Experiência de Mestre – O Que Há Num Nome?

Esta coluna regular é para Mestres que gostam de construir mundos e campanhas, tanto quanto eu. Aqui vou compartilhar minhas experiências como DM através da lente de Iomandra, o meu mundo de campanha de Dungeons & Dragons. Mesmo que a campanha use as regras da 4 ª edição, os temas aqui tratados, muitas vezes transcendem edições. Esperemos que esta série de artigos que lhe dará inspiração, ideias e novas formas impressionantes de ameaçar seus jogadores em suas campanhas.
Se você estiver interessado em aprender mais sobre o mundo da Iomandra, confira o wiki.


QUARTA À NOITE. Os heróis embarcaram numa missão de recuperar a Ladrapenetrante, um cutelo com o poder de unir os Reis dos Mares de Iomandra sob uma única bandeira. Entretanto, tempo é essencial, uma vez que o cutelo também é procurado pelo arqui-inimigo deles — um cruel senhor da guerra draconato caolho chamado Vantajar. 

A mítica arma foi vista pela última vez nas mãos do Rei do Mar Draeken Malios, cujo o navio foi perdido na Batalha do Caudeirão Turvo a quase um século atrás. De algum jeito o cutelo encontrou o seu caminho até o Caos Elemental. Na sessão da semana passada, os heróis zarparam para o Sargaço da Mandíbula do Demônio e foram sugados para um vórtice mortal. Eles sobreviveram a descida e seu navio foi parar num oceano de gelo cortante no Caos Elemental próximo a vários outros navios presos na erma imensidão frígida, incluindo um navio feito de vidro negro e outro feito de pedra.

Não muito depois de sua chegada, os heróis ficam face a face com os capitães desses navios encalhados: um azer de cabelo de fogo chamado Capitão Zarance; um genazi alma da tempestade chamado Capitão Ferrik Fagulha; um meio gigante de pelo rochosa chamado Shrador; um arconte da água chamado Worlus; e uma anã de barba congelada chamada Parcilla Estilhaçaosso.

“Oh que dia colossal!” meus jogadores resmungaram. “Cinco novos PdMs para adicionar ao sempre crescente elenco de milhares!”

 

Um dos meus leitores frequentes, Matthias Schäfer, mandou um e-mail para dndinsider@wizards.com perguntando porque eu dou aos meus PdMs nomes como “Draeken Malios” e “Vantajar” ao invés de nomes mais pronunciáveis tirados do inglês, como “Marteloferreiro” ou “Águalimpa”. Ele também está curioso sobre como eu faço meus jogadores lembrarem de nomes estranhos para que eles não acabem os chamando de “o Rei do Mar morto” ou “aquele cara draconato”.

Primeiro, vocês todos precisam saber que eu tenho um problema: eu gosto de criar nomes estranhos. É um dos meus exercícios favoritos, e um que me permite criar listas inteiras de nomes que eu mantenho anotados para referência, então sempre que eu preciso de um nome na hora, eu tenho vários deles pra escolher. (E uma vez que eu escolho um nome da lista, eu o risco para não acabar colocando em outro PdM pelo caminho.) É um dos melhores truques dos Mestres pelo mundo, por que dá a impressão aos meus jogadores que eu nomeei cada PdM da campanha (o que, eu suponho, tenha feito).

Sem João Ferreiro

Existe uma razão pela qual você nunca vai encontrar um PdM chamado “João Ferreiro” na minha campanha. Eu acho que nomes comuns do inglês arrancam meus jogadores do mundo de fantasia. Mesmo “Jonah Marteloferreiro” trilha muito perto da realidade pro meu gosto. Porém, eu não tenho problemas com “Jaxar Marteloferreiro” como um nome anão. De fato, acho que vou adiciona-lo a minha sempre crescente lista.

Quando eu comecei a criar as culturas do meu mundo de campanha, eu decidi aplicar certas convenções de nomes para cada raça. Os tieflings na minha campanha são refugiados de império caído, então eu decidi derivar seus nomes das culturas romana e grega (e.g., Decimeth, hacari, Prismeus, Syken). Eles também tem nomes mais próximos daqueles apresentados no Livro do Jogador na entrada dos tieflings (e.g., Sofrimento, Raio de Sol, Espinho, Tirania), embora esses nomes são normalmente apelidos auto-escolhidos.

