Pathfinder: Pathfinder Bestiary 3 (resenha)

O final de 2011 nos trouxe o terceiro bestiário do Pathfinder RPG. O Bestiary 3 não é somente outro livro de monstros, mas também uma espécie de “Bestiário Oriental”. Dentre as belezinhas que dão as caras (algumas velhas conhecidas de D&D) estão: o baku, os imperial dragons, o bhuta, o foo creature (um template/modelo), o garuda, a jorogumo, os kami (que dominam uma região inteira de Golarion oriental), o kappa, o kirin (o “unicórnio” oriental), a bizarra manananggal, o nue, vários tipos novos de oni (o ogro mago em Pathfinder é um oni), a pennanggalen (outro template), o shinigami (conhecido dos fãs de Death Note), o tanuki, o taotieh, os soldados de terra cota, o jiang-shi (o famoso vampiro oriental chinês) e a yuki-onna (a “dama da neve” das lendas japonesas). Mesmo com esse rol de bichos, ainda tem espaço para muita, MUITA coisa extra.

De certa forma, o Bestiary 3 acabou virando uma consolidação de material visto em outros produtos da Paizo, como os Adventure Paths (as campanhas prontas que tornaram o Pathfinder famoso), o Bonus Bestiary (um livrinho especial lançando junto com o primeiro Bestiary), os Pathfinder Chronicles (especialmente a linha Monster Revisited). Exemplos dessa consolidação são o allip, a annis hag, o “remasterizado” carbuncle, a coluna cariátide, ciclopes, o derhii (gorilas alados no melhor estilo pulp), dragones, heucuva, etc. Muitos destes são monstros famosos do AD&D 1st Edition.

Mas ele sofre de um problema comum em D&D (e agora em Pathfinder): inflação de humanoides – um excesso de raças humanoides ocupando os mesmos nichos ou funções. Exemplos são o adaro (uma espécie de sereia-tubarão), o adlet (um lobo humanoide de ND 10!), catfolk, cecaelia (eu juro que é a raça da vilã da Pequena Sereia), derhii, maftet (esfinges humanoides), ratfolk, sabosan (morcegos humanoides) e os vanara (do Oriental Adventures 3.0). Eu não tenha nada contra homens-gato, -rato, -macaco, etc, mas o problema é que as entradas são curtas e acabam soando monótonas (prefiro, por exemplo, usar nezumi ao invés de homens-rato).

Minha parte favorita desse suplemento é o “new weird” – um rótulo usado normalmente para criaturas inventadas, bizarras e de poderes inesperados. Nesse campo temos o gigantesco akhult (uma orca-lobo gigante metamorfo… eu disse que era bizarro), o azruvedra (um besouro gigante jardineiro de cabeça humana), o gorynych (uma excelente recriação do dragão como um bicho realmente destrutivo), o kongomato (baseado numa lenda africana do século XIX) e o antimágico lukwata.

Para aqueles que preferem os clássicos, o Bestiary 3 não decepciona: demilich, incubus, death- ops! Quero dizer… O graveknight (com uma ótima mecânica), a flailsnail e mesmo o retorno dos famosos Animal Lords (agora como template). Há ainda uma boa dose de monstros tirados dos livros de Lewis Carroll (uma mania dos autores do Paizo da qual gosto bastante).

Outros monstros são “updates”, como ahuizotl (do Fiend Folio 3.0), o ascomoid, o berbalang (agora um undead), o dire corby, a já citada coluna cariátide, o dragão-fada, homens-escorpião, o kech (do velho AD&D 1st), o lammasu, o fungo fantasma, o shedu, mais esfinges… Até o tojanida aparece. Todos com nova arte.

Finalmente, há também mais animais, dinossauros, familiares, gigantes, linnorns (terríveis dragões primordiais de lendas escandinavas), golems, trolls, etc.

Para jogos com personagens de níveis altos, o destaque são os behemoths – enormes bichões que representam a fúria e a punição dos deuses sobre o mundo mortal (apesar da descrição eles falam Aklo, a língua dos horrores cthulianos… o que achei levemente destoante).

Em termos de extra-planares há também vários: asuras, divs, diabos, demônios, demodands (que fazem um retorno como servos de titãs, com arte e mecânica sensacionais), os kytons (da mitologia do Hellraiser) e até rakshasas (bem diferentes dos novos no Eberron).

A versatilidade do livro impressiona – os caras da Paizo conseguiram até enfiar um “pistoleiro morto-vivo” no livro, na forma do pale stranger (e antes que torçam o nariz, vale lembrar que o Ultimate Combat, também do Pathfinder, introduziu a excelente classe gunslinger).

Ainda nos aspectos positivos, um monstro que deve virar o “novo drow” dos jogadores é o Vyshkanya – uma raça humanoide, com estilo indiano, famosa por ser totalmente venenosa (bem no clima do anime Ninja Scroll).

