Lenda dos Cinco Anéis: A Vida Em Rokugan

E aí, galera, suave? Eu jogo RPG há muito tempo e um (dos muitos) jogos que eu vi nascer foi o Lenda dos Cinco Anéis (Legend of the Five Rings), um jogo que tem suas particularidades.

Quem chegou a pegar o livro em mãos (físico ou em PDF), deve ter notado que ele se distancia do tradicional matar, pilhar e destruir. A verdade é que as diferenças são muitas! A vida em Rokugan (o império onde o jogo é ambientado) tem várias nuances e sutilezas, principalmente na vida de um samurai, que são importantes ter um conhecimento prévio.

Confesso que esse artigo ficou um pouco mais longo que o planejado, mas bem menor do que as 400 páginas do livro básico.

O aconselhado é que todos, jogadores e narradores, pelo menos leiam o primeiro capítulo do livro básico, O Livro do Ar (e a intenção deste artigo não é substituir, mas sim resumir as partes mais imperativas). Pela minha experiência, sei que mais da metade dos jogadores querem logo sacar suas katanas, abrir seus pergaminhos e partir para as vias de fato. Então, tentarei resumir o essencial para que o seu duelista Kakita e seu shugenja Isawa não pareçam ter sido membros adotados da família Moto.

A Ordem Celestial
Determinada pelos Paraísos Celestiais e revelada ao povo pelos Deuses que fundaram o império, uma sagrada e inquestionável expressão da vontade divina. Portanto, ignorar ou violar a Hierarquia Celestial é uma blasfêmia.

A sociedade é dividida em três castas distintas, cada uma com suas próprias divisões. Tipicamente, uma pessoa nasce, passa toda a sua vida e morre na mesma casta, embora exceções sejam possíveis.

A casta mais alta é a dos samurais, as únicas “pessoas reais” de Rokugan, com direito e poder total sobre todos abaixo deles. Eles se dividem em Kuge (nobreza) e Buke (aqueles que servem). Os Kuge incluem o Imperador, vários oficiais imperiais e daimyos, os Campeões de Clã e os daimyos das famílias de cada clã. Todos os outros são Buke e, mesmo entre os Buke, há diferenças de hierarquia.

Um samurai não deve questionar ou se opor a outro samurai de hierarquia mais alta sem uma forte justificativa, mas pode abusar dos de nível inferior e esperar que estes suportem de forma honrada. Samurais sempre devem agir com extremo respeito e polidez, mesmo inimigos jurados.

Abaixo dos samurais estão os bonge, o povo comum, também chamados de heimin ou “meias-pessoas”. Estes são a vasta maioria da população de Rokugan, são os que mantém a nação e a economia (budokas, ashigarus, camponeses, artesãos, artífices e mercadores). Samurais podem exigir qualquer coisa de um heimin sem a necessidade de recompensá-lo e podem matar qualquer um que o desobedeça ou o desrespeite. Sua vida é cheia de trabalho duro e sofrimento.

Monges ocupam uma posição peculiar na Ordem Celestial, embora não samurais (portanto, necessariamente heimins), seu papel na sociedade lhes confere um respeito especial e, por vezes, são chamados para aconselhar e orientar daimyos.

Abaixo dos bonge estão os hinins ou “não-pessoas”, nascidos para tarefas consideradas impuras espiritualmente, como qualquer tarefa que os faça tocar em sangue, lixo ou carne morta, coisas consideradas “impuras”, como funerários, coureiros ou catadores de lixo (denominados eta), sendo menos que nada, até mesmo os camponeses desdenham e abusam deles e sua única solução é aceitar sua posição para que possam ascender na Ordem Celestial em sua próxima vida. Torturadores e gueishas também são hinins.

Rituais do Dia a Dia
Toda vida de um samurai é repleta de simbolismo, e vários rituais a acompanham.

Sempre que o filho de um samurai nasce, são feitas bênçãos especiais e cerimônias religiosas para afastar maus espíritos. Um mês após seu nascimento, a criança é levada ao oratório mais próximo para ser abençoada e registrada.