Nomes draconatos tendem a vir da cultura egípcia e oriente médio (e.g., Araj, Fayal, Kaphira, Nazir) ou soam como nomes que poderiam pertencer a dragões (e.g., Drax, nagarax, Rhesk).

Eu tendo a dar a elfos e eladrins nomes líricos, multissilábicos, o que é razoavemente estereotipado (e.g., Ariandar, Lorifir, Talonien).

Anões tendem a ter primeiros nomes simples com consoantes duras e terrosas (e.g., Glint, Halzar, Korlag) ou nomes tirados de geradores de nomes poloneses e húngaros (e.g., Gyuri, Ferko, Szilard), e normalmente tem nomes compostos feitos de duas palavras comuns ainda que emblemáticas prensadas juntas (e.g., Élitroâmbar, Veiodeferro, Lápiderochosa).

Nomes halflings são simples e divertidos (e.g., Corby, Feliz, Coelho, Ziza), e seus sobrenomes incluem algum tema ligado à natureza ou água (e.g., Águanegra, Rochasaltadora, Garçamarela).

Os gnomos na minha campanha, embora em pequeno número, cercam o mercado com primeiros nomes bestas ou nomes ligados tematicamente à magia (e.g., Burrodecarga, Encantor, Poucacoisa, Lâmpejo).

Meus nomes humanos estão espalhados por todo o mapa. Tendo a nomes que soam como de vez em quando usados no mundo real (e.g., Arando, Caven, Fenton, Mirabel, Remora) e sobrenomes com raízes nas culturas do leste europeu (e.g., Caskajaro, Cristalunar, Ratley, Van Hyden), ou nomes construídos em volta de termos náuticos (e.g., Costafria, Quilha, Bancodeareia). O truque é pensar em nomes que soem humanos mas pareçam enraízados num mundo de fantasia, não realidade.

Na minha campanha, um nome é usado para evocar um certo sentimento ou forticar a imagem que eu tenho em mente quando visualizo o PdM. É manjado, mas PdMs malignos tendem a ter nomes que soam malignos a não ser que eu esteja deliberadamente jogando contra o estereótipo para tentar ludibriar meus jogadores. “Lhorzo Zalagmar” Azrol Tharn” são dois vilões anões em minha campanha.A combinação de certas letras e sons (nesses exemplos específicos, a letra “z” combinada com o fonema “ar” dá a esses nomes uma indescritível dureza ou sordidez. “Talia Folhainvernal”, “Alathar Tormentogélido” e “Arromar Sombrasolar” são vilões élficos; aqui eu usei especificamente palavras como “invernal”, “tormentogélido” e “sombra” para reforçar seu propósito sinistro na campanha. As vezes é uma combinação de palavras que realmente vende o nome: Caso em questão, o grupo da noite de Quarta recentemente se chocou com o vilão forjado bélico de nome “Sorrisoférreo”. E na ocasião, eu vou surpreende-los com um nome mais leve e coloca-lo num vilão, como aconteceu com o vilão menor gnomo e bardo chamado “Clave¹ Wimbly”.

¹ – Clave é um sinal gráfico musical que, colocado no início da pauta, em certas linhas, dá às figuras nelas escritas o nome que na escala dos sons (notas) que lhes compete.

Lembrando os Nomes

Eu não saio dos trilhos pra queimar os nomes dos PdMs nas mentes dos meus jogadores. Eles vão lembrar dos que forem memoráveis, e vão esquecer dos que são esquecíveis. Se um PdM aparece constantemente ou tem uma peculiaridade decidamente memorável ou maneira de falar, meus jogadores tem muito mais facilidade em lembrar o nome. Porém, eu não me preocupo. Minha campanha inclui milhares de PdMs. Não há como meus jogadores lembrarem de todos eles. Se “Azrol Tharn” é lembrado como “o anão ampiro que se transformou numa poça de óleo”, eu estou bem com isso. Se tudo mais falhar, os jogadores podem normalmente contar com Curt Gould (o escriba do grupo) para procurar em suas anotações da campanha e lembra-los se e quando se tornar importante.

