Experiência de Mestre – PdM 3D

Esta coluna regular é para Mestres que gostam de construir mundos e campanhas, tanto quanto eu. Aqui vou compartilhar minhas experiências como DM através da lente de Iomandra, o meu mundo de campanha de Dungeons & Dragons. Mesmo que a campanha use as regras da 4 ª edição, os temas aqui tratados, muitas vezes transcendem edições. Esperemos que esta série de artigos que lhe dará inspiração, ideias e novas formas impressionantes de ameaçar seus jogadores em suas campanhas.

Se você estiver interessado em aprender mais sobre o mundo da Iomandra, confira o wiki.


QUARTA À NOITE. Eu não gosto quando PdMs roubam o trovão dos heróis, mas se há um PdM que pode competir com o grupo pelo prêmio, é Nyrrska. Ele é um assassino draconato aposentado que servia Tiamat, encontrando a vingança pelo nome da Rainha Sombria. Em algum ponto de sua nefasta carreira, ele milagrosamente sobreviveu a um corte letal na garganta. Um servo de Bahamut salvou sua vida, e ao acordar de sua experiência de quase-morte, Nyrrska teve uma epifania e arrependeu-se. Ele abandonou Tiamat e se aposentou no Templo de Bahamut, se tornando um modesto acólito. Quando os PJs apareceram no templo procurando refúgio dos assassinos de Tiamat, Nyrrska resolveu por si ajuda-los a sobreviver, ao risco de alienar seu antigos associados. Quando o alto sacerdote do templo decidiu que os heróis eram um investimento que valia a pena, ele designou Nyrrska para acompanhá-los como emissário de Bahamut. Suas habilidades de assassino raramente foram postas em uso, mas quando os PJs finalmente conseguiram um navio próprio, a presença intimidadora e a voz ríspida de Nyrrska o fez uma grande escolha pra manter a tripulação na linha. 

Quando os PJs fizeram de inimigo Vantajar, o pirata draconato senhor da guerra caolho, Nyrrska entendeu porque Bahamut escolheu ELE para vigiá-los. Em um desses momentos “legal além da conta” na campanha, foi revelado que Nyrrska tentou matar Vantajar uma vez. O encontro deixou Vantajar com um olho faltando e Nyrrska com uma garganta cortada.

Semana passada eu falei sobre criar Personagens do Mestre (PdMs) mais interessantes dando a eles segredos, e com o risco de entediar as massas, eu gostaria de continuar explorando o tópico de PdMs um pouco mais. Isso me dará a chance de fazer o que eu não tenho feito com muita frequência: retomar alguns artigos anteriores e demonstrar como as peças se encaixam.

Nem todo Mestre inventa seus próprios monstros, mas todos os Mestre inventam seus próprios PdMs. Não há escapatória. PdMs genéricos e sem nome são mais fáceis de criar, mas eles são inerentemente menos atrativos que os com o sabor da campanha. PdMs “nomeados” especificamente tem muito mais vindo para eles, mas quanto mais enraízados num mundo de campanha ele seja, mais difícil transplantá-los. É, eu poderia tirar do arquivo o nome Drizzt e incluir um drow ranger usuário de cimitarras na minha campanha caseira, mas meus jogadores achariam que eu finalmente fiquei sem ideias. Pela mesma moeda, os PdMs da minha campanha não são muito prováveis de se encaixar bem na campanha de uma outra pessoa. Talvez seja apenas eu, mas há alguma coisa estranha e desconfortável em usar os PdMs de outra pessoa. É como usar os dados de outra pessoa ou usar as meias de outra pessoa. Como Mestre, eu me sinto muito mais confortável em roubar e modificar os blocos de estatísticas do que roubando o conceito de outro Mestre para um PdM.

Por sorte, a criação de um PdM não precisa ser um trabalho. Quando eu crio um PdM de cabeça (e pra ser honesto, a maioria dos meus são criados assim), primeiro vem o nome, depois o segredo, depois as estatísticas, depois a voz e finalmente, as camadas.

NOME
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SEGREDOS
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ESTATÍSTICAS
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VOZ
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CAMADAS

Aqui onde eu retorno a artigos anteriores . . .

Nome: A parte mais difícil na minha opinião. Exige-se um Mestre sagaz para boalr um nome apropriado e memorável do nada, e não, um “Wizzy McWizard” e “Thundarr Super-He Man” não se qualificam. Se você lê esta coluna semana após semana, você já conhece meus truques para criar nomes.

Segredo: Campanhas são construídas sobre segredos. Sem eles, jogadores tem poucos incentivos para explorar o mundo e solucionar seus mistérios. E nós discutimos isto semana passada, PdMs tem segredos também.

Estatísticas: Eu raramente tenho tempo para criar blocos de estatísticas do zero. Uma vez que eu sei o nível do PdM, eu posso usar o D&D Compendium ou os apêndices “Monstros por Nível” dos vários Manuais dos Monstros para encontrar o bloco de estatísticas apropriado que eu posso customizar usando vários truques fáceis.