Crianças aprendem a ler, escrever e o básico da etiqueta até que, com idade entre 10 e 12 anos, ela inicie seu treinamento em uma escola de seu clã. O estudo tipicamente dura quatro anos embora dependa da velocidade do aluno, podendo levar mais ou menos tempo. Quando o aluno domina a primeira técnica de escola, ele está pronto para o gempukku, ou cerimônia da maior idade, um dos mais importantes rituais de toda a vida do samurai.

O próximo grande ritual da vida de um samurai é o casamento. Em Rokugan, o casamento é um dever, tipicamente cumprido sob o comando da família ou senhor. Casamentos são tratados como um negócio e são arranjados (mi-ai) pelos pais do casal, normalmente com a ajuda de um casamenteiro (nakado). Não se espera que um casal se ame ou sequer que se conheçam antes do casamento. Um dos propósitos mais básicos das Cortes de Inverno é reunir as pessoas para formar alianças. Tipicamente, casamentos arranjados na Corte de Inverno são celebrados na mesma corte ou na primavera seguinte.

Quando um samurai completa quarenta anos, é tradicional que ele se aposente do serviço ao seu clã, porém isso não é obrigatório.

O último ritual da vida de um samurai é o seu próprio funeral e esses possuem um protocolo estrito. Por Lei Imperial, todos os corpos devem ser cremados. Tradicionalmente, um funeral acontece quatro dias após a morte e esses quatro dias são repletos de preces. O corpo é lavado e purificado por etas e vigiado por um guarda de honra até a cremação.

Etiqueta Cotidiana
A etiqueta, não só em grandes rituais, mas em todos os momentos, demonstra a natureza honrada e civilizada de um samurai e guia todos os detalhes de sua vida. Mesmo os mais pragmáticos entre o clã Caranguejo ou Unicórnio ensinam seus samurais as bases essenciais da etiqueta, pois a falha em seu cumprimento pode taxá-lo como inculto, mal-educado ou até mesmo indigno de portar o título de samurai.

Samurais são sempre polidos, mesmo com inimigos declarados. Eles usam nomes de família ou identidade de clã para se referir a estranhos e nomes completos (família e então pessoal) para se referir aos conhecidos. Apenas um amigo íntimo, criança ou membro da família pode ser chamado somente pelo nome pessoal. Além disso, quase sempre usam sufixos formais para se referirem a outros, mostrando assim suas boas maneiras.

O sufixo “–san” é o mais difundido e mais conhecido, sendo usado para qualquer pessoa de nível ou posição similar.

Já o sufixo “-samá” é mais respeitoso, usado para superiores sociais ou para alguém de mesmo nível em um ambiente público muito formal (porém, usar “–samá” em um contexto inapropriado pode ser considerado bastante ofensivo).

O sufixo “-dono” implica respeito pelo outro e grande humildade pelo usuário. Sendo destinado a daimyos ou a samurais por quem se tem uma grande admiração.

O sufixo “-kun” é usado apenas para se referir a inferiores sociais ou ao falar com meninos e também por mulheres ao falar com homens de mesma ou menor idade, de quem seja parente ou amiga próxima.

Finalmente, o sufixo “-chan” é usado para crianças ou também por mulheres jovens de maneira afetiva e casual (como para uma irmã ou colega de classe).

Não usar um sufixo apropriado implica em grande intimidade e nunca é feito casualmente ou abertamente.

Todo rokugani se curva ao saudar ou conhecer o outro. Falhar em se curvar propriamente pode ser considerado um grande insulto e a punição pode chegar até mesmo ao extremo de uma execução. Samurais nunca se tocam em público, tocar alguém sem absoluta necessidade (como fazer um curativo em um campo de batalha) é uma grave quebra de etiqueta.

Samurais normalmente são modestos e contidos em seu comportamento público. Salvo em um campo de batalha ou em uma emergência, eles sequer levantam a sua voz. Um samurai que fala alto ou de maneira rude é tratado como um tolo e um inculto.