Em termos de lendas, o livro surpreende. Temos mitos nórdicos (sleipnirs e valquírias), sumérios (humbaba), persas (peri e simurgh), africanos (popobala e o citado kongomato), ameríndios (pukwudgie e o citado ahuizotl), filipinos (siyokoy) e mesmo mitos “modernos” como o sasquatch. Isso tudo fora a enxurrada de monstros asiáticos acima. Se eu tenho uma crítica, neste ponto, é a ausência de monstros de ficção científica (especialmente as do início do Século XX) – como robôs, os marcianos de Burroughs e mesmo os grey.

Ele tem até monstros “D&Dianos” (ou seja, completamente ridículos, se você parar e pensar por um instante, mas perfeitos para matar jogadores) como o deathtrap ooze – uma gosma que pode virar quase qualquer tipo de armadilha.

Para os fãs de ângulos não-euclidianos e da obra de Lovecraft, a Paizo manteve a tradição: temos moon-beasts, vooniths, ythianos e zoogs.

Veredito? Acho que nem precisa. O Bestiary 3 é um excelente suplemento. Mistura na dose certa monstros novos e antigos, além de ter uma arte maravilhosa (o já consolidado “padrão Paizo”). De fato, a Paizo dá sinais de ter fôlego suficiente para escrever um Bestiary 4 – apesar de Erik Mona (um dos autores) já ter declarado que isto não estaria nos planos da empresa. Pessoalmente, acho isso bom. Em que pese manuais de monstros serem divertidos, D&D/Pathfinder os tem em demasia. Seria mais interessante, neste ponto, ver bestiário mais “metagame” – talvez com regras para “monstros instantâneos”, ou monstros fracos (quase os minions do D&D 4th), fora mais templates.

Como sempre, o que me impressiona, é que ninguém tenha traduzido Pathfinder no Brasil. A estrutura de lançamento, os tipos de livro lançados (fora a completa independência, caso desejado, de componentes como miniaturas e tabuleiros), fazem a receita perfeita para um bom RPG nestas bandas.

 

Notas (de 1 a 6)
Arte/Layout:
6 (capa-dura de mais de 300 páginas, bem desenhado e bem apresentado)
Texto: 6 (não inova, mas o texto é claro e sem erros)
Conteúdo: 6 (impossível não ver algo bom aqui)
Nota final: 6

Por Tzimisce

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7 Comments
  1. Apo´s uma olhada rapida ficaram duas impressões para mim, esse bestiário foi feito para indroduzir criaturas orientais ( e são muitas). E tem muitas criaturas para confundir os jogadores que acham que ja sabem tudo. Pois tem vaaarios seres cuja descrição coincide com algo conhecido, mas que é completamente diferente e outras cuja descrição e aparencia não se parecem com nada antes visto.

  2. Tem a resenha do bestiário 2?

  3. Pathfinder só mostra que a boa e velha mecânica do D&D 3.5, aliado à bela arte, conteúdo e “Update” que o Pathfinder deu, está mais vivo do que nunca. Eu jogo Pathfinder (além de Tormenta RPG e outros jogos “3.x”, como Conan e Star Wars Saga). O Bestiary 3 é muito bom e faço votos que a Paizo continue com essa excelente linha. “3.5 THRIVES”!!!!!

  4. Eu não tenho planos imediatos de comprar um segundo bestiário, mas, o 3, pela resenha, não me agradou não. Eu sei do nível da qualidade do produto, mas, não preciso de um bestiário que vomite criaturas orientais, não é o tipo de monstro que a gente usa por aqui, por isso bateu a curiosidade para saber o que tem no B2.

    De qualquer modo, a Paizo parece ter fôlego mesmo para mais bestiários sem sombras de dúvidas.

  5. Esse B3 foi feito para fechar o ciclo do mundo de Golarion e também em relação a Pathfinder – Jade Regent, onde esta aventura aborda o mundo oriental e os nordícos!.

  6. Mammmoth o Bestiary 2 é um complemento ao primeiro.Tem alguns velhos conhecidos como o bodak, brownie,azher, catoblepas, dhampir, leucrota, leprechaum, ice troll, redcap e outros, além de mais animais gigantes, mais dinossauros, mais demônios, mais mortos-vivos, mais “celestiais”, mais licantropos, e os dragões primais (mar, nuvem, cristal, magma e umbral). Além disso tem muito monstro novo como os aeons, muitos bichos estranhos, e até mesmo o chupacabra!!! Mas o destaque pra mim são os “serpentfolk” (povo serpente), claramente inspirados nos homens-serpente de Robert E. Howard (criador de Conan, Kull e Salomão Kane).

  7. Gostei muito da resenha, parabéns.

    1-) Robos até tiveram (http://paizo.com/pathfinderRPG/prd/bestiary3/clockwork.html#_clockwork), mas tenho certeza de que eles estão guardando as coisas mais alieniginas para quando for existir uma adventure path de Numeria (altas chances disso ocorrer agora com o lançamento do Distant Words). Mas recentemente li que eles planejam agora suplementos de monstros exclusivos de Golarion.

    2-) Entre os fãs o Bestiary 1 é conhecido como o “básico”, o 2 como o “planar” (muitos outsiders) e o 3 como o “monstros de outras culturas”. Supoe-se que se existir um 4 vai ser o monstros do espaço ou o monstros do fundo do mar (ou o dois).

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