Transpondo as Dificuldades para o Aprendizado: RPG é antes de tudo diversão

Neste início, o melhor a se fazer é uma reflexão, primeiramente perante a nossa sociedade brasileira, que está cada vez mais intolerante quanto a quase tudo. A divergência de opinião hoje é motivo para que amizades de anos ou décadas simplesmente desapareçam pelo simples fato da diferença de opinião. Algo que antes não era tão acentuado, usaremos o exemplo mais leve e de menor discórdia, que permanece com certa aceitação pelo diferente: times de futebol. Um dos poucos campos seguros, no sentido exclusivo da aceitação da divergência de opinião.

Dito isso, devemos pensar agora em nosso querido hobby, o RPG: ele é um ambiente saudável para todos os públicos? Em nossas atitudes, desde os novatos e, principalmente, os veteranos, será que não causamos desconforto às pessoas que estão à nossa volta tentando entender o que é feito, será que em vez de demonstrar e propagar, não estamos fazendo o contrário?

Vamos a alguns fatos sobre o assunto… Focaremos em eventos para elucidar isso. Em primeiro lugar, sempre existiram em eventos de RPG, mesas e áreas direcionadas aos iniciantes e o devido cuidado era tomado. Porém, isso foi se perdendo de alguma forma, seja pela transformação do hobby, ou mesmo as pessoas nele inseridas. Em segundo lugar, hoje por conta de ambientes hostis, existem eventos exclusivamente femininos, não pelo simples prazer das garotas se reunirem e se divertirem, mas para que possam ter um ambiente seguro.

Abordadas essas contrariedades, elas são apenas a linha de frente do que devemos enfrentar: o preconceito, a falta de tolerância e, de certa forma, o orgulho de pessoas ao acharem que por terem um conhecimento um pouco mais aprofundado sobre determinado assunto, são capazes de professar o que conhecem como sendo uma religião que não pode ser contestada, sendo passíveis os hereges de escárnio e humilhações.

O RPG, apesar de ser um gênero de diversão, é também em muitos aspectos um ambiente hostil e tóxico por muitas vezes e, por conta de PESSOAS, temos que criar ferramentas que na essência nem deveriam existir, para melhorar toda uma propagação de algo maravilhoso que é a criação de histórias geradas por se jogar RPG.

A batalha principal que se deve travar agora é a própria dificuldade de se aprender a jogar RPG, qualquer um que disser que foi fácil, está mentindo profundamente, podemos dizer isso pelo simples fato de que sistemas de RPG podem ser absurdamente complexos, com regras e tabelas para quase tudo, isso deixa muitas pessoas desmotivadas ao tentarem aprender. Sejamos sinceros: ler e escrever é um dos aprendizados mais traumatizantes da vida humana, tanto que a sua transposição é uma das que causa maior alegria em sua conclusão parcial nos nossos primeiros anos de ensino fundamental.

Mas não existem apenas jogos com regras, há aqueles também que têm tão poucas regras em sua sistematização que aprender a mecânica do jogo é simples, porém, estes são mais carregados de interpretação, de como seu personagem age, e devemos encarar que, no mundo de hoje, há muita “coragem” em expor suas palavras em meios eletrônicos, mas em convivências feitas cara a cara, a timidez pode imperar de forma a deixar pessoas paralisadas, sem conseguir sequer ter o discernimento do que pode ser feito.

Há também jogos que, caso não se conheça a história que comanda o cenário, jogar sem ela é praticamente uma afronta à proposta do mesmo, o que pode afastar as pessoas que procuram uma diversão mais rápida sem uma imersão muito exagerada. Todos esses são problemas que podem ser encarados quando uma pessoa tenta aprender RPG de uma forma geral.

A mola mestra deste trabalho é exatamente essa: apontar os problemas e mostrar que nós somos pessoas, novatos ou veteranos, que precisam de cuidados, que o mundo insiste hoje em nos negar. Mas acreditamos ainda que a grande maioria dessa comunidade de RPGistas é composta de pessoas que pregam o bem-estar de todos e que gradativamente poderemos aumentar a quantidade de pessoas a engrossar essas fileiras de indivíduos conscientes, que jogam RPG ou que ao menos viram o hobby e tiveram uma experiência que pode não as ter agradado para gostarem, no entanto, uma experiência que não lhes causou um trauma sobre algo tão maravilhoso que é o RPG.

André Raron Teixeira
Equipe REDE
RPG

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