Samurais fazem questão de ignorar aqueles que violem as regras de etiqueta. Sejas as violações propositais ou acidentais – pessoas tão incultas simplesmente não existem e são privadas de todas as conversações, além de terem todos os pedidos e petições negados.

Bêbados, possivelmente, violarão as regras de etiqueta. Porém, beber pode ser uma desculpa aceitável para uma violação e um samurai pode amenizar o estrago social atribuindo sua má conduta ao excesso de saquê.

Religião e Filosofia
Existem três formas diferentes de culto: Shintao, Fortunismo e culto aos ancestrais, todas unidas pela vontade do imperador em um só sistema religioso. A Irmandade de Shinsei, uma ordem monástica, mantém e exerce a religião.

O Shintao é dedicado ao estudo e prática dos ensinos de Shinsei, focando no equilíbrio espiritual, físico e na moderação, evitando as tentações na vida mortal para atingir a iluminação.

O Fortunismo é o culto às Fortunas, espíritos e deuses que habitam o Tengoku, os Paraísos Celestiais e aos espíritos menores que habitam o reino mortal.

O culto aos ancestrais presta reverência aos espíritos dos antepassados. Os rokugani acreditam que seus ancestrais honrados os vigiam do pós-vida e oram a eles por orientação, ajuda e boa sorte. Toda casa em Rokugan, do mais baixo eta ao mais alto nobre, contém um oratório ancestral, onde os moradores oferecem preces e dedicação aos de sua família que já morreram.

Os rokuganis acreditam no Karma, o peso das boas e más ações que se acumulam na alma. Quando alguém morre, carrega o peso kármico para o pós-vida e a Fortuna da Morte, Emma-O, designa seu nascimento de acordo com o karma pessoal. Portanto, um rokugani que realize atos de grande coragem e nobreza pode alterar tanto o seu próprio destino, quanto o mundo ao seu redor, purificando seu karma em um único momento de heroísmo.

As Virtudes do Bushidô
O Bushidô é composto de sete Virtudes: Coragem, Compaixão, Cortesia, Dever, Honestidade, Honra e Sinceridade, valorizando cada uma igualmente e se espera que um samurai siga a todas com igual veemência. Porém, na prática, poucos samurais levam vidas tão impecáveis.

• Compaixão (Jin) ensina a um samurai que, como guerreiro de elite da sociedade, é seu dever proteger e guiar as pessoas menores em Rokugan. Isto significa oferecer proteção militar contra bandidos, criminosos, estrangeiros e monstros das Terras Sombrias.

• Coragem (Yu), em muitos sentidos, é o meio mais básico e universal de todas as virtudes do Bushidô, já que espera-se que todo samurai esteja pronto para morrer a qualquer momento. Um samurai deve estar preparado para lutar e morrer sem hesitação, seja a mando de seu senhor ou simplesmente devido à circunstância inevitável. Diz-se que o samurai vive a dois passos da morte, já que este é o alcance de uma katana. Mas esta virtude não contempla a ignorância, já que a vida de um samurai não pertence a ele, mas ao seu senhor.

• Cortesia (Rei) samurais são civilizados, não bárbaros, e espera-se que se comportem com cortesia e boas maneiras, sempre. Um samurai que mostre educação indevida ou que seja rude não está apenas violando a Cortesia, mas também está perdendo a sua compostura, desrespeitando todos ao seu redor e se envergonhando. Um samurai permanece sempre cortês e bem-comportado, mesmo diante de seu mais odiado inimigo. Um samurai que insulte abertamente outra pessoa está demonstrando sua própria fraqueza.

• Dever (Chugo) se há uma Virtude que mais compete com Coragem por aceitação universal, essa é Dever. Um samurai deve sempre estar pronto para servir ao seu senhor de qualquer maneira que for necessária, não importando o custo. A morte é o menor risco de um samurai – ele deve estar preparado para suportar desonra, humilhação, vergonha e falha pelo bem do Dever, sendo sempre fiel ao seu senhor, família, clã e camaradas, pouco importando quais tentações possam vir em seu caminho.