Eu tento não enterrar nomes garganta abaixo dos meus jogadores, porque isso parece forçado e constantemente leva a zoações. Por exemplo, eu nunca teria meu vilão anunciando, “Ajoelhem-se perante mim, eu, o senhor da guerra pirata Vantajar, escória do Mar do Dragão!” É simplista demais pro meu gosto. Melhor deixar no nome do PdM permanecer um mistério até que os jogadores expressem um interesse em aprende-lo, assim serão mais inclinados a lembra-los depois. (Seria “Vouldemort” metade memorável o quanto é se não fosse pelo fato de não poder ser dito?)

Eu preciso admitir, meus jogadores criaram um joguinho particular tentando descobrir como eu pronuncio o nome dos meus PdMs. A primeira vez que um nome é mencionado, eles racham tentando pronunciá-lo, antecipando a presença de um “h” silencioso ou o uso de um “zh” ao invés de um “j”. De quantas maneiras diferentes meus jogadores soletram e pronunciam os nomes “Zaibon Krivazh” ou “Zaidi Arychosa”? Mais de uma, e deixe-me dizer-te, tá ok. Até onde entendo, esses nomes adicionam realismo ao mundo em virtude do fato de que eles são estranhamente construídos e difíceis de pronunciar. Eu conheço muitas pesoas reais cujos nomes são igualmente desafiadores (tente pronunciar “Jon Schindehette” ou “Bill Slavicsek” corretamente, eu te desafio). Felizmente, meus jogadores tem o benefício de terem me ouvido dizer os nomes, então eles não estão apenas lendo as letras numa página.

Lições Aprendidas

As primeiras páginas das minhas anotações de campanha contém listas de nomes aleatórios, organizados por raça. E do lado direito da página hpa espaços vazios onde eu posso adicionar novos nomes ou lembrar nomes que eu usei. Por exemplo:

Primeiros Nomes Humanos Sobrenomes Humanos
Anlow Arkalis Arando Corynnar – Cavaleiro de Ardyn
Arando Bilger Cale Margemnegra – Espião dos Guardiões de Drax
Azura (f) Margemnegra
Bram Carnavon
Cale Corynnar
etc. etc.

Onde eu consigo meus nomes, você pergunta? Eu treinei meu minúsculo cérebro para desenvolver nomes num relance, mas quando eu travo ou prestes a esgotar a minha lista, eu me volto para várias fontes prontamente disponíveis.

  • A internet. Precisa de alguns bons nomes para os habitantes da sua fortaleza anã? Tente uma busca no google por “nomes húngaros”. Precisa de nomes para um clã furioso de goliaths nas montanhas? Tente procurar por “nomes havaianos” ou “nomes nativo-americanos”. A internet está cheia de listas de nomes de bebês, bichinhos de estimação e outras listas. Se você não pode achar o nome prefeito nessas listas, pegue dois nomes e junte-os para criar algo novo.
  • Filmes. Cada filme nos últimos 20 anos tem uma enorme lista de créditos finais com grandes nomes. Fique na frente do seu laptop ou sua grande TV com seu notebook, pule para os créditos no final da seu DVD do Hellboy ou O Retorno do Rei, e anote alguns dos nomes sonoramente legais que aparecem. Você vai ficar surpreso com quantos nomes legais aparecem, principalmente se o filme foi rodado em diferentes continentes.
  • Suplementos de RPG. Livros de campanha como Livro de Campanha dos Reinos Esquecidos e Livro de Campanha de Eberron são repletos de nomes que podem ser repropositados para suas campanhas caseiras. Eu posso viras as páginas de qualquer um de desses dois livros e encontrar uma palavra inventada que daria um grande nome para um PdM.
  • Nomes reais. Pegue um nome real e distorça algumas poucas letras pra criar algo novo. “Chris Perkins” se torna “Carysto Perek”. “John Smith” se torna “Joran Snythe”. Você pegou a ideia.

Até o próximo encontro!
— Mestre pra vida toda,
Chris Perkins

Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: Wizards of the Coast

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