Física no RPG II

Supervelocidade: SuperPoder ou SuperMaldição?

No segundo artigo sobre esse tema, é bom lembrar que se um personagem de RPG pode se mover a uma velocidade próxima a da luz, não significa exatamente que ele pode correr à essa velocidade. Se um personagem pode correr a 300 mil km/s, isso significa que ele necessita acelerar até atingir essa velocidade: ele vive como uma pessoa normal e ativa seu poder quando acha que é preciso.

Agora, se o personagem se move à velocidade da luz, significa que ele pensa, anda, respira e corre nesta mesma velocidade: é impossível para ele mover-se mais depressa (lembre-se de que a luz não pode ser acelerada, pois sua velocidade é constante! E constante significa que não muda!), mesmo que ele corra, sua velocidade não irá mudar. Na verdade, ela também não irá diminuir, a menos que ele mude seu meio de propagação (a velocidade da luz é de 300mil km/s no vácuo. Em outros meios, como a água, ela diminui de acordo com a penetrabilidade do meio). Então, da mesma maneira que você e eu nos movemos em nossa velocidade normal, esse personagem viveria em sua velocidade incrivelmente alta – o que está longe de ser uma situação agradável.

Imagine viver em um mundo onde o tempo está, literalmente, parado. Todas as pessoas do planeta não passam de estátuas para você, é possível observar as gotas de chuva suspensas no ar (como naquela cena do filme Matrix Revolutions), andar sobre a água com a mesma facilidade com que pessoas normais andam pelo asfalto. Pois é, imagine viver para sempre preso nos instantes entre os milésimos de um microssegundo!

Em se tratando de um herói, o personagem poderia salvar todas as vidas em perigo no planeta, antes mesmo que elas percebessem estar em perigo…. ou não?Afinal, ser superveloz não significa poder estar em dois lugares distantes ao mesmo tempo e fatalmente alguém irá morrer em algum momento, simplesmente porque o herói não poderia estar lá para salva-la: e agora? Como decidir para onde ir e a quem salvar?

Coisas simples como ler um livro seriam impossíveis para esse personagem, pois a transferência de momento de sua mão ao virar a página desestabilizaria as moléculas do papel, que explodiriam: sinto muito, mas é a lei da conservação de energia! Pode esquecer essa história de ler uma biblioteca inteira em uma hora, mesmo porque, para quem se move na velocidade da luz, uma hora pode ser uma vida inteira para nós…

Ou seja: supervelocidade pode estar bem longe de ser uma supervantagem… aliás, está mais para superproblemão!!!

Mas e o inverso? Como seria uma aventura de RPG que se passasse em um mundo onde coisas estranhas acontecem o tempo todo? Um lugar em que os barcos nos mares fossem atacados por gigantescas ondas que surgissem sem o menor aviso e correntes de ar com a velocidade de um tornado rumassem castigando as cidades em uma linha de destruição aleatória? Um reino em que os objetos explodissem sozinhos, onde flechas desistissem de voar no meio de sua trajetória ou uma cidade em que as balas dos revólveres sumissem de seus tambores?

A Força e a Aceleração

Já acelerar até a velocidade da luz pode nos levar a dois caminhos: se essa aceleração for instantânea, trata-se mais de um caso de potência dos músculos das pernas do que mover as pernas em supervelocidade: ao correr, o herói empurra o solo para trás de si, formando um par de ação/reação forte o suficiente para arremessa-lo para frente na velocidade da luz. O maior problema nessa situação seria um escorregão: o que usar como ponto de apoio? E o que calçar? Como respirar a essa velocidade? E, não sei quanto a vocês, mas correr me dá uma fome danada…

Mas, se a aceleração não for instantânea, então o herói deve ter reflexos rápidos o suficiente para evitar um acidente terrível, como tropeçar em uma pedra: se ele está acelerando até alcançar uma velocidade próxima (ou igual a) da luz, tropeçar significa entrar em órbita – é que existe uma coisa chamada velocidade de escape da Terra (velocidade que um foguete precisa alcançar para conseguir escapar da força de aceleração da gravidade da Terra). Aliás, e quanto aos tímpanos? O que acontece quando seu personagem quebra a barreira do som, como ele reage ao estrondo?

Sem falar no rastro de lixo que ele vai levando pelo caminho. Há o problema do suor na roupa também, mas e daí? Supervelocidade é um barato, quem liga para isso? Basta correr mais rápido que o cheiro e tudo bem…

Portanto, lembre-se dos adicionais necessários ao seu personagem se for equipa-lo com supervelocidade: um nível alto de inteligência é aconselhável, não só porque ele precisa de reflexos rápidos o suficiente para evitar que morra espatifado contra uma parede, mas principalmente devido aos efeitos relativísticos do movimento, que explicamos lá em cima: se a gente fica enjoado só de andar em montanha russa, imagine então vislumbrar toda a paisagem achatada, devido a compressão do espaço? E uma “aura protetora” também seria bem útil (a menos que você queira que ele vire churrasco, devido ao atrito com o ar!). Lembre-se que aplicar as regras do seu sistema favorito em uma aventura significa muitas vezes limitar as ações dos personagens, o que muitas vezes obriga os jogadores a forçarem a imaginação em busca de soluções inteligentes para escapar dessas limitações.

Utilizar as regras da física em sua aventura trará o mesmo resultado – e muito, mas muito mais diversão!

 


 

“Física no RPG ”
“RPG e Física. Alguma relação?”
Por Francisco de Assis Nascimento Júnior

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