• Honestidade (Gi) é o princípio mais simples do Bushidô, mas talvez o mais problemático. Idealmente, seria óbvio que um guerreiro honrado sempre devesse contar a verdade, mas na corte se pratica a arte de enganar ou manipular seus oponentes enquanto ainda se mantém tecnicamente verdadeiro, sendo tal ato visto como uma forma de arte ente algumas famílias que afirmam se comportar honradamente. A honestidade também é fortemente associada à justiça.

• Honra (Meyo) a mais sutil e básica das virtudes, a Honra ensina que todo samurai se põe em julgamento de si mesmo, sempre. Um samurai sem Honra não pode seguir verdadeiramente as outras virtudes do Bushidô, pois estaria meramente agindo como os outros esperam, não como seu próprio senso de justiça exige. Quando honrado, um samurai seguirá os caminhos do Bushidô mesmo quando a sociedade ao seu redor se tornar corrupta

• Sinceridade (Makoto) samurais aprendem desde a infância que devem expressar absoluta sinceridade no falar e no fazer. Um samurai que fale em prol de seu senhor na corte, mas o faça de forma irônica ou desconfortável, está servindo tão bem ao seu senhor quanto se recusasse a falar, falhando para com seu senhor e clã.

O Conceito do Decoro (On)
A Compostura é de vital importância na vida de um samurai, eles são pessoas excepcionais, escolhidas no nascimento para servirem ao Império de um modo que é vetado aos meros camponeses. Espera-se que um samurai mantenha a autodisciplina a todo momento, controle-se e nunca mostre o tipo de emoções abertas e comportamento descontrolado que caracteriza “pessoas inferiores”. Um samurai que não pode controlar suas emoções é um samurai que não pode servir ao seu senhor com honra e confiança, pois suas emoções sobreporão seu julgamento e lealdade.

A habilidade de manter este autocontrole, nunca mostrando suas emoções reais, é chamada de manter o on ou “compostura”. Um samurai que mantenha a compostura não pode ser manipulado, é um samurai que pode enganar seus inimigos, um samurai que serve o seu clã sem falhar. Em contraste, um samurai que perde compostura, que perde o autocontrole, envergonha a si e, pior ainda, sua família e clã.

Compostura é puramente um conceito samurai, que não se espera de camponeses e outras pessoas comuns. Manter a compostura é por vezes comparado a usar uma máscara, uma que deve ser usada toda hora do dia, ocultando suas reais intenções atrás do on.

Política
Samurais não servem seus clãs apenas em batalhas. A política é um elemento vital na história de Rokugan desde sua fundação e as manobras de cortesãos mudam o Império tanto quanto as guerras, se não mais.

Cortesãos devem travar seus confrontos diplomáticos com a mesma coragem e zelo que um bushi em combate, pois suas falhas se assemelham a uma guerra perdida, e suas vitórias proporcionam glória e sucesso para seus clãs sem derramamento de sangue e desperdício de vidas de outros samurais. Bushis experientes que sejam resignados à corte são forçados a admiti-la como um campo de combate tão exigente quanto a guerra em si e a falha na corte significa a morte tão certa quanto em combate.

Em Rokugan, políticas ocorrem primariamente nas várias cortes do Império. Todo daimyo e governante mantém uma corte em seu castelo ou palácio, convidando emissários e visitantes de outras famílias e clãs para atender e receber seus visitantes. Quanto maior o nível de um anfitrião, mais prestigiosa é a corte e mais importante serão suas discussões e negociações políticas. A mais prestigiada é a Corte Imperial, óbvio, presidiada pelo próprio imperador e seus conselheiros chefes. Muitos cortesãos passam a vida tentando ganhar uma indicação. A mais intensa atividade política ocorre durante o inverno.

A corte, mais do que qualquer outra parte da vida rokugani, é recheada de etiqueta delicada e falas indiretas. Afinal, diplomatas falam por seus clãs e têm o peso e o prestigio deste clã como suporte. Um daimyo menor que insulte ou ignore um cortesão sem causa legítima pode muito bem ser forçado ao seppuku por sua quebra de etiqueta. Ninguém é tão inculto para discutir alianças abertamente ou tratados na corte aberta: muitas das negociações cruciais ocorrem em encontros privados, não onde outros possam bisbilhotar.

