Saqueadores na Fronteira RPG (resenha e entrevista com o autor!)

“Saquear eu vou, saquear eu vou, saquear eu vou, how! Saquear eu vou!”
(Ou, Saqueadores na Fronteira, uma resenha).

Há dois meses falamos aqui do projeto Saqueadores na Fronteira, um suplemento para Dungeon World que nos joga de cabeça e equipamentos na fronteira, uma área inexplorada, não civilizada e perigosa, tudo para que possamos encher a burra de dinheiro, se não morrermos no processo, é claro!

De autoria de Jason Lutes, Saqueadores na Fronteira aproxima o Dungeon World do espírito Old School, com apenas quatro classes e raças básicas, e aquele espírito do “tente sobreviver sem facilidades” da caixa vermelha da Grow. Saqueadores na Fronteira foi originalmente pensado para compor o incrível e completamente indispensável The Perilous Wilds (em minha humilde opinião, leitura obrigatória mesmo para quem não joga Dungeon World). A versão tupiniquim é de Marcelo Paschoalin, o mesmo de Atisi RPG e Foices & Feitiços (ambos também recomendados) e foi financiado com relativo sucesso, mas que, infelizmente, parece não ter chamado muito a atenção da galera “old school”. Problema deles, perderam um livrão.

Lembro que recebi o PDF de Saqueadores na Fronteira antes do livro físico e devo dizer uma coisa: ele não me ganhou. O livro simula aqueles livrões antigos das décadas de 1980/1990, todo em preto-e-branco, com bordas escuras que me lembraram muito os livros do sistema Daemon. Nada contra, na verdade, mas a borda em muitos momentos acabava tirando a atenção da leitura. Cheguei a comentar isso com o autor – um cara muito humilde a aberto a críticas, diga de passagem, e gente boa o suficiente para não se insultar com alguns comentários petulantes… –, fui aconselhado pelo próprio Marcelo a esperar a versão impressa e dar uma nova olhada, e foi o que fiz. Na versão impressa a coisa fica melhor, sem a sangria (aquela parte que a gráfica corta) realmente a borda ficou mais fina, mais agradável à leitura.

As imagens são boas em seus estilos, mas ao mesmo tempo, destoam justamente por terem estilos muito diferentes: quando não são imagens no estilo old school (aquelas bem “simples” em preto e branco, sem volume), são imagens em “3D”. Elas não ficaram ruins, mas há uma certa quebrada de clima quando se vira uma página e encontramos uma imagem de tom tão “moderno” em um trabalho da velha guarda.

Quanto ao conteúdo do livro, nada a reclamar e é aí que a mágica de Saqueadores na Fronteira acontece! Praticamente qualquer coisa pode ser resolvida pelo Mestre de Jogo com algumas rolagens de dados, sejam os nomes dos NPC’s ou personagens, aparência, vícios, virtudes… tudo está ali!

A criação do personagem é bastante simples e bem achegada ao que a maioria dos jogadores esta acostumada: rola-se 3d6 e aplica-se o modificador, temos também um novo atributo, Sorte, que pode ser “queimada” para melhorar uma rolagem. A sacada aqui é que atributos podem – por vários motivos – serem danificados temporária ou permanentemente. Outra mudança em relação ao DW é que em SnF o dano é causado pela arma, e não pela classe, dinamizando muito mais o combate.

Mas a cereja do bolo ainda esta por vir, pois SnF traz um sistema interessante de magias: em vez de listas prontas, temos uma enorme tabela de características que compõe aleatoriamente os efeitos – o que não impede que os jogadores criem seus próprios feitiços… Já tenho uma jogadora com uma Capa Empoderadora em mesa… – respeitando a tabela de feitiços da classe Feiticeiro. Senti falta de magias para o Clérigo, mas a classe acaba tomando outra roupagem, mais um seguidor devoto do que um mago que lança magias divinas.

Saqueadores na Fronteira é um suplemente bastante útil, uma mão na roda para o Mestre e o jogador, em especial pelas inúmeras tabelas de geração automática. Jogos de outros sistemas podem se beneficiar com essas facilidades, que Mestre de Jogo nunca se engasgou com a descrição de um personagem ou que jogador não passou o dobro do tempo de se construir uma ficha pensando em um nome ou aparência de seu personagem?