Voz: A voz do PdM é a sua vozm com ou sem uma distorção. Você pode acrescentar um sotaque ou umagarganta arranhada, trocar o ritmo ou timbre, ou usar qualquer um desses truques simples, ou pode decidir que não vale o esforço. Nem todo o PdM precisa de uma voz única.

E a última parte do quebra-cabeça . . .

Camadas: São camadas, não esconderijos!¹ (As vezes os PdMs precisam de esconderijos também, mas isto é assunto para outra semana.) Se tyudo o que você precisa é de um PdM sem rosto para lembrar seus jogadores que existem outras pessoas no mundo, não se preocupe em adicionar camadas. Camadas são o que você precisa para tornar um “recorte de cartolina” em um novíssimo PdM tão real e tridimensional quanto os heróis.

¹ – No original: “That’s layer’s, not lairs!”, o que possibilitaria a confusão e a piada.

Pelo menos, nós chegamos à encruzilhada do artigo desta semana—o que eu gosto de chamar de “O PdM 3D”. Você criou um PdM e deu a ele um nome, um bloco de estatísticas, um segredo e uma voz. O PdM está todo preparado e pronto pra sair! Enquanto ele ou ela começa a intergir com os personagens jogadores, você verá oportunidades para começar a adicionar camadas ao PdM. Camadas são ótimas porque (1) você não precisa adicioná-las de início e (2) você não precisa adicionar todas de uma vez.

A maioria das camadas tem impacto zero nos eventos da campanha. Eles exitem apenas para dar um toque de realismo ou complexidade ao PdM. Para ser efetivo, uma camada precisa pintar o PdM em uma luz diferente, revelando um lado ou aspecto do personagem que é de alguma forma surpreendente ou inesperado. Aqui está uma tabela de camadas aleatórias que você pode usar em PdMs de qualquer nível, tendência, disposição e importância:

d20 O PdM…
1 não gosta de crianças poque eles são lembranças de uma infância miserável.
2 tem uma coleção de ukuleles, apitos e violinos e toca todos eles lindamente.
3 costumava ser um engolidor de espadas em um circo itinerante ou show de bizarrices.
4 tem uma “queda” por membros de uma raça particular (como elfos ou gnomos).
5 gagueja quando ele ou ela mente.
6 sabe tudo o que se precisa saber sobre demonologia e o Abismo.
7 é um romântico inveterado e namorador.
8 é obcecado com a imortalidade e quer ser um vampiro.
9 finge um ferimento para ganhar simpatia ou vantagem.
10 fala durante o sono.
11 fica enjoado com a visão do sangue.
12 clama ser um descendente real mas vem de uma linhagem comum.
13 foi criado por orcs, golias, ou entes e pegou alguns hábitos incômodos.
14 visita o túmulo de um falecido amor regularmente.
15 procura por um pai doente ou mentor idoso.
16 faz bonecas ou esculpe miniaturas de madeira e os dá como presentes.
17 tem medo de gatos, altura, água ou do escuro.
18 cria uma criança mas não é muito bom nisso.
19 escreve poesia.
20 é cleptomaníaco.

Lições Aprendidas

Eu aprendi a importância das camadas assistindo dramas televisivos como Star Trek: The Next Generation, Lost, True Blood, Mad Men, Leverage e Firefly. Camadas tendem a aparecer mais em séries de televisão mais do que em filmes porque os escritores, produtores e atores tem mais tempo para explorar as várias facetas dos personagens e revelar a complexidade de seus relacionamentos.

Vamos usar Firefly como exemplo desta semana. No primeiro episódio, nós aprendemos que o Capitão Malcolm Reynolds (Nathan Fillion) é um bandido autônomo com um chip em seu ombro porque ele lutou numa guerra e acabou no lado perdedor. Ele despreza autoridades e não gosta quando as pessoas metem o nariz em seus negócios. Ele foge de apegos pessoais, e a dura fornteira do espaço tornou seu coração em gelo. Ainda assim, enquanto a série se desenrola, nós descobrimos que seus relacionamentos são infinitamente mais complexos e que ele é mais esperto e estúpido do que imaginávamos inicialmente, dependendo da situação e das circunstâncias. Nós o vemos em seu melhor e pior. E há o personagem Jayne (Adam Baldwin), um cara meio-cérebro carregado de armas que recebe ordens de Reynolds mas tem lealdade zero. Quem iria imaginar que ele seria um garotinho com chapéu de pompom da mamãe?

No contexto de uma campanha de D&D, a camada é algo que você adiciona que apresenta o seu PdM sob uma nova luz. Em alguns casos, a nova camada convida o jogador a mudar suas opiniões sobre o PdM. Um soldado maligno se rende ao grupo para evitar ser morto e se mostra um amigável e simpático humorista enquanto está sob custódia. Um taverneiro meio-orc que não é nada senão gentil com aventureiros abastados e mostra pouco respeito por seus empregados e dá calote em seus ganhos. Você pegou a ideia.

De volta à Iomandra . . .