Acordos políticos em Rokugan são raramente expressos como tratados escritos, salvo quando ambos os lados desejam apresentar um acordo formal ao resto do Império. Mais comumente, negociações são feitas por comprometimento pessoal e palavras de honra. Os clãs confiam em seus cortesãos para lidar com situações delicadas e cortesãos podem vir a evocar a confiança de seus clãs para dar grande peso às suas palavras. De fato, daimyos menores ou oficiais provinciais podem muito bem ter dificuldades em manter suas posições se poderosos e influentes cortesãos falarem contra eles a seus senhores feudais – especialmente se a acusação do cortesão for revelada como verdadeira.

Economia
Comércio e escambo em Rokugan é bem extenso, mas este é um tópico que samurais, em sua maior parte, ignoram ao máximo. Eles aprendem que o dinheiro está abaixo de suas preocupações e que o comércio é algo que deve interessar apenas aos meros cidadãos.

A moeda em Rokugan é baseada no arroz, a moeda de ouro é chamada de koku e, supostamente, representa a quantidade de arroz capaz de alimentar uma pessoa por um ano. Toda terra pertence ao imperador, que delega a tarefa de guardar e manter as terras aos clãs. Igualmente, toda comida e bens criados no Império todo ano pertencem ao imperador, que distribui para seus súditos conforme necessário, e o koku foi criado na aurora do império para facilitar esse processo de transporte. Em cada outono, após a colheita do arroz, daimyos locais e coletores de taxas Imperiais medem a comida e bens criados em cada província e coletam 60% da produção de cada ano, em comida, bens ou dinheiro, levando-os à capital para que o Imperador retorne a cada clã certo número de kokus, timbrados e marcados de acordo com o clã, que podem usar para recuperar comida e bens dos depósitos Imperiais conforme cada necessidade.

Já que os samurais não devem cuidar de questões tão baixas quanto o comércio, todo mercador é heimin e estes cidadãos enfrentam vários obstáculos em seu trabalho. Além disso, muitos clãs tarifam os que querem comercializar em suas terras, diminuindo as margens de lucro que os mercadores usam para sobreviver.

A riqueza gerada pelo escambo e comércio é uma importante e poderosa arma no arsenal de qualquer clã. Um clã rico pode aplicar pressão econômica direta em seus rivais menos prósperos, usando embargos comerciais ou manipulações de preços para enfraquecer seus rivais.

Crime e Punição
Rokugan reconhece vários dos mesmos crimes que outras culturas – assassinato, roubo, suborno, falso testemunho, etc. Porém, em Rokugan, a identificação e punição dos crimes é complicada por vários fatores. As mais evidente são as restrições sociais da Ordem Celestial e o conceito rokugani do que constitui uma evidência aceitável de culpa.

O crime em Rokugan é investigado e punido por magistrados dos clãs indicados pelos daimyos e governadores para manter a ordem e cumprir as leis. Esses magistrados são auxiliados por uma equipe de yorikis (samurais de menor patente) e também podem recrutar ronins ou até mesmo budokas (vassalos camponeses armados) para ajudar a perseguir e punir os criminosos.

É importante notar que os magistrados não são necessariamente escolhidos por suas habilidades. Uma indicação para magistrado, como qualquer outra indicação, tende a ser de natureza política, e vários magistrados possuem um entendimento marginal da lei e de suas responsabilidades para o cumprimento destas.