As metas adicionais já enviadas (Rol de Seguidores, Mapa regional em branco (Geral e Ilha), Gerador de Assentamentos) ajudam muito, e como ajudam! Tudo em SnF parece ter sido feito para ajudar o Mestre ou, no mínimo, não travar o jogo. No geral, um material excelente, mesmo para quem não joga Dungeon World. E fazendo um jabá de graça, Saqueadores na Fronteira fica excelente se servido com um bom Old Dragon ou um A Ordem dos Últimos, com muita exploração livre à gosto.

Para finalizar, uma pequena entrevista com o Marcelo Paschoalin:

Vamos nas pessoais primeiro: quem é Marcelo Paschoalin?
Jogador de RPG desde 1986, escritor de literatura fantástica, autor e tradutor de RPG, Druida, Mestre Maçom, Chevalier da Ordem DeMolay, mago natural, professor de tarot… Fora isso, divido meu lar com 9 (nove) gatos.

Todos os gatos são familiares?
Eles me pediram para não responder a isso.

Ok (traçando círculos de proteção). Você recentemente trouxe ao Brasil Saqueadores na Fronteira, um suplemento Old School para DW. Porque trazer o SnF?
Resposta simples: porque é divertido pra caramba, e tem sido o jogo de escolha em nossa mesa há algum tempo quando falamos de Dungeon World.
Resposta complexa: o trabalho do Jason Lutes, ao unir o espírito dos jogos da engine World (em especial o Dungeon World) com o estilo old school de jogar foi fenomenal. O Saqueadores consegue ser aquele “caminho do meio” (nem tanto ao mar, nem tanto à terra) que tem o melhor dos dois mundos.

Podemos esperar outros produtos da linha, como The Perilous Wilds?
Até onde sei, The Perilous Wilds virá pela Secular Games que, por sinal, merece meu agradecimento público pela parceria fantástica feita durante o financiamento coletivo do SnF, fornecendo exemplares do Dungeon World (impresso e em PDF) para oferecer como recompensas aos apoiadores, corrige aí.

Mas e quanto a material autoral? Alguma parceria já firmada?
zauBeR está em financiamento coletivo (já com a meta básica batida!) neste momento e é uma obra autoral. A parceria que tive foi, principalmente, na análise prévia do material pela RedBox e estou muito feliz com a forma como trataram a discussão do texto, apoiando minha decisão de lançar o RPG sozinho.

Este, diga-se de passagem, já é um enorme sucesso! Mas e em relação ao SnF, podemos esperar novos materiais e parcerias?
Existem conversas sobre a apresentação de um cenário para dar suporte ao “saque nas fronteiras”, ou, ao menos, aventuras prontas para serem usadas ali. No momento estamos em discussões preliminares, mas é provável que tenhamos algo até o fim do ano (ou antes, caso os deuses assim o queiram).

Marcelo, para finalizar, um recado aos leitores!
Joguem de tudo. Leiam bastante. Mantenham-se hidratados. A comunidade RPGística brasileira só tende a crescer quando todos trabalhamos juntos para criar e nos divertir. Apoiem seus autores favoritos e deem uma chance para aqueles que vocês ainda não conhecem (principalmente os que estão apresentando o primeiro RPG deles): de repente, em meio a tudo isso, você encontra a próxima joia da sua coleção. E muito obrigado, Sérgio, por essa oportunidade de estar aqui, conversando acerca das minhas criações. São pessoas como você que ajudam a fortalecer o RPG nacional.

Se você perdeu esse financiamento, Saqueadores na Fronteira pode ser encontrado no DriveThruRPG, no Dungeonist ou no site da editora (mas corre que há poucos exemplares disponíveis). E não se esqueçam de apoiar zauBeR!

NOTAS (de 1 a 6)
Layout/Arte:
4
Texto: 6
Conteúdo: 6
NOTA FINAL: 5

Por Sérgio “O Alquimista” Gomes
Equipe REDE
RPG

 

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