Vocês já conheceram Nyrrska, o assassino draconato que espreita nas sombras do grupo de Quarta. Agora permita-me apresentar a vocês outro PdM da minha campanha de Quarta.

Tirania (t.c.c. “Tira”) foi introduzida no começo do estágio épico como um amálgama para Deimos, o feiticeiro tiefling interpretado por Chris Youngs. Após o navio de Deimos ter afundado, ele fez um pacto com Dispater para ter sua embarcação de volta. Como parte do acordo, Deimos foi forçado a ficar com Tira, uma das consortes de Dispater, como concubina e jurar protege-la a todo custo de todos os males. Tira apareceu uma noite na cama de Deimos como uma voluptuosa tiefling, embora seu “grande segredo” é que ela é uma sucubus metamorfoseada. (Para seu bloco de estatísticas, eu usei uma sucubus nível 9 e evoluí ela para o nível 25.)

A chegada de Tyra deixou os outros personagens (e jogadores) na berlinda, por Deimos não ter consultado os outros antes de fazer seu trato com Dispater. Houve alguns conflitos pessoais, mas trato é trato—e os heróis não podiam arriscar jogar Tira para fora do navio ou matá-la. Então, ela se tornou um mal necessário.

A missão de Tira é encontrar um jeito de ressucitar o antigo destruído império tiefling de Bael Turath, mas este é um objetivo de consideravelmente a longo prazo. A primeira camada que eu adicionei é que ela tem uma invariável licitude. Ela aprende o jogo e sempre joga pelas regras. Ela teve que provar a seus detratores que era uma valiosa adição à tripulação mas não podia magicamente enfeitiçar ou dominá-los sem quebrar o contrato com Dispater. Esses grilhões a forçam a contar com seus charmes naturais ao invés dos seus diabólicos. Ela foi direta quando precisava ser honesta, calma quanto precisava ser modesta. Sempre que um jogador chegava a um impasse e cão estava certo de como proceder, Tira dava um passo a frente e oferecia um pensamento cuidadosamente considerado que só poderia vir de um PdM dotado com uma pedaço da presciência do Mestre. Honestidade não é exatamente o que os jogadores esperam dela afinal. Isso, e o fato de que ela gosta de tirar sua roupa e andar nua por aí (não nós todos).

Quando a coisa é adicionar novas camadas, o Mestre não tem que fazer todo o trabalho. As vezes um jogador pode encontrar uma maneira de adicionar camadas a um PdM por associação. No caso de Tira, outra camada foi adicionada depois de dois membros do grupo terem morrido. Chris Champagne decidiu que seu próximo personagem seria um Príncípe do Inferno chamado Kosh, e então inventou uma história que sugeria que ele Tirania eram velhos conhecidos. Para trazer o novo personagem de Chris para o jogo, eu tive Tirania para invocá-lo dos Nove Infernos. Temendo que o grupo não fosse mais forte o suficiente para sobreviver as provações e tribulações a frente, ela convenceu Deimos a deixá-la conjurar um rirual de invocação usando gotas de sangue mortal vindas de tripulantes voluntários. Eu nunca esperei que ela tivesse uma história com outro personagem que não Deimos. Quando os seus jogadores usam um PdM desta maneira, você sabe que você está fazendo isso certo. É a cobertura do bolo.

A despeito do fato de que ela é uma sucubus disfarçada, Tirania tem se tornado genuinamente orgulhosa e protetora dos Pjs—inclusive aqueles que não confiam nela. Através do curso do estágio épico, ela provou adepta de perceber farsas inimigas (ela é, afinal de contas, uma mestra da enganação). Esta inclinação combinada com sua falta de vontade em enganar o grupo eleva ela da condição de mera companheira para uma igual. Tendo endurecido pela hierarquia tirânica dos Nove Infernos, ela não trata esta igualdade levianamente, mas em seu coração, ela ainda é uma sucubus. Ela poderia ter invocado qualquer Prícipe do Inferno, mas ela escolheu Kosh por uma razão. Ele é o seu bilhete para a restauração de Bael Turath e cumprir os termos de seu acordo com Dispater. Não importa quantas camadas ela tem, ela precisa se manter verdadeira com sua essência.

Enquanto camadas adicionam uma nova profundidade ou dimensão ao personagem, abaixo de todas as camadas o personagem deve se manter reconhecível pelo seu núcleo. Malcolm Reynolds não seria Malcolm Reynolds sem o chip em seu ombro, e Jayne não seria o Jayne se ele deixasse de ser um idiota. Similarmente, o ex-assassino Nyrrska perderia sua gravidade se ele explodisse em lágrimas cada vez que alguém ferisse seus sentimentos. Na próxima vvez que você quiser adicionar uma nova camada a um PdM, lembre-se: A camada é apenas a cobertura. Você pode colocar piche ao invés de cobertura, mas ninguém vai comprá-lo.

Até o próximo encontro!

Mestre para toda vida,
—Chris Perkins

Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: Wizards of the Coast

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1 Comment
  1. Muito bacana!

    Parabéns e obrigado!

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