Crimes que atraem uma maior atenção dos magistrados são crimes contra a lei Imperial, o que é considerado traição. Isso inclui maho e outras formas de blasfêmias religiosas, ataques à autoridade do Imperador, etc. Magistrados também investigam conduta desonrada (briga, perturbação da paz, mentir para uma autoridade), violência pessoal (assalto, assassinato), corrupção (roubo, desvio de impostos, suborno) e crime organizado (contrabando, formação de quadrilha). De modo geral, ao lidar com esse tipo de crime, eles usam seus maiores esforços contra os atos cometidos na mesma casta social (como camponês atacando camponês ou samurai roubando de samurai, etc.) ou os crimes cometidos contra castas superiores (como um camponês atacando um samurai), especialmente este último, já que também é uma violação contra a Ordem Celestial. Crimes cometidos “para baixo” – um samurai abusar ou matar um camponês – mal são reconhecidos como crimes e punidos com nada mais do que uma reprimenda ou uma pequena multa. Mas um samurai que tenha o hábito de abusar ou matar camponeses está violando a Virtude da Compaixão e pode ser desafiado por outro samurai.

A justiça criminal rokugani também difere dos conceitos ocidentais, tudo o que importa é o testemunho ocular e evidência física direta. Deduções lógicas e interferências não são consideradas evidências adequadas e a própria ideia de resolver crimes ou mistérios de tal maneira é bastante desconhecida, exceto na família Kitsuki do Clã Dragão. O testemunho pessoal é sempre a evidência mais importante de todas, e quanto maior o nível social da testemunha, mais peso o seu testemunho carrega. Sendo assim, o testemunho de um simples samurai supera qualquer número de heimins ou hinins e as palavras do daimyo superam as de um samurai de baixa posição. Evidência física direta, como a descoberta de uma faca ensanguentada com o símbolo da Garça, também é considerada aceitável, embora não seja vista como nem sequer tão convincente quanto um testemunho.

Porém, evidências adquiridas por meios mágicos, por um shugenja falando com os kami, não é legalmente admissível, pois shugenjas poderosos são capazes de manipular os espíritos para incriminarem seus inimigos. Já a tortura é considerada um método aceitável em Rokugan. Porém, não é usada casualmente e, sob os Artigos do Céu, é considerado impróprio usá-las naqueles que são fracos e vulneráveis, como crianças e idosos.

Assim que um criminoso é preso, espera-se que ele confesse seus crimes. Uma confissão por escrito é considerada o documento final de qualquer investigação criminal, e em sua ausência, uma condenação requer autorização especial de um daimyo ou outra figura de alta patente. Assim que alguém confessa, o crime é resolvido e efetivamente esquecido – não há mecanismos de reabertura de casos e a simples ideia de tentar fazê-lo é considerada imprópria para vários rokuganis.

Os crimes podem ser punidos de várias maneiras, dependendo de sua seriedade, e magistrados têm moderada liberdade ao decidir a punição adequada. Qualquer crime realmente sério, como assassinato, maho, formação de quadrilha ou traição é normalmente punido com a morte – tipicamente forca ou decapitação, embora para traição séria, punições mais hediondas possam ser usadas, como ser fervido em óleo ou crucificação. Se um criminoso é um samurai confesso, ele pode receber permissão para cometer seppuku em vez de enfrentar a vergonha da execução.

Outros crimes podem ser punidos de diversas formas diferentes, dependendo da seriedade da ofensa. Crimes sérios, como desvio de taxas imperiais, podem ser punidos com a morte ou o exílio, mas samurais culpados de ofensas menores como assalto, furto, desordem pública ou ferir alguém de menor posição podem ser punidos com aprisionamento, prisão domiciliar, multas ou reprimendas públicas. Punições para camponeses são geralmente mais severas do que para samurais – um camponês culpado de furto pode ser sujeito a severo espancamento público, por exemplo, e um mercador culpado de um crime pode ter seus negócios e bens apreendidos.

Se um samurai for acusado de um crime, mas a evidência é inconclusiva (especialmente se acusado e acusador forem de igual nível social), um magistrado pode autorizar um duelo para encerrar a questão. Assim que um duelo foi travado e vencido, a questão é considerada encerrada e mais nenhuma questão pode ser levantada.

