O garoto cai nos braços de Fenrir. O guerreiro chora diante daquela cena. Ele deita o amigo e começa a dar tapinhas no rosto dele tentando animá-lo, mas era em vão. Ele gritava para Nick não dormir e explicar porque fez aquilo. Só vinha em sua cabeça, a imagem do ladino se atacando com o gancho. Mas ele que parecia ser o mais forte do grupo em personalidade, num momento de desespero, perde o controle e se ataca. Fenrir se desfaz em prantos. Ele só espera o frio ir aumentando gradativamente, para dormir ao lado de seu amigo.
Ele fecha os olhos e espera. De repente ele enxerga um homem de branco, com uma espada em punho e aquela visão diz:

– Você vai desistir assim Fenrir? Você não queria ser um herói. Um herói deve saber conviver com as perdas. Seu pai perdeu muito mais que você e mesmo assim não cansou de lutar pelo que acreditava. Nick ainda não está morto, mas estará se você fraquejar. Levanta-te, põe-te em pé. E encare a situação de frente.

Aquilo parece ter revigorado Fenrir. Ele se levanta e pega o gancho e a mochila do amigo. Logo ele vê que o redemoinho se aproximava, com aqueles olhos, sedentos por sangue. Fenrir ataca a criatura e percebe que surge um ferimento em seu braço esquerdo. Ele entende que Nick não se matou, mas sim tentou atacar a criatura. Fenrir se afasta. A criatura se aproximava, e o ar ficava mais frio. O guerreiro via seu amigo caído, já coberto de neve, e com os músculos ainda reagindo. Ele finca o gancho em sua perna para ver o que acontece, e percebe que não fere o monstro, e sim o fere do mesmo jeito. A névoa se afasta e fica na parede oposta à porta. Fenrir revira a sua mochila. O inimigo do frio talvez fosse o fogo, mas ele não conseguia ascender uma só faísca.

Fenrir se aproxima da criatura com um pergaminho na mão. Ele se lembra da frase de Mordrick antes de sair da torre do mago:

– Use com sabedoria, pois nem sempre a magia de cura age de forma passiva.

O mistério naquela caverna foi desvendado ali. Mordrick sabia do Demônio na caverna, mas deixou para que os aventureiros vivessem sua própria experiência. Mas muitas perguntas ainda não tinham explicação. Naquele momento de êxtase, o guerreiro percebe que nem todas as coisas estão para serem explicadas. E que tinha uma missão ainda e uma vida para viver com seus amigos. Ele lê o pergaminho contra a criatura e ela solta um urro, como se fosse um urso falecendo e uma explosão abre um imenso buraco na parede, revelando a saída.

Fenrir tira seu amigo que ainda está vivo, pensando em como contar o que ocorrera para a tribo hostil, que não acreditaria neles e os matariam.

Logo ele vê, toda a tribo se achegando. A esposa de Gulith se aproxima. Fenrir sem palavras começa a gesticular, mas ela o acalma dizendo:

– Não precisa explicar nada. A gente sabia do demônio. Você fez a façanha de livrar nossa vida. Gulith foi um bom líder. Agora vamos para casa, seu amigo o Urso está esperando por vocês.

Tiago Alves Rafael
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