Física e HQs (II)

Dando sequência ao artigo I desta série,  Francisco de Assis Nascimento Júnior continua a discorrer sobre Supervelocidade e o Velocista Escarlate da DC: Flash, artigo retirado do blog Física Pop.  Embora algumas informações do texto abaixo estejam presentes na série Física no RPG ( I e II) esta versão é mais completa e mais direcionada ao universo das HQs.  Divirtam-se, e continuem aprendendo!

Corre cipó na casa da avó: Supervelocidade ou Rapidez?

Voltando a falar mais um pouco sobre o Flash, é bom lembrar que se em suas histórias um personagem de HQ pode se mover a uma velocidade próxima a da luz, isso não significa exatamente que ele pode correr à essa velocidade.

Se no universo imaginário dos quadrinhos um supervelocista pode correr a 300 mil km/s, isso significa que ele necessita acelerar até atingir essa velocidade ou seja: vive como uma pessoa normal e ativa seu poder quando acha que é preciso. Todos os Flashes das HQ’s sempre se comportaram dessa maneira, levando suas vidas em suas identidades secretas até que o chamado da justiça surgisse no horizonte.

Todos, exceto um: o Flash da megasérie “O Reino do Amanhã”, cuja identidade secreta nunca foi exatamente revelada – ele vestia o elmo do Joel Ciclone, tinha os traços de Wally West e se comportava como Barry Allen.

Wally West, uma das muitas identidades do velocista escarlate...

Especula-se que seja Wally West devido a cidade escolhida para ser sua “base de operações”, mas isso nunca ficou claro. Em sua apresentação na história é dito que “ele vive nos instantes entre um Segundo”, mas o que exatamente isso significa? Bem, se o personagem se move à velocidade da luz, significa que pensa, anda, respira e corre nesta mesma velocidade: é impossível para ele mover-se mais depressa (lembre-se de que a luz não pode ser acelerada, pois sua velocidade é constante! E constante significa que não muda!), mesmo que ele corra, sua velocidade não irá mudar.

Na verdade, ela também não irá diminuir, a menos que ele mude seu meio de propagação (a velocidade da luz é de 300mil km/s no vácuo. Em outros meios, como a água, ela diminui de acordo com a penetrabilidade do meio). Então, da mesma maneira que você e eu nos movemos em nossa velocidade normal, esse personagem viveria em sua velocidade incrivelmente alta – o que está longe de ser uma situação agradável.

Imagine viver em um mundo onde o tempo está, literalmente, parado. Todas as pessoas do planeta não passam de estátuas para você, é possível observar as gotas de chuva suspensas no ar (como naquela cena do filme Matrix Revolutions), andar sobre a água com a mesma facilidade com que pessoas normais andam pelo asfalto. Pois é, imagine viver para sempre preso nos instantes entre os milésimos de um microssegundo!

Em se tratando do nosso herói, o personagem poderia salvar todas as vidas em perigo no planeta antes mesmo que elas percebessem estar em perigo…. ou não? Afinal, ser superveloz não significa poder estar em dois lugares distantes ao mesmo tempo e fatalmente alguém irá morrer em algum momento, simplesmente porque o Flash não poderia estar lá para salva-la: e agora? Como decidir para onde ir e a quem salvar? Talvez por isso um herói tão poderoso tenha restringido sua area de ação a uma única cidade, onde poderia evitar esses dilemas morais.

E não vamos nos esquecer que não haveria mais a “identidade secreta” para dar ao personagem a ilusão de uma vida normal: impossibilitado de desacelerar, coisas simples como ler um livro seriam impossíveis para ele pois a transferência de momento de sua mão ao virar a página desestabilizaria as moléculas do papel, que explodiriam!

Sinto muito, mas é a lei da conservação de energia! Pode esquecer essa história de ler uma biblioteca inteira em um minuto, mesmo porque existe a dilatação do tempo para quem se move em velocidades próximas a velocidade da luz, e o que pareça um minuto para ele pode muito bem ser uma vida inteira para nós.

Ou seja: supervelocidade neste nível pode estar bem longe de ser uma supervantagem… aliás, está mais para superproblemão!!! Mas e o inverso? Como seria uma história que se passasse em um mundo onde coisas estranhas acontecessem o tempo todo?

Um lugar em que os barcos nos mares fossem atacados por gigantescas ondas que surgissem sem o menor aviso e correntes de ar com a velocidade de um tornado rumassem castigando as cidades em uma linha de destruição aleatória? Uma cidade em que os objetos explodissem sozinhos, onde balas dos revólveres desistissem de voar no meio de sua trajetória ou simplesmente sumissem de seus tambores?

Estranho? Pois é essa a vida dos habitantes da Keystone City de “O Reino do Amanhã”, vivendo em uma cidade estranha, que poderia muito bem receber o título de “mal assombrada”, graças a presença do Flash!

Por Francisco de Assis Nascimento Júnior
Publicado anteriormente no blog Física Pop
Siga o autor no Twitter: @macassis
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Não perca na próxima semana, um artigo novo,
encerrando a trilogia sobre Flash e Supervelocidade

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