Duelos
Rokugan é uma sociedade regida por uma casta de guerreiros armados que seguem um estrito código de honra e etiqueta. Quando um samurai é insultado ou difamado e ainda mais se sua família, clã ou senhor são alvos de insultos e injúrias, ele normalmente responderá lançando um desafio de duelo. Duelos são considerados a resposta apropriada e socialmente aceitável para qualquer situação em que um samurai sinta que a honra e reputação foram ameaçadas ou comprometidas. Falhar em lançar um duelo significa que o insulto ou injúria inicial é deixada de lado, na prática, validando a mesma. Já no momento que o duelo é lançado, o outro samurai deve recuar e se desculpar, desfazendo a injúria que cometeu, ou defender suas palavras com aço. Sendo que recuar, obviamente é uma grande perda de prestígio e de compostura, e um samurai sábio nunca causará um insulto ou acusação sem estar preparado para reforçá-lo em um duelo.

Duelos nem sempre são até a morte. Samurais não devem jogar suas vidas fora sem motivo. Quando o insulto ou ofensa que causou o duelo não é tão grave, um duelo até o primeiro sangue, ou até que um combatente reconheça a derrota, será considerado suficiente.

Tradicionalmente, qualquer samurai que porte uma katana está transmitindo sua capacidade de se defender e, caso seja desafiado para um duelo, ele deve lutar por conta própria. Um samurai que carregue apenas uma faca ou wakizashi (como o típico cortesão ou shugenja), está dizendo que não é um guerreiro e, portanto, não pode lutar seus próprios duelos. Caso desafiado, ele pode escolher um campeão para lutar por ele. Da mesma forma, se tal samurai desafia outro, espera-se que ele tenha um campeão disponível para duelar por ele. Normalmente daimyos suprirão campeões para seus samurais, embora possam se recusar a fazê-lo se considerarem que o duelo não foi baseado em uma justificativa real.

Assim que um duelo foi lançado e aceito, a parte desafiada terá permissão para especificar hora e local do duelo, “o direito do desafiado”, podendo ser aceito e travado imediatamente caso os ânimos estejam muito exaltados. Mas, comumente, a parte desafiada escolherá um local simbólico ou belo em alguma hora significativa, como o amanhecer. Na teoria, um duelo pode ser travado para semanas ou mesmo meses após sua aceitação – às vezes chegando a um ano, mas nunca mais do que isso – mas atrasar um duelo dessa forma é por vezes considerado uma falta de autoconfiança ou até mesmo covardia.

Dívidas de Sangue
Rokugan é uma sociedade governada pela honra e se espera que os samurais defendam essa honra com o aço. Caso um samurai seja morto em um duelo não autorizado, pela incompetência ou negligência de outro samurai, a família do falecido tem o direito de declarar uma dívida de sangue contra o responsável. Elas podem, por vezes, ocorrer quando é impossível punir um crime, insulto severo ou outra grave ofensa pelos métodos normais de justiça ou duelo. Por exemplo, se a família é deixada na pobreza e desgraçada pelas maquinações políticas de outro, ela pode declarar uma dívida de sangue para se vingar.

Quando um samurai declara uma dívida de sangue, ele deve comparecer perante seu daimyo e requisitar permissão formal, da mesma forma que um duelo. Poucos daimyos recusam, pois uma dívida de sangue é considerada um meio honrado e socialmente aceitável de buscar vingança. Assim, este emitirá um documento por escrito autorizando a dívida de sangue e, deste modo, um estado de guerra efetivamente existe entre a família do samurai e a família do ofensor. Aqueles que buscam uma dívida de sangue devem sempre portar a autorização escrita do daimyo consigo, para evitar quaisquer mal-entendidos com as autoridades e magistrados locais. Aqueles que interferem em uma dívida de sangue estão interferindo em uma tarefa honrada e podem enfrentar a severidade que o samurai vingativo desejar.

Uma dívida de sangue termina quando a parte ofensora é morta. Neste momento, toda a violência deve cessar e o samurai vingador deve partir pacificamente. Obviamente, uma morte por dívida de sangue pode resultar em outra dívida de sangue sendo declarada em resposta. Assim, dívidas de sangue podem se prolongar por gerações.

Por Eduardo Elfman
Equipe REDE
RPG

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